COMOVIDA
Ontem, ao anunciar que o governo vai destinar R$ 10 bilhões para pagar títulos públicos (reduzir a dívida), o ministro Guido Mantega deixou grande parte da sociedade brasileira comovida.
APLAUSOS
Desta feita, só jornalistas foram convidados para ouvir o ministro Mantega. Assim, não tivemos os aplausos frenéticos da claque habitual, ao vivo, que tradicionalmente ocupa as primeiras filas dos ambientes usados para pronunciamentos do governo.
DESTINO
No entanto, considerando o comportamento da Bovespa, o governo foi muito aplaudido. E, como sempre, de forma precipitada. Sim, porque o governo não está prometendo outra coisa senão mudar o destino da superarrecadação, que a cada mês bate um novo recorde.
ARDILOSO
Ou seja: o governo, ardiloso, para afirmar o seu mau-caratismo, sequer cogitou um eventual alívio na carga tributária, que é um terrível obstáculo ao consumo e ao investimento. De forma esperta iludiu os agentes econômicos, que ficaram convencidos de que a medida tomada vai abrir espaço para redução das taxas de juros.
MÍSEROS 0,55%
Os tais R$ 10 bilhões, que diz que vai engrossar o superávit primário, e com isso reduzir a dívida pública, é simplesmente insignificante. Basta dividir pelo total da dívida em poder do mercado (que não é, portanto, a total), que anda por volta de R$ 1,800 tri, para chegarmos a míseros 0,55%.
PIB EM BAIXA
Como os sinais de desaceleração da economia já começam a ser sentidos, o que é inevitável, a arrecadação só pode permanecer tão alta desde que a carga tributária aumente. Vide que as projeções do PIB para este ano, que não param de ser revistas para baixo, atestam isto.
MANUTENÇÃO DOS GASTOS
É óbvio que qualquer medida que reduza gastos públicos deva ser festejada. Este, no entanto, não é o caso. O governo não só vai manter os exagerados gastos, como está pronto para admitir alguma elevação. A economia que pretende fazer, como anunciada ontem, é fruto exclusivo de uma arrecadação maior.