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08 mai 2018

ÍNDICE DE MAL-ESTAR


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BUSCANDO RESPOSTAS

Quando me preparo, diariamente, para escrever os editoriais do Ponto Critico, antes de tudo tento encontrar uma mesma resposta, sem sucesso, sobre os motivos que levam tantos brasileiros a manifestar uma irrestrita paixão por líderes e/ou partidos socialistas, mesmo depois de tanto escancaramento dos arrasadores efeitos que a todo o momento são mostrados em todos os países que insistiram, e insistem, com a péssima ideia.


O SUPLÍCIO DA RECUPERAÇÃO

Pois, neste último final de semana, de forma quase que obcecada, sempre tentando encontrar a inalcançável resposta, me deparei com um bom artigo escrito pela economista Monica Bolle, com o título -O SUPLÍCIO DA RECUPERAÇÃO-, que a revista Época publicou na semana passada.


ASCENSÃO DE LULA NAS PESQUISAS

Monica Bolle inicia o seu texto dizendo que há pouco mais de um ano escreveu um artigo que foi publicado pelo Peterson Institute for International Economics, no qual tentava explicar, para não brasileiros, a ascensão de Lula nas pesquisas eleitorais e por que ele haveria de se manter na liderança, apesar de tudo em que se metera.


ÍNDICE DE MAL-ESTAR

O argumento era mais ou menos assim: economistas têm uma métrica para avaliar o sofrimento econômico da população. A métrica chama-se “O ÍNDICE DE MAL-ESTAR”, que nada mais é do que a soma da TAXA DE DESEMPREGO com TAXA DE INFLAÇÃO.


TORNAR O BRASIL GRANDE DE NOVO

Argumentei em fevereiro de 2017 que Lula era o único presidenciável que conseguia transmitir a sensação de que seria possível “tornar o Brasil grande de novo”, ou make Brazil great again. Afinal, durante seu governo, os índices de mal-estar foram estáveis e relativamente baixos se comparados às médias históricas. Em 2007, logo antes da crise financeira, a inflação estava na meta (4,5%) e o desemprego andava na faixa dos 9%, ou seja, o índice de mal-estar era de 13,5%.


ATÉ 2014

Permaneceu próximo desse patamar até 2014, embora a composição tenha se alterado bastante. No fim do primeiro mandato de Dilma, a inflação subira para 6,4%, enquanto a taxa de desemprego caíra para 6,8%. Há quem ache — eu, inclusive — que a estabilidade do índice, sobretudo a taxa de desemprego relativamente baixa, garantiu a reeleição. De lá para cá, vimos catástrofe.


2015

Em 2015 o mal-estar brasileiro registrou 19,2 pontos — desemprego de 8,5% e inflação de 10,7% —, caindo para 15,7% ao final de 2017. A composição, mais uma vez, fez a diferença: a taxa de desemprego permanecera elevada (12,7% para a média do ano), enquanto a inflação surpreendera positivamente (2,95%). A queda da inflação e o fim da recessão trouxeram ao país uma onda de euforia nos mercados. Analistas revisaram para cima suas projeções sobre o crescimento de 2018, todos comemoravam a sorte e a fortuna. Sorte, pois, na ausência das principais reformas que haviam passado mais de ano implorando para que o governo fizesse, não houve turbulência ou forte desagrado. Investidores estrangeiros continuavam enviando recursos para o país e tudo caminhava como se os problemas de fundo tivessem desaparecido. Embalados pela ilusão, fizeram pouco caso das pesquisas que continuavam a mostrar a descrença da população, enraizada na popularidade de Lula — o mesmo Lula que havia caído em desgraça.


DIFÍCIL SUSTENTAR A RETOMADA DA ATIVIDADE

No artigo que escrevi em fevereiro de 2017, disse que seria difícil sustentar qualquer retomada da atividade, pois fôlego na economia não havia — a produtividade era demasiado baixa, a recessão deixara sequelas, e o país, como sempre, continuava isolado do resto do mundo. Argumentei, também, que as incertezas que inevitavelmente persistiriam no cenário político acabariam por impedir grandes reformas capazes de propelir o crescimento. Tudo isso foi antes do episódio na garagem do Jaburu. Passado pouco mais de um ano, assistimos ao enfraquecimento da recuperação econômica e à revisão de cenários dos analistas, e vimos que a incerteza não haverá de se dissipar tão cedo. A inflação continua baixa, mais pela incapacidade do país em gerar crescimento do que qualquer outra coisa. O desemprego? Bem, esse infelizmente voltou a subir. Em março de 2018 o índice de mal-estar da economia brasileira estava estacionado em 15,7 pontos, dessa vez com uma taxa de desemprego de 13,1% e com tendência de alta.


INFLAÇÃO ALEIJA, MAS O DESEMPREGO MATA

Parafraseando Mario Henrique Simonsen, a inflação aleija, mas o desemprego mata.
É possível que, para a população que não tem tempo de ficar fazendo exercícios de projeções econômicas, ou mesmo refletindo sobre os rumos do Brasil, o quadro desalentador de 2015 fosse melhor do que este que temos agora. Afinal, a recuperação veio, mas os empregos ainda não estão aí.
Não escrevo essas linhas apenas como economista. Como economista, bem conheço as defasagens que influenciam o desemprego, a inflação, a atividade. Mas o eleitor, esse que responde a pesquisas de opinião, não está interessado nas explicações de por que 2015 na verdade foi pior do que o quadro que se apresenta hoje. Para o eleitor, pouco importam as defasagens. O que realmente interessa é que essa recuperação está sendo um verdadeiro suplício, e o preço será pago nas urnas.