Por Roberto Rachewsky
Errar é humano. A gente erra, vê o estrago, muda de ideia e faz o que deveria ter sido feito em primeiro lugar. É assim que age quem tem a virtude da racionalidade. O problema é que sendo a racionalidade uma virtude, ela precisa ser conquistada. Não sendo, sua falta se torna um vício, um pecado. Estou falando do pecado da irracionalidade, característica que afeta os animais em geral e alguns espécimes da raça humana. Esses, erram mas acham que acertam, o que por si só já faz parte do erro. Agem e destroem valor. Como são niilistas, destruir para eles é uma virtude. É por isso que não se discute de igual para igual com essas figuras.
O objetivo dos irracionais não é encontrar a verdade, não é fazer o certo com base na realidade objetiva, no que é razoável, no que é lógico. Pelo contrário, querem libertar seu subconsciente sem nenhum filtro moral que não o do mal aplicado às relações sociais que nunca tem em vista a cooperação e as trocas livres, espontâneas e voluntárias. Altruístas, os irracionais recorrer ao misticismo, à fé ou à intimidação física ou psicológica. De que outra maneira conseguiriam convencer alguém que a melhor alternativa para ela é o auto-sacrifício? Que colocar o interesse alheio acima do autointeresse é virtuoso quando sabemos que isso contraria a natureza egoísta do ser humano. Ser egoísta não significa sacrificar os outros. Sacrifício é o que altruístas defendem.
Altruísmo não dá alternativas salutares aos seus praticantes que, ou são masoquistas ou sádicos. Altruísmo se opõe à natureza humana e provamos isso quando sabemos que se comermos um prato de comida para matar a nossa fome estaremos sonegando este prato de comida aos outros. O ideal do altruísta, como lembra Ayn Rand, é visitar uma aldeia de canibais. Que ato virtuoso, ser devorado para saciar a fome daqueles que vivem do sacrifício alheio como todos esses coletivistas estatistas que conhecemos. Esses não nos devoram como canibais, são um pouco mais sofisticados. No entanto, em essência, seguem a mesma moralidade dos antropófagos. Se tiverem que matar para terem o que é nosso por direito e justiça, o farão.
O Abaporu de Tarsila do Amaral, à revelia da autora, representa bem esses homens de cabeça pequena que não pensam e dão ênfase à força física que lhes serve de sustento. São os que cultuam slogans como "A União faz à Força", assim, com crase mesmo, que é o último, quando não o primeiro e inexorável recurso dos sindicalistas. Ou então, "O petróleo é nosso", que instigam os nacionalistas a violarem a propriedade privada e o livre acesso aos mercados e aos capitais internacionais. Quem sabe, "Tudo pelo Social", arquétipo populista e demagógico que salta como cuspe da boca de todo canibal com mandato político obtido pela via democrática ou não. Vivemos a era do Abaporu. Somos governados por antropófagos de cabeça pequena e pés grandes que querem transformar o Brasil numa imensa caatinga.
Por Percival Puggina
Mas é infâmia de mais!... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares.
Castro Alves, Navio Negreiro
As perguntas que farei perturbam meu sono e são comuns ao cotidiano de milhões de cidadãos brasileiros. Como não ser assim, se a nação se dilacera e degenera, o sectarismo se empodera, a burrice impera, o crime prospera, a política se adultera, a Têmis se torna megera e os omissos somem ou dormem? Só eu acordo nas madrugadas pensando nesses motivos pelos quais 41% dos brasileiros (1), entre os quais 55% dos nossos jovens (2), só não desistem do Brasil por não terem condições financeiras de arrancar as folhas de um passado sem esperança e redigir seu futuro noutro lugar?
Os responsáveis por isso conseguem dormir? A nação se inquieta pela apatia de representantes omissos que tanto lhe custam. Como é insignificante, aliás, a relação custo/benefício, somados o mal que fazem e o bem que deixam de fazer! Como conciliam o sono e a culpa? A que destroços, a cupidez e a conveniência pessoal em condomínio com a injustiça reduziram tais almas? Elas simplesmente somem dos plenários quando, da tribuna, algum de seus pares lhes cobra pela apatia e a destruição das instituições!
No entanto, a realidade que vemos é sinistra. O Estado se agiganta perante a sociedade a que deveria servir. A juventude recebe uma educação de qualidade vexatória, últimos lugares nos rankings internacionais do PISA e da OCDE; a cultura nacional está degradada e o próprio QI dos brasileiros, por falta de estímulos, pode estar em regressão. Há décadas, os discípulos de Paulo Freire controlam e tornam cada vez mais sectária a educação nacional, transformando-a numa fábrica de ignorantes miseráveis, com as bênçãos do Estado. Quem escapa dessa máquina de moer cérebros prospera e vira réu no tribunal da desigualdade!
Resultado: chegamos a setenta e cinco milhões de seres humanos dependendo da assistência social do Estado. Do Estado? Sim, sim, o ente causador de todo esse mal aceita sem qualquer constrangimento posar de benfeitor. A pergunta que poucos fazem é: “Se o culpado não for o Estado, quem haveria de ser?”. Certamente a culpa não pode ser imputada a quem decide investir, correr riscos, gerar empregos, pagar salários e ser extorquido com impostos, taxas, contribuições. Essa pergunta derruba século e meio de mentiras sobre os sucessos do socialismo.
Eu quero o meu país de volta! Eu o vi antes, imperfeito, mas humano. Não era uma Suíça, mas era um país amável. O Brasil tinha boa reputação. Hoje é um país de má fama. Eu o quero moderno, mas com aqueles bens do espírito e naquele ânimo nacional que se comoveu e se moveu solidário quando as águas cobriram o abismo no Rio Grande do Sul. Eu quero de volta a energia inusitada que, durante oito anos, saudoso do “meu Brasil brasileiro, mulato inzoneiro”, me levou para cima dos carros de som a verberar corruptos, defender a liberdade e resistir à perdição de uma nação.
Impossível não evocar os versos finais de Navio Negreiro, esbravejados por Castro Alves, se vejo avançar o poder da Casa Grande, a se refestelar em folguedos e extravagâncias, enquanto garroteia direitos de cidadãos outrora livres.
(1)
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/polarizacao-politica-41-dos-brasileiros-mudariam-de-pais-se-pudessem-diz-quaest/
(2)
https://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2022/08/17/55percent-dos-jovens-brasileiros-deixariam-o-pais-se-pudessem-diz-pesquisa.ghtml