Por Percival Puggina
Para a extrema esquerda, silenciar as redes sociais é questão de sobrevivência! Antigamente, seu pessoal tinha hábitos de leitura, dirigentes e militantes escreviam e frequentavam livrarias. Exibir ao menos um certo “verniz intelectual” era tão importante que até os camaradas mais vadios, nada estudiosos, portavam “livros de sovaco”, jamais lidos, mas levados para passear e chamar atenção. Conheci e debati com vários.
Paulo Freire acabou com isso. Os atuais professores aprenderam dele que o importante é a conscientização e o uso de palavras com poder de causar esse efeito (1). Os verdadeiros objetivos da revolução cultural podem ser alcançados, então, com multidões militantes e votantes, tão incultos quanto fortemente motivados. Eis por que resulta inútil discutir com extremistas de esquerda. Eles nada sabem sobre a organização de um argumento, sobre premissas e conclusões, mas percebem toda contraposição como assédio maligno, rejeitado por ser moralmente inferior... Vivem em lockdown intelectual. Se o objetivo é conquistar corações, quanto mais vazias as mentes, melhor. Para os sentimentos que quer provocar, é suficiente um bom arsenal de substantivos e adjetivos esparsos devidamente trabalhados.
Até o velho “livrinho vermelho dos pensamentos de Mao” ou o Minidicionário do guerrilheiro urbano” se tornam exemplos de loquacidade desnecessária. Palavras eficientes, fazem o serviço em corações e mentes esvaziadas e manipuladas de modo emotivo em sala de aula. Observem Lula. Todo discurso dele fala em pobreza, fome, desigualdade, raça, opressão, ganância, exclusão, exploração, discriminação, injustiça social e por aí vai. Paulo Freire na veia da testa.
Dado que o método exige repetição sem fim, anexa ao prédio da extrema esquerda opera sua fábrica de “mantras”. Dali saem etiquetas da moda para rotular os adversários: fascista, racista, machista, nazista, golpista, negacionista, terraplanista, extremista e mais recentemente as acusações preferidas: discurso de ódio e fake news. É pouco, mas ganha potência se as imputações forem associadas a algum tipo penal preexistente, ou a ser criado ou, ainda, considerado suficiente para justificar censura e repressão, lançando a Constituição às urtigas. Ali também operam as contradições do progressismo retrógrado, do multiculturalismo anticristão e antissemita, do pluralismo que não admite contradição e – novo achado da cartola! – o gabinete da ousadia, para onde o extrema esquerda levou sua conhecida experiência em amabilidades e meiguices.
Quando estou estressado com a situação do país, tenho duas possibilidades de recuperar a paz: vou à Igreja rezar ou escuto certas falas, entre outros, de meia dúzia de ministros do STF. São lições gentis de mansidão e equilíbrio. Quando me inquieto na busca da verdade, posso ler a Imitação de Cristo ou me aprofundar em vídeos com discursos de Lula.
Ante os olhos vagos e baços da maioria do Congresso, os outros dois poderes de Estado montam seus aparelhos para patrulhar opiniões.
Por Roderick Navarro, político venezuelano exilado no Brasil desde 2017 por ordem de arresto do régime de Nicolás Maduro.
Nos regimes autoritários, a censura não é um erro: é o primeiro tijolo de uma engrenagem construída para esmagar a dissidência. Onde há censura, há perseguição. Onde há perseguição, há tortura. Os tiranos, obcecados em se manter no poder, não se contentam em ocupar o trono: acreditam ser deuses. Proclamam-se justos, infalíveis, a voz do povo. Mas, para sustentar essa fantasia divina, precisam silenciar aqueles que gritam a verdade: que o rei está nu.
A censura precisa de executores. No Brasil, esse papel tem sido assumido, com frequência preocupante, por juízes e autoridades que se arrogam o poder de decidir o que é verdade e o que é mentira, o que é permitido e o que é perigoso. As instituições, que deveriam proteger os cidadãos, tornam-se instrumentos de repressão a serviço do poder. Um exemplo recente é a ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), em janeiro de 2025, que bloqueou as redes sociais da Revista Timeline — fundada pelos jornalistas Luís Ernesto Lacombe e Allan dos Santos — sem qualquer explicação pública clara. As contas da revista no X, Instagram e YouTube foram removidas. Lacombe denunciou o episódio como um ataque à democracia: “Por quê? Não disseram. Que bela democracia temos…”
Outro caso alarmante foi a cassação do mandato da deputada federal Carla Zambelli, também em janeiro de 2025, pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, após ela questionar o sistema eleitoral. Mais de 946 mil votos foram anulados. O senador Jorge Seiff classificou a decisão como uma “perseguição clara, óbvia e absurda” contra a direita. E esses não são casos isolados: o exílio do jornalista Oswaldo Eustáquio, perseguido por denunciar abusos de poder, e o bloqueio do X no Brasil em 2024 por ordem judicial — sob a acusação de permitir “desinformação” — são sinais de uma censura que já não choca: está se normalizando.
No início, silenciar alguns poucos é suficiente para intimidar muitos. Mas em sociedades onde ainda há quem ouse falar, a censura seletiva torna-se insuficiente. Então o regime avança: não cala apenas alguns, cala todos. No Brasil, vozes da resistência têm denunciado essa escalada autoritária, mas os tiranos possuem uma arma ainda mais eficiente do que a censura: a economia. Como advertiu o economista Roberto Campos, defensor do liberalismo e crítico feroz do autoritarismo: “A liberdade morre quando o Estado controla os meios de produção e as mentes.” Campos, que combateu a burocracia e o intervencionismo, alertou sobre o perigo de um Estado que sufoca a liberdade econômica para dominar a sociedade.
E é isso que vemos hoje: aumento dos gastos públicos, impostos sufocantes, desvalorização da moeda e obstáculos crescentes ao empreendedorismo. Quando as necessidades básicas — comida, moradia, segurança — estão ameaçadas, a liberdade de expressão vira luxo. O cidadão, exausto pela luta diária, esquece o dissidente preso.
A censura, no entanto, não é o fim, mas o meio. É a antessala da violência cruel e impiedosa. Uma vez desmobilizada a oposição, o regime avança para a perseguição em massa: um preso político torturado, um líder exilado, uma família encarcerada pelas ideias de um dissidente… No Brasil, a normalização dessas práticas representa uma ameaça concreta. Segundo o World Justice Project, em 2025 o país ocupava a 80ª posição entre 142 nações em imparcialidade judicial — à frente apenas da Venezuela. Quando a justiça se politiza, a censura não é um instrumento de “proteção institucional”: é uma arma contra os opositores.
Essa estratégia, herdeira das piores tradições leninistas, só pode ser derrotada pela força de um povo organizado. Uma cidadania ativa, disposta a apoiar líderes corajosos, pode frear a tirania. Mas se a censura avança, a economia colapsa e a resistência se fragmenta, o futuro será sombrio. Os líderes da oposição acabarão reduzidos a migalhas de poder ou, pior ainda, na prisão ou no exílio.
O Brasil está diante de uma encruzilhada. A censura não é apenas um ataque à imprensa ou aos políticos da oposição: é um ataque a toda a sociedade. As forças políticas — dos partidos aos movimentos civis — não podem cruzar os braços nem assistir, passivamente, ao povo se degradar enquanto fecham “acordos”. Tiranos gostam de escrever o desfecho das histórias. Resta torcer para que, desta vez, não o façam com o sangue dos brasileiros.