OPINIÃO DESINFORMADA
A cada reunião do Copom a imprensa fica enlouquecida, os empresários idem e a sociedade em geral acaba sendo vítima de uma opinião formada errada e de forma precipitada, o que leva todos para a uma mesma direção, sem ao menos procurar entender o problema. Percebam o que acontece:
REAÇÃO EM TRÊS NÍVEIS
1- Se o Copom promove uma redução da taxa básica Selic, embora festejada, nunca é suficiente para que a sociedade admita que tudo vai melhorar muito; 2- Se o Copom resolve manter no mesmo patamar do mês anterior, todos choram e esbravejam dizendo que o governo é o carrasco da economia e que não quer desenvolvimento. 3- E quando a decisão é pelo aumento da taxa básica, bem, aí é o fim do mundo. Todos, sem um mínimo uso do raciocínio, já procuram um hospital para se internar.
QUEBRANDO A CORRENTE
Tenho procurado me comunicar mostrando que as manifestações tem se caracterizado por um grande equívoco de lógica de raciocínio, pois os nossos problemas não aumentam aí. Ao contrário, diminuem. Infelizmente, porém, acabo sendo quase sempre massacrado por não fazer coro aos precipitados. Volto, pois, ao assunto para tentar me fazer entender para quebrar esta corrente de maus pensadores:
O PROBLEMA
A primeira constatação que ocorre quando o Copom se define pelo aumento da taxa de juros é a queda da taxa de risco no mercado. Isto já seria suficiente para entender boa parte do problema. Os investimentos, gente, crescem quando o risco cai. Quem ainda duvida disso, basta verificar qualquer série histórica dos últimos anos para que possa ser constatada esta verdade. O inverso também é verdadeiro, ou seja, quanto maior o risco, menor é o investimento no Brasil. Esta premissa básica é que deve nos levar a entender que o nosso problema está no risco-país, ingrediente poderoso na formação da taxa de juros e de todos os países deste mundo.
JURO: PRODUTO COMPOSTO
Ora, taxa de juro no Brasil e em qualquer lugar do mundo é um produto composto das seguintes variáveis: 1- Índice de remuneração do capital; 2- Índice de remuneração do risco; 3- Índice de remuneração da inflação; e, 4- Índice de remuneração do governo (imposto de renda), que no nosso caso é de 20% sobre todos os demais. O componente de maior expressão na composição da nossa taxa básica de juro é o risco, seguido da inflação. Bastaria, portanto, que o risco recuasse à metade do que está hoje e teríamos uma redução brutal dos spreads bancários.
O RISCO CONTROLA O INVESTIMENTO
Traduzindo: se o Copom aumenta a taxa Selic em um ponto percentual e, na contra partida o nosso risco-país recua 50 pontos (10%, aproximadamente) temos como resultado uma queda efetiva e brutal dos juros bancários. Por conseqüência, um notável aumento no nível de investimentos. Aí está, portanto, a prova de que o juro puro, em tese, controla a inflação, e o risco (quando superior ao juro puro) controla o investimento. Quando a imprensa perceber esta lógica e os empresários idem, a sociedade estará mais inteligente. E a economia mais tranqüila.
CONCLUSÃO
Hoje, o risco Brasil está perto de 450 pontos. Imaginem se estivesse no patamar do Chile, que é de 80 pontos. A situação seria bem melhor para as nossas contas públicas e privadas. O que está custando caro para nós, e que ainda propõe um risco elevado, foram as besteiras feitas no passado, como o não cumprimento dos contratos e a nossa moratória, ainda não esquecida no mercado internacional. Some-se isto ao discurso do PT antes da eleição de Lula (que está bem definido na série histórica do nosso risco-país) e fica bem mais fácil de entender.
COMBUSTÍVEIS
Como é inevitável que em algum momento seja feito o reajuste dos combustíveis, que o seja ainda este ano. Caso contrário, a inflação de 2005 é que será contaminada pelo alinhamento dos preços. Ao fazer ainda em 2004, ao menos deixa o problema no exercício findo.