Por Silvio Sibemberg
Ouvi de um não judeu que nós, os judeus, estamos muito quietos em relação aos acontecimentos e à forma como os veículos de comunicação e alguns políticos de esquerda estão tentando relativizar a barbárie ocorrida em 7 de outubro em Israel.
Devemos nos manifestar de todas as formas contra esse falso distanciamento. Ele tem razão - fomos vítimas de um atentado terrorista sem precedentes e de forma gratuita. Mataram pais na frente de filhos e filhos na frente de pais. Degolaram crianças, estupraram grávidas e trucidaram idosos. Nada, absolutamente nada, pode justificar insanidade dessa magnitude. Temos sim que fazer ouvir nossas vozes e esclarecer os não judeus que têm posições do tipo: "não é comigo, eles que se entendam." Estão errados. Amanhã esses fanáticos matarão qualquer um que não esteja de acordo com suas crenças ensandecidas. Se hoje somos nós os alvos dessa gente, tenham certeza de que amanhã serão quaisquer outros grupos humanos civilizados. A faxina étnica que os alemães quiseram fazer no Holocausto tinha como semente a mesma maldade que acomete esses terroristas do Hamas.
Querer manter equidistância nesse tipo de tragédia é endossar o comportamento desses terroristas. Seres humanos civilizados não podem fazer de conta que não é com eles. Não é possível que os valores morais e éticos que construíram o estágio de civilização que alcançamos sejam esquecidos como se uma epidemia de amnésia grassasse pelo planeta. Esse tipo de insanidade é cega e busca vítimas de forma indistinta. Esse mesmo grupo matou, estuprou, queimou e jogou pessoas – seus próprios parentes - de cima de telhados em Gaza pela singela razão de não professarem seu fanatismo religioso.
Não importa em que lugar do planeta, esse tipo ignora vidas que não estejam de acordo com seus enlouquecidos credos - acreditam que precisam acabar com a vida de quem não concorde com suas verdades. São piores que os animais irracionais - esses só matam seus semelhantes pela disputa da liderança do bando e a outros seres, por fome. Não se pode ignorar a diferença abismal entre o bem e o mal como se nossos valores judaico-cristãos tivessem perdido o sentido. Precisamos lutar com todas as forças para aniquilar ou transformar irreversivelmente essas mentes deturpadas. Não querer que o outro viva por ser judeu é de um absurdo inconcebível. É impossível entender ou tentar relativizar os valores dessa gente, pois funcionam com outra métrica - não cabe contemporização.
Entre nós judeus temos uma máxima: em uma mesa de dez, se um se declarar antissemita e os outros nove não se levantarem, na verdade temos dez antissemitas na mesa.
Por Percival Puggina
Mas é infâmia de mais!... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares.
Castro Alves, Navio Negreiro
As perguntas que farei perturbam meu sono e são comuns ao cotidiano de milhões de cidadãos brasileiros. Como não ser assim, se a nação se dilacera e degenera, o sectarismo se empodera, a burrice impera, o crime prospera, a política se adultera, a Têmis se torna megera e os omissos somem ou dormem? Só eu acordo nas madrugadas pensando nesses motivos pelos quais 41% dos brasileiros (1), entre os quais 55% dos nossos jovens (2), só não desistem do Brasil por não terem condições financeiras de arrancar as folhas de um passado sem esperança e redigir seu futuro noutro lugar?
Os responsáveis por isso conseguem dormir? A nação se inquieta pela apatia de representantes omissos que tanto lhe custam. Como é insignificante, aliás, a relação custo/benefício, somados o mal que fazem e o bem que deixam de fazer! Como conciliam o sono e a culpa? A que destroços, a cupidez e a conveniência pessoal em condomínio com a injustiça reduziram tais almas? Elas simplesmente somem dos plenários quando, da tribuna, algum de seus pares lhes cobra pela apatia e a destruição das instituições!
No entanto, a realidade que vemos é sinistra. O Estado se agiganta perante a sociedade a que deveria servir. A juventude recebe uma educação de qualidade vexatória, últimos lugares nos rankings internacionais do PISA e da OCDE; a cultura nacional está degradada e o próprio QI dos brasileiros, por falta de estímulos, pode estar em regressão. Há décadas, os discípulos de Paulo Freire controlam e tornam cada vez mais sectária a educação nacional, transformando-a numa fábrica de ignorantes miseráveis, com as bênçãos do Estado. Quem escapa dessa máquina de moer cérebros prospera e vira réu no tribunal da desigualdade!
Resultado: chegamos a setenta e cinco milhões de seres humanos dependendo da assistência social do Estado. Do Estado? Sim, sim, o ente causador de todo esse mal aceita sem qualquer constrangimento posar de benfeitor. A pergunta que poucos fazem é: “Se o culpado não for o Estado, quem haveria de ser?”. Certamente a culpa não pode ser imputada a quem decide investir, correr riscos, gerar empregos, pagar salários e ser extorquido com impostos, taxas, contribuições. Essa pergunta derruba século e meio de mentiras sobre os sucessos do socialismo.
Eu quero o meu país de volta! Eu o vi antes, imperfeito, mas humano. Não era uma Suíça, mas era um país amável. O Brasil tinha boa reputação. Hoje é um país de má fama. Eu o quero moderno, mas com aqueles bens do espírito e naquele ânimo nacional que se comoveu e se moveu solidário quando as águas cobriram o abismo no Rio Grande do Sul. Eu quero de volta a energia inusitada que, durante oito anos, saudoso do “meu Brasil brasileiro, mulato inzoneiro”, me levou para cima dos carros de som a verberar corruptos, defender a liberdade e resistir à perdição de uma nação.
Impossível não evocar os versos finais de Navio Negreiro, esbravejados por Castro Alves, se vejo avançar o poder da Casa Grande, a se refestelar em folguedos e extravagâncias, enquanto garroteia direitos de cidadãos outrora livres.
(1)
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/polarizacao-politica-41-dos-brasileiros-mudariam-de-pais-se-pudessem-diz-quaest/
(2)
https://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2022/08/17/55percent-dos-jovens-brasileiros-deixariam-o-pais-se-pudessem-diz-pesquisa.ghtml