MANTENDO A AUSTERIDADE
Gostei da entrevista do presidente do BC, Henrique Meirelles, que está nas páginas amarelas da Veja desta semana. A primeira observação é que tudo aquilo que venho escrevendo sobre os assuntos que Meirelles abordou, correspondem às minhas convicções. Ou seja, basta facilitar um pouco o Caixa do Tesouro e tudo já desanda e de forma astronômica. Aliás, esta é uma das razões para o nosso longo fracasso nas contas públicas. Observem: em todas as oportunidades (pouquíssimas) que decidimos ser um pouco mais austeros, a pressão para um afrouxo foi descomunal e vitoriosa.
SEM PACIÊNCIA PARA A CURA
O tal do ? social ?, gente, acabou sempre falando mais alto nestas horas. Aí, tudo acabou indo para o beleléu, como se tem notícia. Ao romper com todos os programas que estão dando certo e que melhoram a confiança no país, entramos num círculo vicioso e viciado de insucessos e amarguras. Enfim, quando começamos a nos aproximar de algum mínimo sucesso, sempre desistimos de tudo e nunca alcançamos a vitória. Ao primeiro sinal de melhora das nossas contas públicas sempre há quem entenda que já estamos curados definitivamente. E, moto-contínuo, partimos imediatamente para a orgia dos gastos.
MONTANTE PERIGOSO
Isto explica o montante perigoso que atingimos para a nossa dívida interna. Ao contrário dos manifestantes de plantão que apóiam o calote argentino (e que, podem ter certeza, vai ser um prato cheio no Fórum Social Mundial, na próxima semana), o problema não está na nossa dívida externa. Esta é relativamente pequena. E está bem negociada e renegociada com prazos mais longos, tanto com o Clube de Paris quanto com os demais organismos financeiros internacionais.
O PREÇO DO RISCO É O MAIOR
Aliás, a cada dia que a sociedade pressiona por um câmbio mais favorável aos exportadores e pede taxas de juros mais baixas e um afrouxamento nas taxas de inflação, só está querendo desorganizar as contas públicas pelo efeito risco. É muito importante observar que o preço do risco é, ainda, extraordinariamente maior do que o preço dos demais variáveis.
ARGENTINA CALOTEIRA
Este é o problema que a Argentina vive e vai continuar vivendo, principalmente agora. Sem poupança para fazer investimentos, para obter recursos de poupanças estrangeiras precisa pagar um prêmio de risco tão elevado que não poderia ser pago o eventual empréstimo. Resultado: não conseguirá os investimentos para um efetivo crescimento sustentado. A alta que a Argentina apresentou no PIB é sobre uma base extremamente baixa, o que não consagra saúde suficiente para manter tal crescimento.
O REI DOS IMPOSTOS
Uma outra questão importante: a prática indecente do continuado e sucessivo aumento da carga tributária tem várias causas. Mas o gosto por mais impostos foi mesmo inaugurado pelo ex-ministro Delfim Netto. Como a inflação era infinitamente maior do que os juros praticados, a forma que Delfim encontrou para inibir o consumo de produtos faltantes foi pelo aumento de impostos. Lembram de como enfrentou a alta de petróleo na guerra dos seis dias, na década de 70? Como não produzíamos quase nada de petróleo, as importações ficaram caríssimas para as contas públicas.
PRÁTICA INFERNAL
Para inibir e evitar o consumo dos combustíveis, foram aumentados os impostos de forma dramática. E Delfim afirmava categoricamente que isto selecionava o consumo. Assim, ficamos também sujeitos às cotas de produtos altamente demandados, o que, além de impostos cada vez mais altos tinha o preço do ágio, cuja aceitação definia a preferência de consumidores mais dispostos e necessitados. Hoje, embora livres das cotas, jamais nos livramos dos impostos, que virou prática corriqueira dos governantes seguintes.
JE ME SUVIANT
Seria bem melhor se as fotos com os nomes dos deputados carrascos fossem publicadas nos auto-doors, que as entidades privadas deverão expor a partir da amanhã, 19, em vários pontos do RS. Mas, de qualquer forma, só os nomes já identificam para os eleitores o que eles fizeram para prejudicar a sociedade gaúcha. Confesso que todo o esforço que fiz para que algum deles viesse a se eleger será feito em dobro ou em triplo para que jamais voltem ao legislativo ou outro cargo público. Guerra é guerra. \"Je me suviant\", como bem informam as placas dos veículos em Quebec no Canadá.