Artigos

09 mai 2012

A FICHA, ENFIM, CAIU...


Compartilhe!           

BRASIL MAIOR?
Os leitores/assinantes do Ponto Crítico, certamente, devem ter em mente as observações que fiz por ocasião do lançamento do programa Brasil Maior. Na ocasião comentei que os políticos e empresários de todas as entidades e segmentos, lá se dirigiram para aplaudir, apoiar e cumprimentar a presidenta Dilma e demais governantes pelas propostas protecionistas. Muitas delas, diga-se de passagem, sugeridas pelos próprios líderes empresarias.
NOVO BRASIL?
Ao invés de levarem as propostas do governo para serem analisados pelas áreas de economia de cada uma das suas entidades, as quais são montadas exatamente para tanto, os empresários se deslumbraram com o que ouviram. E saíram dali dando entrevistas convencidos de que estavam diante de um novo Brasil, bem Maior.
TIRO NO PÉ
Pois, a euforia daquele momento, pelo som da voz rouca do mercado, desapareceu. Só que agora é tarde, porque as chances do governo voltar atrás são praticamente zero. Nesta semana, por exemplo, vários economistas que à época ficaram calados, disseram, finalmente, em debate promovido pela Tendências Consultoria, tudo aquilo que o Ponto Crítico não titubeou: que o governo está dando um TIRO NO PÉ com a política industrial atual, ao ACEITAR o discurso de federações de empresários contra os juros altos e o câmbio valorizado, sem atacar o problema estrutural de perda de competitividade do setor.Eles acreditam que as medidas de INCENTIVO (?) tomadas agora agravarão a falta de produtividade nas fábricas e deverão reduzir a capacidade da economia de crescer sem pressionar a inflação. Viu só? É bom deixar claro que não sou adepto da quiromancia, gente...
A DESINDUSTRIALIZAÇÃO É REAL
Para o economista Samuel Pessôa, da própria Tendências, - o processo de desindustrialização é real e não poderia deixar de existir dentro de um modelo de crescimento econômico liderado pela demanda, no qual, motivada por ganhos substanciais de renda, a sociedade prefere consumir em detrimento da poupança. Bingo, gente. Acertei de novo. Admitindo que nem sempre as críticas editadas no Ponto Crítico sejam aceitas, quem sabe as mesmas observações, vindas de outra fonte, possam contribuir para o convencimento. Portanto, sob a ótica de Pessôa o cenário é adverso ao crescimento da indústria, que prospera em locais onde o custo do trabalho é baixo, mas vai de encontro à vontade da maioria das pessoas. A indústria, portanto, segundo sua visão, deve continuar na berlinda.
QUESTÃO ESTRUTURAL
Mais: - Não é tsunami monetário, não é guerra cambial, é uma questão estrutural de uma sociedade que escolheu ter uma poupança muito baixa, afirma o economista, para quem os preços robustos das commodities, produtos que lideram a pauta de exportação brasileira, também deixam a indústria em segundo plano. O desenvolvimento da indústria hoje significa deixar de utilizar os ganhos de termos de troca, cortar o crescimento do salário mínimo, fazer uma série de políticas que a sociedade não quer.Nesse ambiente, a desoneração da folha de pagamento de setores específicos da indústria, -dá uma certa isenção - para alguns ramos beneficiados, mas gera confusões a respeito do sistema tributário, já complicado. No mesmo sentido, medidas para taxar o capital externo, desvalorizar o câmbio e encarecer importações fecham a economia e provocam um repique inflacionário, além de piorarem a eficiência da indústria doméstica.
DESASTRE
Vejam, também, a opinião de José Márcio de Camargo, economista-chefe da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-RJ: - o que foi feito até o momento para incentivar a indústria é UM DESASTRE para o crescimento de longo prazo, já que as medidas tomadas reduzem a poupança ? no Brasil financiada por recursos externos ? e desencorajam a inovação em favorecimento de setores tradicionais.Essa agressividade contra o capital externo é muito complicada (PÉSSIMA, no meu entender), porque nossa taxa de poupança, de 16% do PIB, é muito baixa, opina. Sem um nível maior de poupança, diz ele, é muito difícil crescer de forma sustentável.Outra questão levantada pelos participantes do debate e que vai contra a indústria é a falta de preocupação do governo em relação à educação, problema deixado de lado pelas federações industriais. Essas entidades estariam empenhadas somente em combater entraves de curto prazo para o setor, essencialmente a moeda valorizada e o juro alto.Segundo Camargo, a marginalização desse tema é uma herança da era do presidente Getúlio Vargas, quando a qualificação foi separada da educação, com a criação de cursos técnicos que não exigiam nível básico de ensino. Além disso, discutir esse tema não está na pauta das associações de empresários porque eles estão visando aumentar a produção no curto prazo.
AS CAUSAS PERMANECEM INTACTAS
Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e sócio-diretor da Tendências, acredita que o debate para salvar a indústria está organizado em torno de juros altos e câmbio valorizado porque estes são exatamente os pontos nos quais o governo pode atuar com maior facilidade, ao contrário de questões mais relevantes, como a reforma tributária e trabalhista e investimentos mais eficazes em educação. Em suma: o governo atacou, mais uma vez, a consequência, deixando intactas as causas. Pode?