Por Roberto Rachewsky (artigo publicado em Zero Hora)
Gritar fogo num cinema lotado não pode ser proibido. Quando alguém se calar perante um princípio de incêndio, possivelmente, todos que lá estiverem acabarão sofrendo por conta das chamas, da fumaça ou do atropelo.
Gritar fogo neste caso, é um ato heroico. Arriscar-se a dar um aviso desses, podendo causar o dano que gostaria de ter evitado, caso tenha interpretado erroneamente a situação, pode ter consequências indesejadas para quem ousou ser herói.
No exercício da liberdade, o ser humano age de acordo com suas escolhas. Como não somos infalíveis, nem oniscientes, muitas vezes erramos. Quem erra na avaliação da realidade, mas agiu de boa fé, pode ser inocentado. Por outro lado, quem agiu dolosamente, deve ser considerado culpado, depois de cumprido o devido processo legal.
Ora, agir criminosamente não tem nada a ver com o exercício da liberdade que, por definição, é a ausência de coerção no contexto social. Liberdade e coerção são necessariamente excludentes. A força só é moral quando usada para retaliar contra os que suprimiram a liberdade em primeiro lugar.
O que isso tem a ver com a Lei da Censura?
Simples. O Brasil está pegando fogo. As estruturas do Estado, que deveriam zelar pela integridade da sociedade, estão sendo consumidas pelas chamas.
Estamos ardendo como lenhas para benefício dos que monopolizam os meios que deveriam servir para combater os incendiários. Os que governam perderam todos os freios. Os brasileiros conscientes vêem as chamas e gritam: “Fogo!”.
Quem se aproveita do caos, quer calá-los até que o processo de destruição das instituições que fariam do Brasil uma sociedade segura, livre, próspera e civilizada esteja concluído.
As instituições que defendem a justiça, a livre iniciativa, a propriedade privada, o Estado de Direito, constituído por uma Carta Magna que limita o poder do governo e fundamenta leis que transformariam o Brasil no livre-mercado, o mercado livre da violência, estão sendo incineradas para alegria das máfias.
Não sejamos ingênuos. Regular redes sociais, não tem nada a ver com o mau uso da liberdade de expressão. O único objetivo é auto evidente: satisfazer o desejo caprichoso de quem usurpa do poder que tem, para calar quem, com coragem, expressa opiniões divergentes ou verdades inconvenientes que desnudam os poderosos de plantão.
Por Percival Puggina
Mas é infâmia de mais!... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares.
Castro Alves, Navio Negreiro
As perguntas que farei perturbam meu sono e são comuns ao cotidiano de milhões de cidadãos brasileiros. Como não ser assim, se a nação se dilacera e degenera, o sectarismo se empodera, a burrice impera, o crime prospera, a política se adultera, a Têmis se torna megera e os omissos somem ou dormem? Só eu acordo nas madrugadas pensando nesses motivos pelos quais 41% dos brasileiros (1), entre os quais 55% dos nossos jovens (2), só não desistem do Brasil por não terem condições financeiras de arrancar as folhas de um passado sem esperança e redigir seu futuro noutro lugar?
Os responsáveis por isso conseguem dormir? A nação se inquieta pela apatia de representantes omissos que tanto lhe custam. Como é insignificante, aliás, a relação custo/benefício, somados o mal que fazem e o bem que deixam de fazer! Como conciliam o sono e a culpa? A que destroços, a cupidez e a conveniência pessoal em condomínio com a injustiça reduziram tais almas? Elas simplesmente somem dos plenários quando, da tribuna, algum de seus pares lhes cobra pela apatia e a destruição das instituições!
No entanto, a realidade que vemos é sinistra. O Estado se agiganta perante a sociedade a que deveria servir. A juventude recebe uma educação de qualidade vexatória, últimos lugares nos rankings internacionais do PISA e da OCDE; a cultura nacional está degradada e o próprio QI dos brasileiros, por falta de estímulos, pode estar em regressão. Há décadas, os discípulos de Paulo Freire controlam e tornam cada vez mais sectária a educação nacional, transformando-a numa fábrica de ignorantes miseráveis, com as bênçãos do Estado. Quem escapa dessa máquina de moer cérebros prospera e vira réu no tribunal da desigualdade!
Resultado: chegamos a setenta e cinco milhões de seres humanos dependendo da assistência social do Estado. Do Estado? Sim, sim, o ente causador de todo esse mal aceita sem qualquer constrangimento posar de benfeitor. A pergunta que poucos fazem é: “Se o culpado não for o Estado, quem haveria de ser?”. Certamente a culpa não pode ser imputada a quem decide investir, correr riscos, gerar empregos, pagar salários e ser extorquido com impostos, taxas, contribuições. Essa pergunta derruba século e meio de mentiras sobre os sucessos do socialismo.
Eu quero o meu país de volta! Eu o vi antes, imperfeito, mas humano. Não era uma Suíça, mas era um país amável. O Brasil tinha boa reputação. Hoje é um país de má fama. Eu o quero moderno, mas com aqueles bens do espírito e naquele ânimo nacional que se comoveu e se moveu solidário quando as águas cobriram o abismo no Rio Grande do Sul. Eu quero de volta a energia inusitada que, durante oito anos, saudoso do “meu Brasil brasileiro, mulato inzoneiro”, me levou para cima dos carros de som a verberar corruptos, defender a liberdade e resistir à perdição de uma nação.
Impossível não evocar os versos finais de Navio Negreiro, esbravejados por Castro Alves, se vejo avançar o poder da Casa Grande, a se refestelar em folguedos e extravagâncias, enquanto garroteia direitos de cidadãos outrora livres.
(1)
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/polarizacao-politica-41-dos-brasileiros-mudariam-de-pais-se-pudessem-diz-quaest/
(2)
https://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2022/08/17/55percent-dos-jovens-brasileiros-deixariam-o-pais-se-pudessem-diz-pesquisa.ghtml