CONVERSA INFORMAL
Ontem à noite, no Holiday Inn de Sandton City, aqui em Johanesburgo, conversei demoradamente com um grupo de sul-africanos curiosos e interessados no Brasil. Falamos bastante sobre os nossos países, principalmente, de Copa do Mundo e economia.
O BRASIL E A FIFA
No quesito Copa de 2014, todos se mostravam muito curiosos. Queriam saber a respeito da notícia (que circulou o mundo todo) de que o Brasil está ameaçado de não sediar o Mundial. Pediram que dissesse, em detalhes, quais os pontos de divergência entre o governo brasileiro e a FIFA.
MEIA-ENTRADA
Antes de responder, para poder explicar melhor o assunto, perguntei se na África do Sul existe a tal de meia-entrada para cinemas, circos e/ou casas de espetáculos. Como fizeram cara de espantados (com toda razão, aliás) informei que coisas do tipo só cabem em países habitados por governos intervencionistas e/ou povo ignorante, caso do Brasil, infelizmente.
PAGAR O DOBRO
Diante da minha observação, o assunto mereceu boa discussão. Contudo, por unanimidade, todos estavam convencidos de que, para privilegiar estudantes e seniores (mais de 60 anos), a metade das plateias precisariam pagar em dobro o valor dos ingressos.
BOQUIABERTOS
Os sul-africanos, entretanto, ficaram ainda mais confusos e boquiabertos quando, para arrematar, informei que no Brasil é assim: a lei é tão estúpida a ponto de proibir que todos paguem a metade do valor dos ingressos. Só alguns têm direito a este benefício. Pode? Um dos integrantes do grupo perguntou se o governo vai parar por aí ou se pretende expandir tal privilégio para outras atividades, como restaurantes, táxis, clínicas particulares e lojas de departamentos. A minha resposta: - De governos intervencionistas devemos esperar qualquer coisa.
LEIS DA FIFA
Quando já me preparava para tratar do outro ponto polêmico, qual seja da proibição das bebidas alcoólicas nos estádios, alguém do grupo atalhou:- O governo brasileiro desconhecia as leis da FIFA, ao se lançar como candidato à realização da Copa do Mundo? Até porque todos, aqui na África, não só sabiam como concordaram.Tão logo respondi que as leis da FIFA eram perfeitamente conhecidas pelo governo, no mesmo instante veio a segunda pergunta: - E por que, então, o Brasil fez de tudo para realizar a Copa do Mundo, sabendo que não abriria mão da alegada soberania?
SONO
Neste momento, para não piorar ainda mais a imagem do Brasil perante o grupo, informei que era hora de dormir. Foi quando veio o derradeiro questionamento: - Pelo que li num jornal daqui de Johanesburgo, o ex-presidente Lula afirmou que o Brasil é um país soberano. E que a FIFA não tem poderes para decidir o que deve ser feito. Como Dilma sublinhou a frase de Lula, por aqui todos entenderam que a Copa de 2014 só será realizada no Brasil caso sejam revogadas as leis que criaram a estúpida meia-entrada e proibiram o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios. Isto, em última análise, significa que o Brasil vai renunciar ao intervencionismo ou à decantada soberania? Confesso que depois dessa perdi o sono!