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O maior escândalo do Judiciário está em andamento - 10.03.23


Texto do jornalista (J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo

 

O presidente Lula está armando o que pode vir a ser o maior escândalo em toda a história do Poder Judiciário do Brasil — a nomeação do seu advogado pessoal, Cristiano Zanin, para um dos lugares a serem abertos no Supremo Tribunal Federal. Ele ficaria lá até 2051, quando fará 75 anos e seria obrigado a se aposentar. Serão quase 30 anos como ministro do Supremo; Zanin, hoje, tem 47. Jamais, em qualquer ponto da existência do país, um presidente da República chegou a esse ponto de degeneração ao tomar uma decisão de governo. Na verdade, não há nenhum país sério em todo o mundo em que o chefe da Nação se rebaixe a fazer o que Lula, segundo o noticiário, está querendo — colocar na principal Corte de Justiça do Brasil um empregado que cuida dos seus interesses materiais e cuja independência em relação ao governo será igual a três vezes zero.
Por sua conduta prática, pelo que diz em público e pelas decisões que tem tomado, Lula mostrou nos últimos dois meses que tem tudo para fazer um governo de calamidades, o pior que o país já teve — sim, pior até do que o de Dilma Rousseff. Com essa história de Zanin, porém, ele vai além. Prova, aí, que está perdendo o controle sobre si mesmo e sobre as obrigações do seu cargo; mergulhou naquela zona mental sinistra onde os controles morais desaparecem e o indivíduo começa a ter certeza de que nada do que ele queira, absolutamente nada, pode lhe ser negado. O mundo exterior deixa de existir. Não há mais qualquer respeito pela opinião, pelos argumentos ou pela inteligência de ninguém. Não há, para Lula, nada que esteja fora dele e mereça a mínima consideração. Não entende que seu cargo envolva deveres — só tem desejos. Ele cismou, agora, que o seu advogado tem de ir para o STF; lá, naturalmente, deve continuar lhe prestando obediência. É a confusão definitiva entre questão pública e capricho pessoal. Ninguém faz uma insensatez dessas, salvo, talvez, em alguma republiqueta bananeira de terceira categoria.

 

http://https://revistaoeste.com/politica/o-maior-escandalo-do-judiciario-esta-em-andamento/
 


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A Gazeta estava certa: Lula apoia o ditador Ortega - 09.03.23


Por Marcel van Hattem

 

Não foi necessário completar os primeiros 100 dias de PT no governo para ficar comprovado que Lula mentia e a Gazeta falava a verdade: a ditadura da Nicarágua conta com o vergonhoso apoio do agora presidente da República. Recordando: um tweet desta Gazeta publicado em 22 setembro de 2022 informava que o sinal da CNN havia sido cortado no país da América Central e relembrava o apoio de Lula a Daniel Ortega em sua “reeleição" fraudulenta. A pedido do PT, a postagem foi censurada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

 

A publicação supostamente tratava-se de “reiterada campanha difamatória” contra Lula por publicar "informação evidentemente inverídica e prejudicial à honra e à imagem de candidato ao cargo de presidente da República nas eleições 2022”. Agora, diante do que especialistas da ONU classificam como violações sistemáticas dos direitos humanos praticados pelo regime de Ortega e que constituem “crimes contra a humanidade”, o governo Lula preferiu se calar em reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU em que foi apresentado documento estarrecedor com violações praticadas pelo regime de Ortega.

 

Eis as fontes de inspiração e exemplo de Lula: ditadores sanguinários, que submetem seus povos à miséria física, política e intelectual.

 

O silêncio da delegação brasileira contrastou com o repúdio de dezenas de países, governados por líderes de diferentes espectros ideológicos. Já o tweet da Gazeta deletado pelo TSE comprovou-se alvo daquilo que a diretora deste periódico, Ana Amélia Cunha Pereira Filizola, definira ainda em outubro passado bastante objetivamente como “censura pura e simples”.

 

 

Daniel Ortega é ditador em um país que não vê outro presidente da República desde o ano de 2006 (está há mais tempo no poder do que Maduro, na Venezuela, que assumiu a ditadura bolivariana em 2013). Na Nicarágua, prisões políticas são normais, a manifestação de opinião contrária é duramente reprimida e até mesmo a Igreja Católica é perseguida: em julho de 2022, dezoito freiras da ordem fundada por Madre Teresa de Calcutá foram conduzidas até a fronteira da Costa Rica e fizeram-nas atravessá-la a pé. O grupo estava na Nicarágua desde 1988 e mantinha uma creche, um lar para meninas abandonadas e vítimas de abuso e um lar para idosos. Seus crimes? Criticar os abusos do governo ditatorial e dar abrigo às vítimas do regime. Mais de duzentas ONGs já foram fechadas no país por Ortega. Ex-candidatos a presidente, jornalistas e diplomatas expulsos do país e com seus passaportes cancelados. Onde está a crítica da esquerda brasileira a esses abusos?

 

O governo de extrema-esquerda do PT prefere buscar aliados em ditadores em vez de defender a autodeterminação dos povos que consta, inclusive, da Carta das Nações Unidas de 1945.

 

Execuções sumárias, detenções arbitrárias e tortura contra dissidentes políticos na Nicarágua foram mencionadas pelo próprio governo brasileiro em declaração recente, mas não foram o suficiente para que Lula decidisse seguir o exemplo de Chile e Colômbia, governados pela esquerda e signatários do manifesto na ONU pelo fim dos crimes contra a humanidade cometidos por Ortega. Enquanto França, Alemanha, Estados Unidos e Austrália condenaram fortemente a tortura e o arbítrio, o Brasil de Lula quer uma “saída construtiva” para a crise. Sugeriu que pode receber os dissidentes no nosso país mas, na verdade, o que qualquer cidadão quer é o direito de poder se opor democraticamente ao governo em seu próprio país.

 

Sejamos francos: essa postura esconde a verdadeira face do presidente Lula, o autoritarismo de quem claramente inveja a capacidade de um aliado de praticar a opressão sobre seus opositores. Não fosse assim, Lula não seria condescendente com a violação aos direitos humanos também no Irã, ao permitir o provocativo atracamento de navios de guerra daquele país na nossa costa há poucos dias. Aliados históricos do Brasil, como Estados Unidos e Israel, manifestaram seu desconforto com veemência. Lula fez que não ouviu. No Conselho de Segurança da ONU, nossa honrosa diplomacia tropeçou na semana que passou de forma vexatória ao isolar-se com os representantes de Gabão e China quando não aderiu imediatamente à manifestação de pesar pelas vítimas da invasão russa à Ucrânia. São sinais cruéis, mas contundentes de que o governo de extrema-esquerda do PT prefere buscar aliados em ditadores em vez de defender a autodeterminação dos povos que consta, inclusive, da Carta das Nações Unidas de 1945.

 

Ex-candidatos a presidente, jornalistas e diplomatas expulsos do país e com seus passaportes cancelados. Onde está a crítica da esquerda brasileira a esses abusos?

 

Em 2004, ainda no auge da popularidade de seu primeiro mandato como presidente da República, Lula declarou que havia visitado precisamente o Gabão para aprender com seu presidente, Omar Bongo, como ficar 37 anos no poder e ainda concorrer à reeleição. Após passar mais de 40 anos no poder, Bongo faleceu em 2009. Quem o sucedeu? Rei morto, rei posto. Quem dá as cartas hoje no país é seu filho Ali, o novo ditador de uma nação que ostenta índices de repressão e opressão ao seu povo semelhantes ao da Nicarágua de Ortega, conforme o respeitadíssimo Instituto Freedom House.

 

Eis as fontes de inspiração e exemplo de Lula: ditadores sanguinários, que submetem seus povos à miséria física, política e intelectual. É com ardente orgulho que o presidente e seus seguidores apoiam o regime cubano, por exemplo, que há 64 anos domina a ferro, fogo e muita tortura e privação o povo de uma ilha subjugada a um regime de partido único, onde não há democracia nem a menor chance de oposição.

 

Esta Gazeta, portanto, sempre esteve certa ao publicar única e tão somente a verdade: Lula apoiou a reeleição de Ortega e a recusa do Brasil em apoiar o manifesto de 54 países contra seu regime demonstra conivência com os cruéis métodos de repressão na Nicarágua. O Tribunal Superior Eleitoral censurou o jornal (algo que por si só já é inconstitucional, independentemente do teor do seu conteúdo) e sonegou ao cidadão brasileiro no período eleitoral importantes elementos para decidir seu voto, algo profundamente antidemocrático.

 

Pior do que isso: ao censurar este jornal e, em sua decisão, chamar o conteúdo do tweet da Gazeta de “fato sabidamente inverídico”, o Tribunal Eleitoral contrariou explicitamente o teor da matéria afirmando que “as publicações transmitem de forma intencional e maliciosa mensagem de que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva é aliado político do ditador da Nicarágua Daniel Ortega”.

 

O ministro Paulo de Tarso Sanseverino, portanto, reforçou e acabou por legitimar a fake news petista de que Lula é um democrata. Além dos discursos públicos e dos fatos passados dos mandatos petistas, os discursos e fatos de agora, sempre eles, teimosos e renitentes, demonstram novamente o exato oposto. Mais um motivo para repudiarmos o ativismo político da Corte Eleitoral que, em vez de significar um permanente respaldo à nossa democracia, tem tomado, com infeliz e preocupante frequência, decisões que a atacam e infringem as normas constitucionais. A Gazeta estava certa e o TSE errado: Lula apoia o ditador Ortega e é conivente com suas ações criminosas.


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NERVOS À FLOR DA PELE - 07.03.23


Muito oportuno o texto -NERVOS À FLOR DA PELE-,publicado pelo jornalista Caio Gottlieb no portal https://caiogottlieb.jor.br/?p=6406. Eis:

Já causa grande preocupação em Brasília o descontrole emocional de Lula, que vem se manifestando não apenas em público nos discursos cada vez mais destemperados e raivosos, como também em reuniões palacianas onde frequentemente ele demonstra impaciência e irritação ao repreender auxiliares mais próximos.

Gente do círculo íntimo do presidente ungido pelas urnas eletrônicas aponta ao menos cinco motivos que estão se somando para fazer o chefe perder as estribeiras: a percepção de que ele não tem mais o poder quase imperial que desfrutava nos dois mandatos anteriores, sendo agora obrigado a dividir o poder com o Congresso Nacional; a constatação de que não há recursos financeiros para cumprir a agenda eleitoreira de gastos populistas irresponsavelmente prometidos durante a campanha; a pressa aflitiva para ver resultados das ações do governo e deparar-se com a letargia de uma equipe inchada para acomodar milhares de velhos e novos companheiros; a inoperância de um ministério inchado, composto majoritariamente por critérios de apadrinhamento político e não pelo preparo técnico para a função; e a necessidade de adotar a decisão impopular de reonerar os tributos sobre os combustíveis e até planejar a criação de mais impostos para custear uma mastodôntica máquina estatal e turbinar desenfreadamente as despesas públicas.

Mas o que mais vem tirando Lula do sério é o difícil desafio de ter que superar neste ano, em um cenário de incertezas, turbulências econômicas e ainda maior insegurança jurídica que ele próprio tem produzido, dois números do governo Bolsonaro anunciados nos últimos dias: a taxa anual de desemprego, que fechou dezembro em 7,9%, o menor patamar desde 2014, e o desempenho do PIB, que elevou-se a 2,9% em 2022, segundo ano seguido de crescimento, conquistas propiciadas por uma gestão presidencial que construiu um ambiente de negócios favorável à prosperidade econômica, alicerçado na valorização da livre iniciativa, no apoio e incentivo ao empreendedorismo e na defesa incondicional do direito de propriedade.

Deve ser por isso que os petistas, presos às amarras ideológicas das malogradas teses econômicas da esquerda, se referem ao legado do rival como “herança maldita”. Porque sabem que terão que trabalhar muito para tentar fazer coisa melhor. E já sabem que não vão conseguir.
 


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A previsível tragédia do novo governo: um filme em alta velocidade - 06.03.23


Por Pedro Jobim

 

Durante a campanha eleitoral de 2022, o atual presidente defendeu a revogação da Reforma Trabalhista; a adoção de metas de crescimento pelo Banco Central; e a reativação dos empréstimos do BNDEs como instrumento de fomento ao crescimento. Propôs, também, o fim da política de apreçamento a mercado dos combustíveis vendidos pela Petrobrás, e advogou, também, o fim do teto de gastos, que chamou de “estupidez”. Estas propostas estão alinhadas às  práticas implementadas pelo PT ao longo dos treze anos de seus governos, que culminaram com a queda de quase 7% do PIB e a elevação de 8pp da taxa de desemprego, entre 2015 e 2016.

 

Não deveria surpreender ninguém, portanto, que nestas primeiras semanas de mandato, o governo tenha anunciado, após a aprovação da PEC da gastança, ainda em 2022, medidas que refletem as indicações feitas durante a campanha, além de muitas outras, coerentes com o discurso do PT e com o passado do partido, de acordo com o que alertamos há cerca de um ano, neste artigo. Algumas destas medidas são o programa de valorização do salário mínimo – cujo valor, para 2023, recentemente anunciado, de R$ 1320, representa um aumento real de aproximadamente 3%; a recomposição salarial do funcionalismo; o fim do programa de privatizações, que inclui o cancelamento da concessão do porto de Santos à iniciativa privada, e até mesmo a busca da reestatização da Eletrobrás; a volta de nomeações políticas para o comando de empresas estatais, com a provável mudança na respectiva lei; a volta de empréstimos do BNDEs para países alinhados ideologicamente ao governo; a reforma da TLP, para que o “custo dos empréstimos do BNDEs seja reduzido”; o anúncio da constituição de um “Eximbank” – como se a ausência de crédito governamental esteja representando um impedimento para o crescimento das exportações e das importações do Brasil, cujo valor combinado aumentou, nos últimos 4 anos, cerca de 40%. Mais recentemente, o governo disparou  uma campanha contra o Banco Central, com o objetivo de coagi-lo a reduzir a taxa de juros,  independentemente das circunstâncias e da conveniência deste movimento. E, claro, pouco se importando para o fato de que a autarquia, desde 2021, goza de autonomia prevista em lei. A violência verbal gratuita teve, conforme esperado, apenas os efeitos deletérios de elevar as expectativas de inflação, e de levantar alguma dúvida sobre a função de reação do Banco Central.

 

Nos últimos dias, para complementar a reoneração da PIS/Cofins sobre os combustíveis, o governo anunciou a cobrança de um imposto sobre as exportações de petróleo. Entre todas as opções disponíveis para aumentar impostos, essa é muito provavelmente a mais desastrosa, do ponto de vista de eficiência e distorção econômica – este foi um dos mecanismos utilizados pela Argentina, por exemplo, para asfixiar seu setor agrícola e dele extrair o máximo de recursos possível, com as tristes consequências conhecidas. Se este imposto for instituído para outros setores exportadores, como proteínas animais e mineração, o potencial de destruição de oferta a médio prazo, redução no saldo comercial, e desorganização econômica associados podem ser imensos.

Devemos, também, esperar para breve a alteração dos estatutos da Petrobrás, que permitirá à empresa deixar de exercer a paridade dos preços de seus produtos com o mercado internacional, voltando à prática comercial dos 13 anos anteriores a 2017. O governo também anunciou que a Petrobrás voltará a investir em refinarias, e na compra de participações em outras empresas. 

 

Durante os governos anteriores do PT, a prática de preços inferiores ao de mercado; investimentos na casa de dezenas de bilhões de dólares em refinarias superfaturadas e até hoje inconclusas, como Abreu e Lima e Comperj (iniciadas durante o governo Lula), ou de plantas sucateadas, como a de Pasadena, levaram à descapitalização da empresa. Seus recursos foram sangrados ao ponto de a mesma não ter condições de honrar a data de publicação de diversos balanços, entre 2015 e 2016. 

A Petrobrás estava, àquela altura, praticamente quebrada. Como não tinha lucro, não pagava dividendos, e pouco contribuía para a arrecadação de impostos. 

Posteriormente saneada, a empresa reduziu enormemente sua dívida, e pagou, em 2022, em dividendos, cerca de R$ 230 bilhões a seus acionistas, o maior dos quais é o governo federal - que recebeu R$ 56 bilhões. Além disso, recolheu R$ 111 bilhões em royalties, e mais de R$ 220 bilhões em impostos aos governos federal e estaduais. Os recursos transferidos pela Petrobrás, sadia, ao setor público, em 2022, chegaram a um montante próximo a R$ 400 bilhões - ou 4% do PIB. A empresa contribui, desta forma, obviamente, muito mais para o crescimento da economia, e para o equilíbrio fiscal do país, do que na situação anterior.

 

Na sequência prevista de más políticas econômicas, neste mês de março, o Ministério da Fazenda deve divulgar o tão esperado novo “arcabouço fiscal”, que substituirá o teto de gastos. Em vigor desde 2016, o teto de gastos garantiu a estabilidade das despesas do governo federal nos últimos anos. Graças à sua observância, o governo anterior foi o primeiro a entregar a seu sucessor, nas últimas quatro décadas, um nível de despesa como proporção do PIB menor do que o recebido de seu antecessor. Também numa comparação internacional o teto de gastos mostrou seu valor. No período entre 2019 e 2022, em que todos os governos expandiram seus gastos, em função da pandemia, a dívida bruta do país caiu de 75% para 73% do PIB, contra elevação média de 9pp registrada na média das grandes economias*.

 

O governo já se comprometeu com políticas de valorização do salário mínimo – unidade que, na prática, indexa as receitas da previdência social - e com recomposições salariais para o funcionalismo. Juntas, as despesas com pessoal e com previdência representam cerca de 65% do total das despesas do governo federal. Uma regra de correção do salário mínimo pelo PIB - em adição à inflação do ano anterior – facilmente colocaria a correção anual real dessa fração de despesas na casa de 1,5% (considerando crescimento real do PIB de 2%, e não contemplando o funcionalismo com aumentos salariais reais). Assim, mesmo se os 35% restantes da despesa não crescessem em termos reais, o total dos gastos já cresceria em pelo menos 1%, na mesma base. 

 

Adicionalmente, outras reportagens sobre o assunto sugerem que a regra incluiria o crescimento de um grupo de despesas de custeio com o PIB per capita – que cresce, hoje, cerca de 0,7% a menos do que o PIB. Ou seja, se o PIB cresce 2%, o PIB per capita cresce 1,3%.

Despesas com saúde e educação compõem uma grande parcela dos gastos de custeio. Em linha com o discurso do governo de que gastos com saúde “não são gastos”, mas , sim, “investimento”, parece razoável imaginar que o governo tencione deixar constante em relação ao PIB per capita parte relevante da parcela dos gastos da porção de 35% do total a que nos referimos. E mais, é provável que algumas linhas de investimento sejam retiradas desta “meta” – obviamente para que possam crescer mais, e não menos, do que o agregado.

Considerando a evidente disposição do governo em ampliar os gastos, e observando os valores mínimos aqui discutidos, nos parece impossível que o arcabouço seja consistente com crescimento agregado das despesas primárias do governo inferior a 2% em termos reais, por ano - uma taxa maior do que esta, na casa de 2,5%-3,0%, nos parece mais provável. Mesmo o ritmo de 2% implicará no crescimento acelerado da dívida, considerando hipóteses realistas para o crescimento do PIB e a taxa real de juros..

 

Além disso, regras que prevejam a estabilidade de um grupo relevante de despesas em relação ao PIB são indesejáveis, e não deveriam ser objeto de consideração em qualquer regra fiscal séria. O motivo é simples. Chegada a recessão, a receita colapsa, e as despesas permanecem – o engessamento do orçamento no Brasil e a natureza social de despesas como saúde e educação, que constituem o grosso das despesas de custeio, inviabilizam sua eventual redução, quando chega a adversidade econômica. Este foi o motivo essencial do endividamento do país ter explodido, por ocasião da grande recessão de 2015-2016. 

 

Mesmo diante disso tudo, o dito arcabouço ainda teria alguma utilidade, se houvesse limitação adicional relevante à despesa que fosse decorrente de eventual descumprimento da meta. As indicações disponíveis não sugerem que este seja o caso. Ora, a eficácia e a credibilidade do teto de gastos como âncora fiscal decorreram, em grande parte, do mecanismo disciplinador de sua observância, embutido no texto da emenda constitucional que o instituiu: em caso de descumprimento, ficavam vetadas, até o fim do exercício de retorno das despesas ao limite do teto, novos concursos públicos; reestruturações de carreiras que implicassem em aumento de despesa, e medidas que provocassem reajuste de despesa obrigatória acima da inflação – o que, na prática, vedava reajustes reais ao salário mínimo. Obviamente, mesmo uma fração apenas razoável destas restrições tem chances insignificantes de integrar o novo arcabouço – perspectiva que tende a tornar sua utilidade, que já seria baixa, praticamente nula. 

 

Após o imposto sobre as exportações, qual será o próximo “equívoco” do governo Lula – para usar a terminologia preferida, mas um tanto inadequada, da maioria dos observadores da cena nacional? A lista de candidatos é gigantesca, e, pior, está sendo implementada em ritmo alucinante. Uma sequência provável envolve o retorno da pressão sobre o Banco Central em breve, assim que a iminente contração econômica materializar-se, a partir de quando, também, medidas como novas linhas de suporte a crédito, ampliação de gastos orçamentários, ou grosserias como o recém implementado imposto sobre a exportação de petróleo podem se multiplicar.

A economia do Brasil está tomando exatamente a mesma direção que trilhou durante os últimos anos da gestão anterior do partido – mas o percurso, desta vez, está sendo executado com determinação e velocidade muito maiores. O pais, envelhecido, endividado, e submetido à crescente insegurança jurídica, parece pronto a mergulhar num caminho de difícil retorno.


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O IMPRESTÁVEL - 03.03.23


Por Roberto Rachewky

 

Lula dá nova versão à velha falácia de que economia é jogo de soma zero. A pizza produzida pelo Brasil é suficiente para todos matarem a fome. Ela só está mal distribuida. Se há famélicos é porque há gordos. É o que diz Lula.

O Brasil não produz uma pizza. Não existe essa grande unidade que poderia ser fatiada e distribuída igualmente entre todos. A soma da riqueza nacional é mera estatística, é apenas a representação matemática da soma de cada pizza que pertence a cada brasileiro porque foram eles que botaram a mão na massa, de corpo e alma.

O direito de preparar, fazer e consumir a sua pizza faz parte do direito à vida que não inclui ganhar um pedaço de pizza tirado à força dos outros.

O governo arranca das mãos dos brasileiros um naco de quase metade das pizzas produzidas. Se há quem não tem pizza para si, ou é porque não faz por merecer, ou porque o governo abocanha boa parte, ou porque o governo não deixa que mais pizzas sejam produzidas, ou todos os três de uma vez.

Economia não é jogo de soma zero. A pizza dos famélicos é feita e cresce na medida que os gordos querem fazer as suas. Quando alguém quer investir para lucrar, ele irá precisar da cooperação voluntária e remunerada de outros que podem ajudá-lo na criação de valor, do qual ficarão com uma parte.

O Lula é imprestável. Adora a pizza alheia que conquista com corrupção e roubo. Se há famélicos no Brasil, ninguém é mais culpado disso do que ele e seu partido.


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BRASIL E PORTUGAL - 02.03.23


Por Percival Puggina  
 
         Provavelmente somos o único país que cultiva o desapreço por suas origens. Muitas de nossas dificuldades em lidar com questões cívicas decorrem desse vício solitário, que se propaga, por exemplo, quando nos ensinam que o Brasil foi descoberto nos azares de uma calmaria, como se fôssemos resultantes de um furo no preservativo do destino. E passamos a depreciar, por mentiras e gracejos, nossa raiz lusitana.
 
         Primeiro estado nacional moderno com a revolução do Mestre de Avis (1385), confinado entre os mouros, o oceano e Castela, o pequenino Portugal, a quem "Netuno e Marte obedeceram", sonhou com expandir - nessa ordem - "a Fé e o Império". Criou a Escola de Sagres, projetou e construiu as embarcações de que precisaria e se lançou a "mares nunca dantes navegados", numa empreitada que logo seria seguida pelos espanhóis. Desbravou a costa ocidental da África, o caminho das Índias, o Brasil, dividiu o planeta ao meio e retirou o eixo da História das mãos dos francos e dos germanos.
 
         Portugal entendia sua missão no Brasil como "povoamento". Para essa imensa tarefa, dificultada pela escassa população do reino, mandou o que podia e não podia: criminosos e presos políticos, homens de empresa, religiosos do mais alto nível, membros da corte (que nos apresentam, genericamente, como um bando de "degredados"). O Brasil, que estudamos como explorada "colônia", nunca teve esse tratamento no vocabulário e nas leis portuguesas. Quem aqui nascia, desde 1605, era cidadão de um reino cujo coração batia cada vez mais forte no Brasil. Por fim, o sonho de Martim Afonso, D. João IV e Luís da Cunha: uma coroa europeia fora da Europa (que nos relatam como o "episódio da fuga") e o depreciado Reino Unido (um modelo de comunidade política, concebida pelo talento português, que os britânicos mais tarde iriam, exitosamente, reproduzir). 
 
         Pedro I, proclamando a Independência segundo conselho do próprio pai ("antes para ti que para algum desses aventureiros") e Pedro II, deposto e exilado, levando consigo terra do Brasil para nela "repousar a cabeça", são fatos a demonstrar que nunca houve na história universal uma relação como a de Portugal com o Brasil - a maior nação católica, mestiça e ibérica do planeta. Impossível amar o Brasil sem amar Portugal.
 
         Infelizmente, a essa crise de identidade, que inicia com a depreciação de nosso nascimento e paternidade, soma-se, mais recentemente, uma visão fragmentada da nação, fracionada em múltiplas identidades e interesses em conflito. Que maldade!


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