CONVENCIMENTO HISTÓRICO
Tem coisas que depois de ditas e espalhadas, dificilmente conseguem ser revertidas ou consertadas. Muitas vezes, nem mesmo os mais exaustivos esclarecimentos são capazes de apagar aquilo que já está fortemente solidificado na mente do povo. Um bom exemplo disso diz respeito à autoria da frase -O BRASIL NÃO É UM PAÍS SÉRIO-, que, equivocadamente e/ou de forma criminosa, foi atribuída, em 1962, ao general francês Charles De Gaulle. Na real, para quem não sabe, a frase saiu da boca do embaixador Carlos Alves de Souza, e quem a divulgou foi o jornalista Luiz Edgar de Andrade, da Globo (alguma novidade?) que tal? (nada surpreendente). Pois até hoje, mesmo depois de ter sido esclarecida pelo próprio embaixador Souza, no seu livro -UM EMBAIXADOR EM TEMPOS DE CRISE-, o fato é que De Gaulle continua sendo o culpado pela FAKE NEWS da Globo.
CAFÉ PEQUENO
No caso da Petrobrás, para que fique bem claro e entendido, a grande maioria do povo brasileiro, fortemente influenciada pela mídia, segue convencida de que foram os mais diversos atos de CORRUPÇÃO que levaram a estatal à lona. Na real, ainda que os atos de imensa roubalheira figurem como fortes responsáveis por enormes prejuízos, o que tem um peso dez vezes maior do que a CORRUPÇÃO é a forma como a Petrobrás foi administrada pela turma do PT. Fazendo uma simples comparação do que causou maior sangramento, a CORRUPÇÃO é vista e considerada como puro -café pequeno-.
INTERVENÇÃO DO GOVERNO
Pois, até hoje, por mais que seja dito e repetido a todo momento, a maioria do povo brasileiro está plenamente convencida de que o preço de venda dos combustíveis -nos postos de abastecimento- deve ser decidido pelo governo e não pela Petrobrás. Com tal, por ser uma empresa estatal, cabe ao governo interferir quando o preço do barril de petróleo (bruto) sobe no mercado internacional, pouco importando o quanto este equívoco é prejudicial para a Petrobrás e para todos os envolvidos.
MEMÓRIA SELETIVA
A propósito, para que os leitores tomem conhecimento de outras opiniões -esclarecedoras- a respeito deste importante tema, eis o que diz, por exemplo, o economista Alexandre Schwartsman, no seu artigo -MEMÓRIA SELETIVA-
- Depois do teto de gastos, a medida de política econômica mais criticada – também sem muita razão – é a regra de preços de combustíveis adotada pela Petrobras, que os atrela aos valores internacionais, não por acaso adotadas ambas no governo Temer, quando se tentou restaurar um módico de racionalidade na gestão da economia brasileira.
O presidente da República, por exemplo, recentemente expressava sua IGNORÂNCIA a respeito, notando que vivemos “em um país que paga tudo em real e tem o preço do combustível atrelado ao dólar. Ninguém entende”.
Sem muita esperança de resolver a deficiência cognitiva do presidente, noto que combustíveis, assim como as demais commodities, são transacionados no mercado mundial. O preço da soja, do milho, das carnes, do minério de ferro, do aço laminado, do suco de laranja, entre tantos outros, é determinado pela interação entre a demanda e oferta globais, tipicamente expressos em dólar.
IMPORTADOR LÍQUIDO
Caso o país seja um exportador destes bens e seu preço internacional suba em relação ao doméstico (devidamente ajustado à taxa de câmbio, custos de transporte, tarifas etc.), é claro que os produtores preferirão exportar, reduzindo a disponibilidade interna do produto, o que faz seu preço interno subir até igualar o externo. Se, por outro lado, o país for um importador, o aumento do preço doméstico reduz a demanda por aquele bem, reduzindo também suas importações. Se isto vale para os demais bens, por que não deveria valer para o caso dos combustíveis?
Note-se, a propósito, que o Brasil é um importador líquido nesta frente. O consumo aparente de gasolina (produção mais importação menos exportações) no ano passado foi próximo a 25 milhões de m³, dos quais cerca de 4 milhões (16%) vieram de fora do país.
Já dos 57 milhões de m³ de diesel consumidos, 12 milhões (22%) tiveram origem externa, enquanto 3,6 milhões (27%) dos 13,5 milhões de m³ de GLP também foram importados.
APÓS 8 SEGUNDOS
Vale dizer, que apesar da lorota acerca da autossuficiência ser frequentemente repetida, inclusive pelo ex-presidente Lula, ainda precisamos importar fração considerável do nosso consumo interno de combustíveis. Imaginem agora o que ocorreria caso a Petrobrás passasse a vendê-los abaixo do preço internacional. Após aproximadamente 8 segundos concluiríamos que nenhuma empresa privada importaria sequer um litro de gasolina ou diesel, simplesmente porque não inventaram ainda um jeito ganhar dinheiro vendendo por preço inferior ao que foi comprado. A competição privada, portanto, acabaria e a Petrobrás passaria a ser monopolista no suprimento de combustíveis (prática também conhecida como dumping, postura ilegal para fins de direito da concorrência).
Como a Petrobrás não tem capacidade de produzir para atender todo o consumo doméstico, caberia a ela – para evitar uma crise de abastecimento – importar o necessário e, claro, vendê-lo abaixo do custo.
A propósito, trata-se exatamente da situação vivida durante os tempos da NOVA MATRIZ ECONÔMICA, que levaram a empresa a se tornar a PETROLEIRA MAIS ENDIVIDADA DO PLANETA, fruto de perdas de R$ 97 bilhões (a preços de hoje), graças à prática de vender abaixo do preço de compra.
Isto não ocorreu há um século, como a última grande epidemia, mas há apenas cinco anos, o que não impede lulas, ciros e bolsonaros de proporem mais uma repetição do episódio de controle de preços, como se nossa história – repito, recente – não estivesse repleta de fracassos neste campo, alguns dos quais pagamos até hoje.