Espaço Pensar +

HABITAT - 07.08.23


Por Roberto Rachewsky

 

Porto Alegre já foi conhecida como “a capital da vanguarda do atraso”. Subordinados a uma mentalidade anticapitalista, avessa à livre iniciativa e à propriedade privada, os políticos,que governaram a cidade por décadas, optaram pela decadência, em detrimento do desenvolvimento econômico e social. Em 1988, místicos ligados à nova seita pós-moderna do ambientalismo, promoveram uma manifestação na qual milhares de ativistas se postaram ao longo do Rio Guaíba para protestarem contra a urbanização da orla. O “abraço”simbólico, uma espécie de reza que os membros dessas seitas ideológicas costumam fazer, não funcionou e a orla foi urbanizada. Acredito que muitos desses “xiitas do meio-ambiente” se sentam nos gramados ou nas arquibancadas na orla para desfrutar do novo cartão-postal da cidade, tomandoseu chimarrão, aplaudindo o pôr-do-sol e tirando selfies,como faz todo “socialista-de-iphone”.

 

Lembro que a palavra “ecologia” deriva da junção dos termos gregos "oikos", que significa “casa”, e "logos", que quer dizer "estudo". Ecologia é um ramo da biologia, especializado em estudar a fauna e a flora que compõem o bioma de determinada região geográfica. Bioma também é conhecido por habitat. Porto Alegre situa-se entre dois biomas característicos: o Pampa, caracterizado por extensasplanícies com coxilhas cobertas por campos que cobrem a região sul da América do Sul; e, a Mata Atlântica, formada por floresta tropical que segue a costa em direção ao norte do Brasil.

 

Poderíamos dizer que entre esses dois biomas naturais, há um terceiro, uma espécie de bioma urbano, idealizado, construído e desenvolvido com o propósito de servir dehabitat aos seres humanos. Neste bioma, se destacam as áreas nas quais os porto-alegrenses “abraçaram” o rio Guaíba de verdade ao expandirem a cidade através dos aterros sobre os quais foram construídos entre outras benfeitorias, o Mercado Público, o Cais Mauá, o Gigante da Beira Rio, o Centro Administrativo, o Shopping Praia de Belas e o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, cuja remodelação provocou a ira dos seguidores da seita do ambientalismo e a paralização das obras com a cumplicidade de juízas do judiciário estadual, até que um desembargador liberou o andamento das obras, afastando o misticismo ideológico, fazendo justiça e trazendo racionalidade onde ela tem feito tanta falta.


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MÁSCARA GREGA DA TRAGÉDIA NACIONAL - 04.08.23


Por Dagoberto Lima Godoy

 

 

“Pela primeira vez, a gente está colocando o povo para dizer o que quer que a gente faça no governo e onde a gente aplica o dinheiro. E, quando tem o dedo do povo, é preciso respeitar.” (Luiz Inácio Lula da Silva - 11 de maio de 2023, Salvador-BA)

 

O Governo Lula está divulgando os resultados da consulta intitulada Brasil Participativo, realizada com grande alarde, movimentando a máquina estatal e conclamando a ajuda das organizações da sociedade civil. Com declarações como a acima epigrafada, da autoria do chefe, o governo pretende passar a ideia de que se trata de um legítimo instrumento de uma pretensa democracia participativa.

 

Nós, gaúchos, lembramos bem de ação semelhante insistentemente praticada aqui por governos do PT e utilizada (com maestria, reconheçamos) pelo ex-prefeito e ex-governador Genro para vendê-la, mundo afora, como algo sério. Mas sabemos que tudo não passava de encenações manipulativas de assembleias pequenas, dominadas por ativistas partidários, deliberando sobre verbas insignificantes e resultados não auditados.

 

Agora o governo centro-petista alardeia que “ao todo, mais de um milhão e 400 mil pessoas participaram ativamente da etapa digital” e que “por meio do Brasil Participativo, o Governo Federal está garantindo [...] que o direito à participação social, previsto na Constituição de 1988, seja de fato uma prática e conquista das pessoas.” (Trechos do Relatório da Plataforma)

 

Uma simples análise numérica põe a nu a quimera governamental: 1, 4 milhão departicipantes corresponde a um percentual de          0,7% da população, parcela absolutamente insignificante para ser apresentada como “a cara do povo brasileiro”, como faz a propaganda oficial. Com todo o respeito aos concidadãos que de bom grado tenham participado do engodo, isso mais parece a máscara de um teatro grego retratando a tragédia nacional, um país de duas caras de 60 milhões de votos. 

 

Tirante o efeito demagógico, resta esperarmos sentados pelo documento que haverá de comprovar quantas das propostas aprovadas pelo BP constarão do Plano Plurianual (PPA) 2024-2027, após tão esmagadora manifestação da vontade popular.

 


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8 de JANEIRO, A NARRATIVA E OS FATOS


Por Percival Puggina      

 

Se por um instante você deixar de ver os acontecimentos do dia 8 de janeiro como são narrados, para analisá-los como registrados pelos próprios olhos, notará enorme diferença.

 

Segundo as instituições, durante um par de horas, a nação periclitou frente ao abismo de uma ditadura fascista. No horizonte imediato, haveria fogo e ranger de dentes porque ali, a olhos vistos, transcorria o “pan demônio”, ou seja, a reunião de todos os demônios, do terrorismo ao golpismo. Felizmente, lhe dizem, a emergência foi debelada com os golpistas presos em ação fulminante e integrada dos bastiões da democracia, do estado de direito e das liberdades públicas.

 

Mil e quinhentas pessoas se envolveram na tal “intentona fascista”. Era uma ensolarada tarde de domingo. Sem banda, carro de som ou megafone, saíram do acampamento junto ao QG e marcharam em direção à Praça dos Três Poderes. Os homens, pela idade média, se militares, estariam quase todos na reserva; as mulheres eram intrépidas e ameaçadoras vovós e tias do Zap. Levavam cadeiras de praia, bandeiras, faixas. Enquanto a República vivia momentos tão decisivos, cantaram hinos, tiraram selfies, perambularam pela vastidão do despovoado local. Era uma praça sem garrafinhas de água e sem pipocas. Apenas um inesperado vendedor de algodão doce veio do nada com sua colorida mercadoria para adoçar o "golpe".

 

Em que pese tudo que se diz sobre os riscos de uma população armada, nenhuma pistolinha sequer foi vista e, menos ainda, ouvida. Cerca de 10% dos golpistas partiram para uma arremetida final contra a desguarnecida e vazia Bastilha brasiliense. Enquanto os demais, desde fora, gritavam “Não quebra! Não quebra!”, eles atacaram as vidraças republicanas e foram adiante, golpeando móveis e bens do patrimônio nacional. Dois dos três prédios invadidos já tinham sido objeto de tais crimes em outras ocasiões.

 

Enfim, pouco depois, um punhado de policiais militares do Distrito Federal surgiu e colocou todos a marchar de volta para a frente do QG onde, na manhã seguinte, embarcariam na segunda ratoeira de sua malsucedida "intentona".

 

A imensa maioria dos que foram à Praça dos Três Poderes era movida por temor. Temiam o braço pesado de um Estado que se agigantava assustadoramente sobre a nação. Acabaram comprovando nas suas vidas as razões do temor que sentiam.


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MEDO E SILÊNCIO NO ESTÁDIO


Por Fernanda Estivallet Ritter - Presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE) e membro do Pensar+  ( artigo publicado na ZH de hoje)

 

Imagine que os juízes tenham se tornado os astros do campeonato. Em vez de vermos em destaque os nomes dos craques da bola, o que temos são os árbitros nas manchetes dos jornais e da TV. É assim que está, hoje, o país do futebol. Seguindo com o trocadilho, os deputados e senadores seriam os jogadores, e a população seria a torcida.

 

Os jogadores, que deveriam cobrar o cumprimento das regras pelos árbitros, parece que esqueceram que elas existem. É como se os jogadores concordassem com mudanças nas normas do jogo do dia para a noite, sem saber se isso irá realmente garantir o bom andamento do campeonato, a competitividade e, consequentemente, uma melhor qualidade das partidas para a torcida. Talvez o que esteja em disputa seja uma vaga no próximo torneio, mas isso nunca vamos saber. A verdade é que os jogadores deveriam conhecer as regras e cobrar os árbitros para que as cumprissem, mas não se dão esse trabalho – até porque fica difícil de acompanhar tanta mudança.

 

Além disso, quem está em campo parece ter esquecido que precisa entregar o melhor para os torcedores, afinal, eles estão ali para representá-los. Passaram-se sete meses do início da competição e a torcida já esqueceu a escalação do seu time e deixou de comparecer ao estádio para exigir bons resultados.

 

O que a torcida não esquece são os nomes dos juízes. Esses dias, um deles afirmou algo que, se estivesse apitando uma partida de futebol, seria o mesmo que dizer “derrotamos o time que perdeu o campeonato”. Pode juiz declarar que torce contra um clube? Ele garante que foi mal interpretado. Mesmo tendo o VAR para verificar o lance, eles dizem que “não foi bem assim”. Depois, em poucos dias, como um passe de mágica, outro árbitro toma as manchetes para que os torcedores esqueçam a postura inadequada.

 

Agora, a torcida está com medo de cobrar os jogadores e os juízes pois pode sofrer consequências por isso: xingar o árbitro e demais autoridades virou crime mais hediondo do que o crime hediondo. E quem irá impor as penas serão os próprios juízes.

 

A torcida não sabe mais o que pode ou não fazer, como será julgada e se terá direito de se defender. Com medo, não vai mais ao estádio. Em um ato racional, os torcedores abrem mão de se manifestar em troca de manter a sua liberdade. A torcida está amedrontada e amordaçada.


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DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS, DUAS CARAS - 25.07.23


Por Percival Puggina

 

         A justificativa do governo para os projetos que apresenta com o intuito de salvar a democracia de seus inimigos fala em medidas duríssimas, ausentes do direito penal brasileiro. Não peçam coerência aos autores do projeto porque ela, muitas vezes, é um sofrido requinte moral, enquanto a hipocrisia é benfazeja camarada ou companheira.

 

Os crimes contra o cidadão não preocupam o Estado. Contudo, para o governo federal, “o tratamento penal aos crimes contra o Estado Democrático de Direito precisa ser mais severo a fim de que sejam assegurados o livre exercício dos Poderes e das instituições democráticas, o funcionamento regular dos serviços públicos essenciais e a própria soberania nacional".

 

O governo precisa fazer crer que em 8 de janeiro um punhado de policiais salvou a democracia e parou os golpistas que, no dia seguinte, embarcaram como cordeiros nos ônibus da PF. Devido a esse “terremoto” das instituições, um dos projetos altera o Código de Processo Penal para “a apreensão de bens, o bloqueio de contas bancárias e ativos financeiros de suspeitos de financiar atos antidemocráticos, em qualquer fase do processo, e até antes da apresentação de denúncia ou queixa”. (aqui)

 

Essas medidas – creiam! – procedem do mesmo grupo político que é a favor do desencarceramento. Do mesmo para o qual “no Brasil se prende demais” e para o qual “prender não resolve”. Não bastante, essa turma é detratora habitual da polícia, sonha com desarmá-la e propaga a mensagem de ser o criminoso uma vítima da sociedade, e o cidadão de bem, o verdadeiro bandido a ser desarmado.

 

Não está bom assim? Azar o seu porque a turma da cobertura, a elite da elite do Estado, que com ele se funde e confunde, vê a si mesma como quintessência de uma democracia onde o povo é paisagem inerte. Querem uma democracia sem povo, silenciosa, e um legislativo cuja maioria represente apenas os próprios interesses.

 

Primeiro, quiseram aprovar em urgência urgentíssima o controle das opiniões nas redes sociais. Depois, tentaram passar pela Câmara dos Deputados, também às pressas, o PL 2720/23 que os imunizaria contra a crítica alheia, por serem pessoas publicamente expostas. Tendo fracassado essa ideia, que beneficiaria alguns milhares de pessoas, a elite da elite política ganhou um projeto para proteção individual, com uma série de dispositivos inovadores, como se viu. Simultaneamente, a PGR quer acesso às identidades e comentários nas redes sociais de dezenas de milhões de seguidores dos perfis e canais do ex-presidente. Alguém não sabe para onde isso nos leva?

T

emos vivido sob “procedimentos excepcionais” que incluíram a censura, bloqueios de contas em redes sociais, desmonetizações, inquéritos sem fim e sem prazo, prisões políticas, desrespeito ao espaço privado, ameaças. Sempre há uma razão para excepcionalidades características dos regimes de exceção: vacinas, urnas eletrônicas, eleições, 8 de janeiro, golpismo. Agora, até uma ocorrência ainda pendente de provas no aeroporto de Roma estimula a adoção de procedimentos excepcionais. Normalizar medidas excepcionais não nos afasta do estado de exceção.

 

Um peso e uma cara para a sociedade de manés; outros para o Estado e suas excelências. Chega-se, assim, à completa inversão: uma sociedade para servir e temer o Estado que, por sua vez, é bem servido e não teme a opinião pública porque ela não se faz ouvir. Vamos para Cuba, com o bilhete mais caro, sem sair do mesmo lugar.


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Os super salários do funcionalismo público e a desigualdade que -some- quando o PT governa - 21.07.23


Por J.R. Guzzo – publicado na Gazeta do Povo

 

O debate sobre concentração de renda, uma praga tão ruim para o Brasil quanto a saúva, saiu de moda agora no governo Lula – sempre sai, porque enquanto Lula é presidente não existe concentração de renda, nem na propaganda oficial e nem na mídia de consórcio. Segundo a doutrina oficial e os apresentadores da Rede Globo, a população do Brasil foi riquíssima de 2003 a 2016, quando Dilma Rousseff foi posta para fora da presidência da República. Essa mesma população, assim que o PT deixou o governo, ficou paupérrima de uma hora para outra – culpa, segundo Lula e a maioria da mídia, do “golpista” Michel Temer e, ainda muito mais, do “genocida” Jair Bolsonaro. Chegamos, segundo Lula e o PT, a ter “33 milhões” de pessoas “passando fome”. Os números do Banco Mundial, sempre sagrados para a esquerda nacional, mostram o oposto: a pobreza extrema no Brasil, aquela que realmente dá fome, caiu para 1,9% da população em 2020, o que daria umas 4 milhões de pessoas. Foi a maior redução da miséria em toda a América Latina, mas e daí? Número que o PT não gosta não existe. Agora, com Lula de novo na presidência, pobreza e concentração de renda sumiram de novo – o salário-mínimo assinado por Lula é de 1.320 reais por mês, com o aumento de 18 reais (sim, 18 reais) que ele deu, mas não se fala mais em pobres. A dificuldade é que eles continuam existindo na vida real, e tudo o que a autoridade pública faz é para que aumentem cada vez mais.

 

Uma demonstração indiscutível dessa degeneração está numa reportagem que acaba de sair em O Estado de S.Paulo, de autoria da jornalista Bianca Lima, mostrando que 25.000 magnatas do funcionalismo público ganham acima do teto de 41.600 reais fixado para os servidores – o que é ilegal, e coloca nos bolsos dessa casta, todo os anos, 4 bilhões de reais tirados do pagador de impostos. Alguns chegam a ganhar 300.000 por mês, com o arsenal de truques legais que foram montando ao longo dos anos, e que não param nunca de aumentar. É um desvario integral, mesmo dentro do funcionalismo. Os marajás representam 0,1% dos 25 milhões de funcionários públicos, federais, estaduais e municipais que existem hoje no Brasil; seu salário médio é de 5.600 reais por mês, oito vezes menos que o teto, ou 50 vezes menos do que ganham os gatos mais gordos – a turma dos 300.000 mensais. Ou seja: não há apenas uma desigualdade demente em relação à renda da população brasileira, mas em relação aos próprios funcionários públicos.

 

Não existe forma mais primitiva de concentração de renda do que este sistema de remuneração para os barões do aparelho estatal. Lembram-se do “capitalismo selvagem”, e da sua crueldade em relação aos pobres? Pois eis ele aí à toda, mais selvagem do que nunca, e disfarçado de “políticas públicas de valorização do Estado”. O pobre que era oprimido pelos “ricos” agora é oprimido cada vez mais pelos salários alucinados do serviço público. Que maneira mais eficaz de concentrar renda, para o Estado, do que tirar dinheiro de todos - a começar pelos mais pobres, que pagam imposto a cada real gasto na sua sobrevivência – e dar para uns pouquíssimos privilegiados a serviço do próprio Estado? É claro que os marajás não são apenas os 25.000 que ganham de 40.000 reais por mês para cima. Há todos os que vêm imediatamente abaixo, e embolsam importâncias jamais sonhadas pelos brasileiros que pagam os salários de cada um deles. Ainda assim, continuam sendo a minoria da minoria da minoria. É o estatismo selvagem.

 

A esquerda, quando falava do assunto, dizia que a concentração de renda era causada pelo “capitalismo” e pelos que “ganham muito” nas suas atividades ou empresas. E que diabo o capitalismo tem a ver com os salários da casta suprema da máquina pública? A remuneração dessa gente é fabricada por eles próprios, sobretudo pelos militantes financeiros do Poder Judiciário. Juízes, procuradores, desembargadores e ministros pressionam o tempo todo o Legislativo para que aprovem leis aumentando os ganhos do judiciário. É um bazar: os deputados trocam seus votos pela proteção do Ministério Público e da magistratura, sobretudo a mais alta, nos rolos que tiverem na justiça. Para completar: os próprios juízes, depois, julgam as causas que envolvem a sua remuneração. Nunca, jamais, em tempo algum, deram uma sentença contra os interesses materiais da “classe”. Concentração sistêmica de renda é exatamente isso. O Estado brasileiro, hoje, é a maior fábrica de pobres deste país.


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