Por J.R. Guzzo
Em qualquer lugar do mundo, até na China, um dos critérios mais consagrados para se avaliar o sucesso, a competência e a qualidade de uma empresa é a sua capacidade de distribuir lucros aos acionistas. A companhia que fecha o ano com lucro, e com suas ações em alta no mercado de valores, é vitoriosa; se distribui dividendos aos que investiram nela, é uma campeã. No Brasil do PT essa realidade econômica foi revogada.
O presidente da República, aqui, diz e repete que pagar os dividendos que a lei, a lógica econômica e as regras contratadas determinam que se pague é praticamente um crime. Os lucros que a Petrobras pretendia distribuir para remunerar seus investidores pelos resultados que teve no último ano, foram bloqueados por Lula – para ser aplicados em “investimentos”, segundo diz.
Reagindo aos seus ressentimentos, rancores e despeitos, Lula detesta que o cidadão brasileiro seja acionista de qualquer coisa.
Não tem o direito legal de fazer isso, mas tem a força dentro da Petrobras para congelar os dividendos – e conseguiu com esse seu último ataque, num golpe só, exterminar 55 bilhões de reais no valor das ações da empresa. É assim que o presidente da República funciona. Pessoalmente, e reagindo aos seus ressentimentos, rancores e despeitos, Lula detesta que o cidadão brasileiro seja acionista de qualquer coisa; acionista de empresa estatal, então, deixa o homem doente.
Não suporta também acionista de empresa que não é mais estatal, como a Vale – quer mandar na companhia como manda numa repartição pública. O resulto prático disso é que Lula não vê o acionista da Petrobras como alguém que confiou no seu sucesso e colocou lá o próprio dinheiro. Vê como um inimigo que deve ser liquidado.
Deveria ser um motivo de orgulho para a Petrobras contar com a confiança dos investidores nacionais e estrangeiros – é a principal prova do seu êxito profissional como empresa dedicada à produção de petróleo. Mas a única reação de Lula e dos extremistas que ele tem em volta de si é ficar com raiva. O inimigo real, para todos eles, é “o capitalismo” – e uma empresa estatal com acionistas privados, mesmo que não interfiram em nada na administração e apenas sejam remunerados pelo dinheiro que aplicaram nela, está “fazendo o jogo capitalista”. É uma alucinação. Mas é este, exatamente, o Brasil que Lula quer.
É um país que vive de uma coleção de ideias mortas. “O Estado”, continuam a repetir após 100 anos de fracasso comprovado de todas as suas propostas, é o Deus que vai fazer o Brasil crescer – só ele e os seus profetas, com a assistência do povo na função de pagador de impostos. A teoria é lucrativa para eles – como Deus é infalível, tudo o que fazem só pode dar certo. O “Estado brasileiro” de Lula não consegue prender dois bandidos que fugiram de uma de suas prisões de segurança máxima; é uma humilhação de primeira classe. Mas quer “gerar riqueza”, “distribuir renda” e transformar o Brasil em “potência mundial”. É um conto do vigário gigante.
Por Percival Puggina
Mas é infâmia de mais!... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares.
Castro Alves, Navio Negreiro
As perguntas que farei perturbam meu sono e são comuns ao cotidiano de milhões de cidadãos brasileiros. Como não ser assim, se a nação se dilacera e degenera, o sectarismo se empodera, a burrice impera, o crime prospera, a política se adultera, a Têmis se torna megera e os omissos somem ou dormem? Só eu acordo nas madrugadas pensando nesses motivos pelos quais 41% dos brasileiros (1), entre os quais 55% dos nossos jovens (2), só não desistem do Brasil por não terem condições financeiras de arrancar as folhas de um passado sem esperança e redigir seu futuro noutro lugar?
Os responsáveis por isso conseguem dormir? A nação se inquieta pela apatia de representantes omissos que tanto lhe custam. Como é insignificante, aliás, a relação custo/benefício, somados o mal que fazem e o bem que deixam de fazer! Como conciliam o sono e a culpa? A que destroços, a cupidez e a conveniência pessoal em condomínio com a injustiça reduziram tais almas? Elas simplesmente somem dos plenários quando, da tribuna, algum de seus pares lhes cobra pela apatia e a destruição das instituições!
No entanto, a realidade que vemos é sinistra. O Estado se agiganta perante a sociedade a que deveria servir. A juventude recebe uma educação de qualidade vexatória, últimos lugares nos rankings internacionais do PISA e da OCDE; a cultura nacional está degradada e o próprio QI dos brasileiros, por falta de estímulos, pode estar em regressão. Há décadas, os discípulos de Paulo Freire controlam e tornam cada vez mais sectária a educação nacional, transformando-a numa fábrica de ignorantes miseráveis, com as bênçãos do Estado. Quem escapa dessa máquina de moer cérebros prospera e vira réu no tribunal da desigualdade!
Resultado: chegamos a setenta e cinco milhões de seres humanos dependendo da assistência social do Estado. Do Estado? Sim, sim, o ente causador de todo esse mal aceita sem qualquer constrangimento posar de benfeitor. A pergunta que poucos fazem é: “Se o culpado não for o Estado, quem haveria de ser?”. Certamente a culpa não pode ser imputada a quem decide investir, correr riscos, gerar empregos, pagar salários e ser extorquido com impostos, taxas, contribuições. Essa pergunta derruba século e meio de mentiras sobre os sucessos do socialismo.
Eu quero o meu país de volta! Eu o vi antes, imperfeito, mas humano. Não era uma Suíça, mas era um país amável. O Brasil tinha boa reputação. Hoje é um país de má fama. Eu o quero moderno, mas com aqueles bens do espírito e naquele ânimo nacional que se comoveu e se moveu solidário quando as águas cobriram o abismo no Rio Grande do Sul. Eu quero de volta a energia inusitada que, durante oito anos, saudoso do “meu Brasil brasileiro, mulato inzoneiro”, me levou para cima dos carros de som a verberar corruptos, defender a liberdade e resistir à perdição de uma nação.
Impossível não evocar os versos finais de Navio Negreiro, esbravejados por Castro Alves, se vejo avançar o poder da Casa Grande, a se refestelar em folguedos e extravagâncias, enquanto garroteia direitos de cidadãos outrora livres.
(1)
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/polarizacao-politica-41-dos-brasileiros-mudariam-de-pais-se-pudessem-diz-quaest/
(2)
https://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2022/08/17/55percent-dos-jovens-brasileiros-deixariam-o-pais-se-pudessem-diz-pesquisa.ghtml