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DIREITOS HUMANOS, SÓ PARA OS "COMPANHEIROS". - 07.02.24


Por Percival Puggina

 

Estávamos num programa de debates sobre direitos humanos. Lá pelas tantas, um dos meus interlocutores falou em “dignidade da pessoa humana”. Eu os sabia marxistas e, portanto, materialistas. Perguntei-lhes, então, como um desafio: qual o fundamento da dignidade da pessoa humana?
 
Sabia que essa questão coloca o materialismo e seus adeptos num beco sem saída. Para respondê-la, o microfone correu a mesa. Falaram, falaram e nem de longe trataram do tema. Quando retornou a mim, chamei a atenção para o fato de que não haviam me dado qualquer resposta. Mencionada por materialistas, a dignidade da pessoa humana é mera retórica.
 
Ante a provocação que fiz, um deles saiu-se com esta: "O fundamento da dignidade da pessoa humana é a reciprocidade nas relações". Ora, salta aos olhos que a reciprocidade, vale dizer, a equidade nas relações e trocas interpessoais e sociais, pode ser, em alguns casos, fundamento da justiça, mas nem de longe serve como alicerce para a dignidade do ser humano. Em determinadas situações talvez seja apenas consequência.
 
Entendamos isso porque é importante. Quem vive em situação de carência mental, material ou física tem, como pessoa, dignidade igual à da mais eminente celebridade e à da mais justa e generosa das criaturas. E em quase nada pode o desvalido contribuir para a tal reciprocidade. Exigi-la em certos casos pode ser puro e duro egoísmo. Há ocasiões em que a reciprocidade, como critério de justiça, se fundamenta na dignidade da pessoa humana, mas o que nela se sustenta não lhe pode servir, também, como suporte.
 
Enfim, a questão que propus é irrespondível pelo materialismo. Se tudo é matéria, instinto e razão, o ser humano é apenas o mais complexo dos animais. E somente isso. Resulta, assim, meramente retórica toda menção que marxistas façam à dignidade humana. A prova provada me veio logo após, quando, tendo eu comentado a animalização conceitual da pessoa, se vista apenas como ser material, meu interlocutor da ocasião afirmou que "os animais também têm dignidade". Foi ou não uma rendição? Homem e bicho é tudo a mesma coisa? Animais merecem respeito, mas a eminente dignidade, fundamento das melhores constituições, quem a tem é o ser humano.
 
Há muito proponho essa questão em debates e ainda não encontrei um materialista que fizesse a respeito dela qualquer afirmação consistente. Falam sobre direitos humanos como parte de uma agenda muito mais ideológica do que efetivamente humana. O humanismo sem Deus é um humanismo desumano, reafirmou recentemente Bento XVI na encíclica Caritas in Veritate. Com efeito, somente o revelado à tradição judaico-cristã satisfaz como resposta à questão contida no primeiro parágrafo deste artigo. É por isso que nela se fundamenta toda uma civilização e o que há de melhor em sua cultura: o homem é imagem e semelhança de Deus, e objeto de Seu amor.
 
Alguém poderá dizer: “Eu sou ateu e trato com respeito os meus semelhantes”. Sei disso, no entanto, é preciso perceber: a conduta civilizada que independe de identitarismos tem base cultural. É a cultura de uma civilização que herdou princípios da preciosa fonte judaico-cristã. Reinstituir os identitarismos é, por assim dizer, um retorno ao paganismo.


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Rede Goebbels de narrativas - 29.01.24


Por Percival Puggina 

 

         Lendo sobre Goebbels, lembrei-me da conversa pública entre Lula e Nicolás Maduro. Provavelmente, Hitler também recomendava a Goebbels que construísse uma boa narrativa e garantia a seus generais que ela seria melhor do que a narrativa dos que falavam mal dele – ingleses, norte-americanos e demais Aliados. Isto, porém, é mera especulação minha.

 

Através do trabalho de Goebbels, o Führer influenciou a estética e as expressões artísticas durante o Terceiro Reich, cobrando delas resultado político, ideológico e de afirmação da superioridade ariana. Joseph Goebbels sabia a importância dos meios culturais para a política e os usou para que a sociedade alemã refletisse a doutrina do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Impôs seu projeto ao cinema, ao teatro, à música, às artes plásticas, à arquitetura e à literatura. Com uma das mãos, criou a Casa de Arte Alemã e promoveu a exibição Grande Arte Alemã; com a outra, queimou milhares de obras ditas “degeneradas” porque não cumpriam o dever de espelhar e proclamar a superioridade biológica do mesmo povo que levavam para o abismo da guerra.

 

É curioso que, apesar da multiplicidade das competências de Goebbels em várias áreas de conhecimento, sua fama reverbere apenas o sujeito que falou sobre a eficácia da mentira contada mil vezes. Merecido epitáfio! De fato, a mentira foi eixo de sua sinistra existência, em cujos atos finais matou a mulher, os seis filhos e a si mesmo.

 

Enquanto ele se dedicava a tratorar culturalmente a Alemanha de seu tempo (1933 a 1945) para a colheita de Hitler, um grupo de marxistas judeus alemães criava e começava a operar a Escola de Frankfurt (1930). Nela, filósofos e cientistas sociais como Horkheimer, Adorno, Marcuse, Fromm, Benjamin, Pollock desenvolveram ideias anticapitalistas e avessas ao comunismo soviético. Seus trabalhos, nas décadas seguintes, foram usados para atacar pelo lado esquerdo as bases da tradição judaico-cristã. Nas bibliotecas universitárias, as obras desses autores estão, ainda hoje, na altura dos olhos de quem percorre suas prateleiras.

 

Naqueles mesmos anos trágicos da década de 30 do século passado, Antônio Gramsci escreveu os famosos “Cadernos do Cárcere” (1929-1939) na casa de reclusão de Turi onde cumpriu pena até dois dias antes de morrer. Suas anotações revolucionaram as estratégias comunistas, mostrando como a manipulação dos meios culturais permitiria estabelecer a hegemonia de “uma nova forma de consciência” e capturar a ordem política nas sociedades capitalistas. Há 90 anos, portanto, o pensamento revolucionário, totalitário e desumano, já conhecia a importância política da cultura.

 

Em 1933, a Escola de Frankfurt, fugindo da perseguição nazista, migrou para os Estados Unidos. Certamente por isso aquele país disponibiliza o maior arsenal bélico à guerra cultural contra si mesmo e contra o Ocidente. “Mas e o Brasil?”, perguntará o leitor. Como tenho repetido, a esquerda brasileira “copia, traduz e cola”. Copia do idioma inglês as receitas para desagregação da sociedade e demolição do Ocidente, traduz para o português pelo Google Translator e cola em seus estudos, cartilhas e bibliografias. Serve-se, pois, do mesmo arsenal norte-americano e com ele orienta a produção das narrativas feitas sob medida para a realidade brasileira. Por isso, na falta de mato para carpir, Lula pode dar “aula de narrativas” a Nicolás Maduro.

 

A insurreição cultural em curso tem gerado no Brasil uma decadência dos padrões de convívio social. Parte essencial de sua estratégia inclui exatamente o combate à beleza, à verdade e às virtudes. Ela exige a degradação do ser humano até sua desumanização, incluindo a bandidolatria, o aborto, a cristofobia, o desamor à pátria, o relativismo moral, a liberação das drogas, etc. Pessoas das quais não se poderia esperar um compromisso com a mistificação repetem narrativas fraudulentas por condicionamento “da nova consciência” imposto pela repetição.

 

O advento das redes sociais, caóticas por natureza, rompeu a hegemonia da comunicação que se estabelecera no Brasil. Isso criou problemas para a dominação cultural esquerdista que seguia os velhos ensinamentos da Escola de Frankfurt, dos Cadernos do Cárcere e das ações com que Goebbels implantou o conjunto ideológico do nazismo na cultura do povo alemão. Todo o empenho em “regulamentar as redes sociais” quer, mesmo, impor a elas um silenciador, minimizando seu impacto.

 

A oligarquia que retomou o poder no Brasil depende, fundamentalmente, da Rede Goebbels de narrativas. Ela faz o trabalho cotidiano de bate-bate na mesma tecla que ficaria enfadonho e insuficiente se assumido pelos oligarcas em suas manifestações. Na prática, eles constroem as versões e a Rede, com habilidade e boa técnica, repete em escala nacional não mil, mas milhões de vezes, há décadas, as ideias e narrativas esquerdistas, frankfurtianas e gramscianas, prendendo-nos a um passado tão perverso quanto corrupto.

 

Os males que disseminam não proporcionam, porém, fundamento estável ao êxito que, por enquanto, comemoram.


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ERRAR É HUMANO. PERSISTIR NO ERRO É BURRICE. - 26.01.24


Por Roberto Rachewsky

 

Ser marxista convicto significa exatamente isso, optar pelo erro e não abandoná-lo nunca. É uma religião obscurantista e, como toda religião, é racionalista, mística, dogmática e falsa.

 

O erro dos marxistas já começa com um problema grave: a amoralidade. Não sabem o que significa certo ou errado porque lhes falta um padrão moral tangível, definido a partir da realidade e da lógica.

 

Pragmáticos não têm princípios, querem saber apenas dos fins que acabam justificando os meios. Marxistas não têm princípios, não têm fins e usam quaisquer meios para alcançar... nada.

 

Quem não tem princípios, não se contradiz. Está sempre bem com ele mesmo, independente do estrago que possa causar para si e para os outros.

 

Marxistas são deterministas, creem estarem imbuídos de um papel que lhes foi dado como agentes da justiça sob uma visão classista. São materialistas, querem o que não fizeram nada para criá-lo ou adquiri-lo virtuosamente. 

 

O mais calmo dos marxistas é o que melhor dissimula sua psicopatia. Todo marxista que troca a força por argumentos não passa de um medroso covarde.

 

Vejam aquele pobre-coitado que achou uma boa ideia boicotar empresas de judeus. Estúpido como os que erram e repetem seus erros, não titubeou, proclamou o mantra que moveu o austríaco do bigodinho esquisito a criar o nacional socialismo que conseguiu entregar ao mundo nada, a não ser ódio, guerra, miséria e morte.

 

Se é para boicotar judeus, por que o terrorista do Araguaia não começa boicotando o próprio marxismo, seja ele leninista ou trotskista? Afinal, Marx, Lenin e Trotsky eram judeus.

Marx se tornou ateu, apesar de ser neto de dois rabinos e de seu pai ter-se convertido junto com seus filhos ao protestantismo. Marx baseou sua ideologia no ateísmo, ele desprezava as religiões. 

 

Eu penso diferente. Marx dizia que a religião era o ópio do povo. Eu acredito que foi por isso que ele criou a sua própria, o marxismo, ideologia mística, dogmática, obscurantista e, de forma secular e kantiana, transcedental. É a religião que promete o paraíso aqui na Terra, logo ali, depois do horizonte.


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A CONTITUIÇÃO DE NARIZ QUEBRADO - 25.01.24


Por Percival Puggina
 
         "Crês que a oposição vai derrotar a esquerda com discurso sobre ética? Com teses sobre o Brasil? Com visão de história? Com críticas construtivas? Papo furado, cara!". Meu amigo continuou a descrever suas observações:  "O PT começa a trabalhar o eleitor desde que ele entra na estufa da maternidade. Lá já tem uma atendente criticando "o sistema".
 
Essa conversa aconteceu em algum momento do final do governo Dilma I e, no fundo, as coisas ainda estão muito parecidas com isso. A apropriação das mentes começa cedo e passa pelas experiências coletivistas do maternal. Engrossa nos cursos fundamental e médio quando o sistema cai nas mãos dos pedagogos marxistas, dos discípulos de Paulo Freire, do politicamente correto e dos “coletivos” étnicos ou identitários. Vai promovendo a relativização da verdade e do bem, a tolerância com tudo que está errado e a intolerância para com quem se atreve a apontar quaisquer erros na ortodoxia esquerdista. E vai adiante com o controle dos sindicatos, dos fundos de pensão (oba!), dos movimentos sociais, de uma constelação de ONGs (oba!), dos cursos de graduação e de pós, das carreiras jurídicas, dos seminários e cursos de teologia, da CNBB, da Globo, da cozinha dos jornais, do escambau. Se o convidarem para um Clube do Bolinha, leitor, em seguida você descobrirá que o Bolinha que manda é companheiro.
 
Quando eu estava desfiando a lista, meu amigo perguntou: "Os sindicatos a que te referes são de trabalhadores ou patronais?", ao que eu esclareci - "De trabalhadores, claro". Mas ele me advertiu que também as organizações patronais se aparelham quando o partido assume o controle do Tesouro e do BNDES. Imagine o leitor: temos no Brasil empresários tão petistas quanto seus operários. E arrematou: "Por motivações opostas".
 
Ninguém pode acusar o PT e sua parceria esquerdista, quando fora do governo (de qualquer governo), de fazerem oposição cordial, bem educada, respeitosa, construtiva. Como o boxeador martela o fígado do adversário, sistematicamente eles cuidam de desfigurar a imagem do opositor. Nariz, lábio, supercílio, orelha. Vencido o pleito, ocupada a cadeira, o que passam a cobrar de seus opositores? Colaboração e fidalguias. Talquinho e perfume. E até a pequena oposição que no Congresso Nacional resiste às tentações inerentes ao cabaré do Erário passa a ser acusada de radicalização e impertinência, polarização (!) e discurso de ódio.
 
Aqui, desde meu ponto de vista, o nariz quebrado que vejo é o da Constituição, o supercílio aberto é o do Estado de Direito, o lábio esmigalhado é o da liberdade de expressão e a orelha rasgada é a do direito à informação e do respeito à intimidade da vida privada.


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A polarização sadia é a chance da democracia! - 22.01.24


Por Percival Puggina
 
         Durante três décadas contadas da redemocratização (1985), passando pela Constituinte (1988), até a eleição de Bolsonaro (2018), o pensamento conservador, assim como o liberal, estiveram emudecidos. Tal silêncio era quebrado apenas, aqui ou ali, por eventuais articulistas dispersos em veículos da “grande mídia”. Entre estes, se agigantou o inesquecível e emocionante Olavo de Carvalho, com sua extraordinária obra intelectual e pedagógica. O notável mestre tomou para si o encargo de formar, desde o exílio em Richmond, na Virginia, uma geração de intelectuais brasileiros.
 
Desde 1985, eu fui um daqueles articulistas dispersos. Escrevia para jornais e participava de programas de debates. Ao longo do período, quem queria me depreciar usava os adjetivos conservador e liberal como xingamento. Eu agradecia a observação, mostrava surpresa com o esquerdismo confessado pelo interlocutor e ia em frente.
 
O teatrinho das tesouras montado pelo PT e pelo PSDB, ou seja, por Lula e FHC, obstruiu a propagação e a organização de movimentos conservadores e liberais, disponibilizando à esquerda todo o tempo do mundo para submeter a nação ao pesadelo gramsciano – a hegemonia do espaço cultural. Simultaneamente, porém, as décadas de encenação proporcionaram o tempo de observação necessário para que a verdade fosse percebida, mesmo no denso nevoeiro das narrativas: levavam-nos aos portais do inferno descrito por Dante. Dezenas de milhões de brasileiros se descobriram conservadores, liberais, de direita!
 
Nesse momento, Bolsonaro emerge da cena política com meia dúzia de ideias cuja validade a nação reconheceu. A partir daí, como fogo morro acima, o povo o pôs nos ombros e o levou às ruas e à presidência.
 
Os anos subsequentes são de passado bem recente. Não é preciso rememorar os meios e os caminhos pelos quais os magos da esquerda – cartolas na cabeça, com prestidigitações, panos vermelhos, sigilos, coloridas explosões e baforadas de fumaça – restauraram sua hegemonia.
 
Hoje, sabemos que o Brasil é parte do grande teatro onde se desenrola a guerra contra o Ocidente. Toda uma cultura e civilização – não por acaso as mais elevadas que a humanidade já conheceu – está sob ataque. O inimigo não é externo, mas interno. Seu plano de poder precisa promover o suicídio do Ocidente, com a morte de seus princípios e valores fundantes! O confronto é cultural, é político e se trava por humanidade, liberdade e democracia.
 
Quem comanda o que está em curso não quer que você perceba. Quer você submisso na senzala. Não o quer ciente e consciente, tendo a audácia de se posicionar contra progressistas, iluministas, socialistas, comunistas, Nova Ordem Mundial ou lá o que for que se reúna nas Casas Grandes da Praça dos Três poderes. Ou em Davos.
 
A oligarquia brasileira, embora não tolere apaziguamento e despeje discursos de ódio e xingamentos aos microfones, condena a polarização como se não devesse haver confronto ao que está em curso. Mas é disso que necessitamos! Só a polarização bem definida e só o antagonismo esclarecido, atuante e organizado podem restaurar a democracia no Brasil. A polarização sadia é a chance da democracia!


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