Por Pedro Saraiva - associado do IEE
Com a queda da popularidade do governo e o aumento generalizado dos preços, tornam-se evidentes as consequências de termos um presidente e uma equipe de ministros pouco versados em economia, especialmente quando se trata de inflação. Milton Friedman já alertava: "A inflação é sempre e em todo lugar um fenômeno monetário". Ou seja, ela é causada pelo aumento da oferta de dinheiro na economia, e não pelos preços em si. Estes sobem como consequência, não como causa.
A ignorância sobre o tema fica evidente quando o presidente Lula sugere fazer reuniões com empresários, em vez de com seus próprios ministros, para encontrar uma solução para a alta dos preços. Perceba: quando a inflação é entendida como expansão monetária, a responsabilidade recai sobre o governo; mas quando é confundida com a alta de preços, a culpa pode ser convenientemente atribuída ao setor produtivo.
Porém, ainda que pareça ignorância, existe a possibilidade de que os governantes compreendam o fenômeno inflacionário e apenas optem por ignorá-lo. Afinal, embora corroa o poder de compra da população, a inflação, entendida como aumento da oferta monetária, serve como uma fonte de recursos para o Estado. Trata-se de um imposto invisível, que permite ao governo gastar mais sem precisar recorrer ao Congresso ou enfrentar a impopularidade de um novo tributo.
Sendo o primeiro a ter acesso ao novo dinheiro, o governo consegue utilizá-lo antes que os preços da economia tenham se ajustado. Além disso, há outro benefício silencioso: à medida que os preços sobem, os impostos incidentes sobre o consumo, como o ICMS ou o ISS, também geram mais arrecadação. Isso ocorre porque a base de cálculo desses tributos é o preço final do produto. Ou seja, o aumento do preço final automaticamente eleva a arrecadação.
Como a maior parte das despesas do governo sofre apenas reajustes anuais, a arrecadação extra gerada pela inflação cria um ganho temporário para o Estado. Quando o momento de correção chega, o círculo vicioso pode ser reiniciado. Sem meios de proteger sua renda, os mais pobres veem seu poder de compra derreter. E, ironicamente, ao invés de redistribuir riqueza dos ricos para os pobres, o governo inverte o jogo: tira dos pobres para manter seus próprios privilégios.
Artigo publicado originalmente no Jornal do Comércio em 14/04/2025