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19 jun 2017

LANTERNA NA PROA


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LEITURA SEMPRE OPORTUNA

O livro -Lanterna na Proa-, editado pela Livraria Resistência Cultural Editora (contato@resistenciacultural.com.br), organizado pelo editor José Loredo Filho e os pensadores Ives Gandra Martins e Paulo Rabello de Castro, é uma leitura importante e pra lá de oportuna. 


SATISFAÇÃO ENORME

Não escondo a minha enorme satisfação por fazer parte do rol dos 62 convidados que se dispuseram a fazer um relato sobre a vida do grande liberal, que no dia 17 de abril passado faria 100 anos. Entretanto, entre as apreciações sobre a obra, aquela que mais me chamou a atenção, até o presente momento, foi a seguinte resenha, feita por Victor Ribeiro. Eis:


RESENHA

O menino pobre de Guaxupé (MS) que na juventude foi seminarista e que desistiu da ordenação em se tornar padre, chegou ao Rio de Janeiro na década de 30 com uma bagagem cultural impressionante (10 anos dedicados ao estudo de Filosofia, Teologia, Grego e Latim), mas que aos olhos da burocracia brasileira era classificado como um analfabeto.

Numa trajetória brilhante, Roberto Campos participou nas negociações de insumos brasileiros na 2ª Guerra Mundial, esteve presente na conferência de Bretton Woods, nas discussões sobre a criação do FMI, do BNDE (ainda sem o S), embaixador nos EUA e Inglaterra, foi Diretor e Presidente do BNDE, Ministro do Planejamento, Senador e Deputado e prestou inigualável contribuição ao debate nacional.


CRÍTICO FERRENHO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Foi crítico ferrenho da ilusória e demagógica Constituição de 1988. Muitos de seus comentários tornaram-se emendas constitucionais anos depois e demonstram-se urgentes e válidas até o presente momento. Criador do FGTS, do Banco Central, do Banco Nacional de Habitação, das reformas administrativas que modernizaram a gestão pública em 1967, e principalmente, as suas importantes contribuições na política econômica que proporcionou, anos depois, o chamado Milagre Econômico Brasileiro. 


PREGAÇÃO POR 5 DÉCADAS

Ao mesmo tempo em que a biografia de Roberto Campos nos alegra pela singular inteligência e serviços prestados ao país (não há registro na história de um intelectual do seu porte tenha atuado tanto tempo e com tamanha competência na política), ela também nos entristece ao vermos tantas oportunidades perdidas que o Brasil teve em tornar-se um país rico e desenvolvido. Caminho em que Roberto Campos praticamente pregou no deserto por 5 décadas. 


RELATOS 1

O livro expõe 62 deliciosos relatos divididos em três partes: "Roberto por nossos olhos", "Roberto por seus próprios olhos" e "Roberto pelos olhos do futuro". Passo a citar alguns deles:

Gustavo Franco relata uma das Leis Secretas da Economia, livro que escreveu e que deu continuidade a uma das obras de Roberto Campos (A técnica e o riso) que explica muito o desastre que estamos presenciando: "Lei geral do protecionismo: a eficiência competitiva está na razão inversa do grau de intervencionismo governamental".

Alex Catharino aborda as influências da Escola Austríaca na formação de Roberto Campos, em uma interessantíssima abordagem sobre Mises, Hayek, Eugênio Gudin e o compromisso moral da honestidade intelectual na atuação do Economista cuja tarefa deve explicar as consequências da ação humana.

José Luiz Alquéres aborda os inusitados "esbarrões" com Roberto Campos, na sua infância e no desenvolvimento do Setor Elétrico Brasileiro.


RELATOS 2

Rodrigo Constantino expõe como Roberto Campos sempre esteve certo ao defender que a Petrobrás não detivesse o monopólio da exploração de petróleo (provavelmente estaríamos livre do Petrolão) e sobre como uma privatização mais profunda teria beneficiado o Brasil. Até porque, como dito por Roberto "os riscos da incompetência privada são limitados; os erros da incompetência pública, ilimitados."

Gastão Reis detalhou o estrago que o voodoo economics - a Nova Matriz Econômica - no governo Dilma fez ao país. O exercício perverso da política de compadrio, tudo ao contrário de que Roberto Campos estabeleceu na criação do BNDE(S) e pregou no exercício da vida pública.

Paulo Roberto de Almeida expõe como Roberto Campos se aproximou de ser um digno renascentista no exercício da vida diplomática e política, exercendo as qualidades de brilhante economista, mas ao mesmo tempo com enorme capacidade prática de trabalho de transformar a realidade. As propostas de Roberto Campos continuam válidas e urgentes até hoje.

Adolfo Sachsida comenta a criação do FGTS por Roberto Campos, um marco importante na época e as mudanças necessárias para modernizar as leis trabalhistas no país.

Aristóteles Drummond relata as campanhas difamatórias que Roberto Campos sofreu, importantes bastidores da vida política da época, tal como a recusa de Roberto Campos em votar pela cassação de JK, chegando inclusive a oferecer a sua demissão do cargo de Ministro do Planejamento.


AUTOBIOGRAFIA

Na sua autobiografia, "Lanterna na Popa", Roberto Campos menciona que ao entrar no mundo da política percebeu sua ingenuidade: viu que antes de fazer o bem, a tarefa mais importante e urgente era tentar desarmar o mal praticado pelos colegas de profissão.

Conforme também relata na sua autobiografia, Roberto campos fez de tudo para escapar da mediocridade, que sua experiência seria uma lanterna de popa de um pequeno barco que iluminaria apenas as ondas deixadas para trás. Neste prognostico, o profeta do pragmatismo errou: Ele se transformou em um farol para futuras gerações.


AMOR PELO BRASIL

Poderíamos dizer que talvez o Brasil não merecesse ter um Roberto Campos. Assim como Eugênio Gudin desabafou "O Brasil foi o maior amor que tive, e o que mais me corneou". Do ponto de vista estritamente pessoal, talvez Roberto Campos teria uma "vida mais tranquila" se tivesse aceito o convite de Schumpeter ao terminar o mestrado na Columbia University e continuar os estudos em um doutorado em Economia em Harvard. Mas talvez a formação escolástica, teológica e o restinho de quase padre falou mais alto e tentou exorcizar a incompetência política e irracionalidade econômica na condução do país.


MEU RELATO

Na página 119 do LANTERNA NA PROA está publicado o meu relato, com o título: -ROBERTO CAMPOS - HOMEM DO SEU SÉCULO. Eis:

Foi com grande honra que aceitei o convite para participar, com este breve depoimento, da obra que homenageará o inesquecível economista Roberto Campos, a quem tinha na conta de amigo e mestre.
Dentre as suas várias e admiráveis características, uma havia que me chamava especialmente atenção: a de ser ele um homem de seu século, em sua busca pelo desenvolvimento econômico. E boas razões para tal não lhe faltavam. Ao contrário: sobravam, em grande quantidade.
Primeiramente, um esclarecimento: o site Ponto Crítico, que criei e edito diariamente, iniciou as suas atividades no dia 11 de outubro de 2001, ou seja, dois dias após o falecimento de Roberto Campos. Tal decisão / vontade se deu por dois importantes motivos: 1 – O desejo de prestar a minha homenagem ao grande economista liberal e 2 – Dar continuidade, ainda que de forma modesta e muito singela, à sua trajetória, constante e precisa, que teve como baliza evidenciar as vantagens inequívocas do sistema capitalista.
Desde o momento em que escrevi o primeiro editorial do Ponto Crítico, já se passaram mais de 15 anos. E, ainda que publique, sistematicamente, frases e conteúdos produzidos por R. Campos, em todas as datas de aniversário do site (11/10) nunca deixo de prestar a minha homenagem ao nobre e autêntico liberal, publicando um dos seus tantos e sempre oportunos textos.
Conheci-o pessoalmente em março de 1995, em Porto Alegre, quando eu era apresentador de um programa de TV, na emissora Pampa, Canal 4. Na ocasião, o economista veio à capital do Rio Grande do Sul, a convite do IEE – Instituto de Estudos Empresariais –, para participar do VIII Fórum da Liberdade. Na noite anterior ao Fórum, dia 25 de março, tive o prazer de entrevistá-lo ao vivo, junto com Donald Stewart Jr (criador do Instituto Liberal), Eduardo Mascarenhas (psicanalista) e Paulo Francis (jornalista). Como falávamos o mesmo idioma – liberal –, em todas as oportunidades que Campos vinha a Porto Alegre, o nosso bate-papo era certo, assim como a sua participação no programa Pampa Boa Noite, que ia ao ar diariamente, ao vivo, a partir das 22:30hs.
Vale registrar que ao longo das diversas entrevistas que fiz com Campos, o que mais ele apreciava, confessadamente, eram as provocações que eu lhe fazia quanto às reais vantagens do liberalismo. Sem jamais perder o bom humor, de forma sempre muito didática, o economista discorria sobre o tema mostrando o quanto a liberdade é capaz de conferir acertos e o quanto a falta dela impõe resultados danosos para a sociedade.
Nos seus últimos quatro anos de sua intensa vida, sempre dedicada ao desenvolvimento da lógica do raciocínio, conversamos inúmeras vezes. E, em todas, sempre de forma muito objetiva. Lembro bem que, em quase todas as vezes que nos encontramos, Roberto Campos, de forma sempre incansável, repetia: as armas que dispomos para convencer pessoas são os nossos argumentos. Quanto mais claros e precisos, mais efetivos. O que nunca pode existir é a dúvida. Apenas a certeza.
Com base nestes ensinamentos, em 2009, em reunião que contou com alguns economistas – liberais –, resolvemos formar o grupo Pensar+, que integra, atualmente, mais de 60 pensadores com um único objetivo-proposta: produzir conteúdos que mostrem, efetivamente, a relação causa/efeito sobre as decisões e propostas emanadas por aqueles que governam o país.
Não posso deixar de mencionar, nesta breve homenagem, por se tratar de algo muito importante, que um exemplar do livro Lanterna na Popa me foi entregue pessoalmente pelo saudoso Roberto Campos. E das suas memórias copio e repercuto grande parte das profecias que o grande economista liberal fazia quanto aos destinos do país.
Enquanto muitos brasileiros, insuflados pelos brados de maus jornalistas e/ou intelectuais, tidos como formadores de opinião, ainda insistem na falácia de que o maior responsável pelos nossos fracassos é o sistema capitalista, Campos, de forma irretocável, afirmava: – isto só seria possível, embora bastante improvável, depois que o Brasil viesse a praticar o capitalismo. E para que não pairasse qualquer dúvida, o economista completava: capitalismo é algo que não admite adjetivo.