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20 abr 2018

EU GOSTO, EU QUERO, EU POSSO?


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SOCIEDADE CONFUSA

Quanto mais se aproxima a data das ELEIÇÕES 2018, a maioria das pessoas com quem tenho conversado e/ou trocado mensagens, que até pouco tempo atrás se mostravam confiantes de que o Brasil estava, enfim, preparado para uma GRANDE VIRADA, começa a dar sinais de que está confusa.


ÁGUA GELADA

Este estado de dúvida cresceu depois da divulgação da pesquisa Datafolha, nesta semana, dando conta de que 57% dos eleitores apoiam prisão após condenação em segunda instância e só 36% defendem prisão depois de esgotados todos os recursos possíveis.  Mas, o balde de água gelada veio mesmo com a informação de que este entendimento é maior nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Que tal?


GOSTO, QUERO E POSSO

Na realidade, esta terrível confusão está ligada ao sentimento que as pessoas normalmente manifestam em relação ao -GOSTO, QUERO E POSSO. Ou seja, nem tudo que eu GOSTO eu QUERO; nem tudo que eu QUERO eu POSSO; nem tudo que eu GOSTO eu POSSO, nem tudo que eu POSSO eu QUERO...


ARTIGO DE ANTÔNIO BRITO

Aliás, a propósito desta confusão que se instalou na cabeça dos eleitores, eis o que diz e pensa o ex-governador Antônio Brito, no seu artigo publicado no PODER 360, com o título -SIM, ESTÁ CONFUSO O CENÁRIO ELEITORAL-:


VITRINE 1

O PT, na obrigação de não abandonar Lula, atrasa o inevitável –a definição de outra candidatura– e à medida que radicaliza seu discurso escolhe voltar a circular apenas no apertado espaço onde já estão PSOL e PCdoB. Marina e Joaquim Barbosa são produtos com mercado mas sem rede de distribuição. E uma enorme dificuldade, por razões diferentes (algumas são qualidades), para articular apoios.


VITRINE 2

A vitrine de Ciro é um pouco mais ampla, mas ele terá de escolher entre a improvável sedução ao PT ou a tentativa de voltar-se para o centro e passar a dizer o que não pensa.

No centro tudo é racional, mais organizado, aparentemente mais calmo. Perfeito, se houvesse votos.

E por último, um candidato cuja melhor estratégia seria não falar, não escrever, não aparecer – Bolsonaro.


ESQUERDA

O pior, porém, não é o que está confuso. As notícias ruins sobre a eleição de 2018 vêm das poucas certezas que já é possível se ter. A primeira vem da esquerda. A estratégia de radicalizar traz uma péssima consequência para o País. O PT abandona, temporariamente, o único caminho que foi ou será capaz de garantir-lhe futuro, dar passos em direção a um socialismo democrático, ético, moderno, sensato. Sem isso, garante-se ao próximo governo uma oposição que, ao menos de início e até que as forças se alterem dentro do PT (vale dizer na cabeça do Lula), não estará disposta a diálogo nenhum em meio a uma grave crise do País.


CENTRO E DIREITA

O chamado centro ainda não entendeu uma questão simples: o que falta a seus candidatos não é carisma (Alckmin) ou habilidade política (Meirelles). Falta ter o que dizer à população pobre e marginalizada do Brasil. Em 30 anos de democracia, só houve um discurso que a população entendeu originado do centro: o Plano Real. Antes e depois dele, a ideia social-democrata perdeu-se no Brasil com o fracasso do PSDB a ponto de a única voz jovem no partido, com ideias sintonizadas com o dia de hoje, vir de um político com 86 anos de idade, Fernando Henrique.

A direita igualmente não se organiza. Os partidos que teoricamente defenderiam posições mais conservadoras transformaram-se em empreendimentos comerciais, mais atentos à Polícia Federal que à escolha do novo presidente. Afinal, qualquer que venha a ser, eles estarão lá, residentes permanentes do Palácio do Planalto.

Ou seja: essa confusão deixa muito claro o fracasso entre nós da concretização de três ideias que, simplificadamente, organizam a disputa política em qualquer lugar do mundo: a esquerda; a social democracia mais ou menos liberal; e o pensamento conservador.

Daí decorrerá outra certeza. Vamos assistir acima de tudo a uma disputa entre temperamentos – e que temperamentos. Ao ganhador oferecem-se imagens das sombras de Jânio e Collor. Mais uma vitória construída sem maquete, sem fundações e sem estrutura. E dependente do conhecido apoio dos sempre-no-poder. Personalidades fortes, vitaminadas pela vitória e que se descobrirão minoritárias diante de um Congresso – outra certeza – que nem vai melhorar nem vai voltar sintonizado com o País real.

Basta olhar. Barbosa, aposta nova, vestirá roupas de centro-esquerda mas grande parte de sua presumível força eleitoral virá de um segmento absolutamente conservador que o adota pela lembrança do ministro justiceiro no Supremo. Ciro, para crescer, precisa localizar no Nordeste a herança, deixada por Lula, de uma população que, condenada pela desigualdade brasileira, espera e precisa de milagres.

Marina, já identificada no passado com o eterno sonho brasileiro de eleger um igual (pobre, negro, operário, vindo “de baixo”) perdeu sua identidade (na forma como é percebida). Alckmin dependerá do milagre de, em seis meses, convencer esta mesma população desencantada de ser garantia de esperança no que interessa: o bolso, o estômago, a saúde, a segurança. Bolsonaro, já no limite da obtenção do voto-raiva, terá igualmente um caminho muito difícil, dificuldades que começam por ser ele o candidato.

Em síntese: o que há de estruturado, nem importa se bem ou mal estruturado, está sendo vítima (merecida) dessa busca sofrida pelo novo. E o novo, raramente novo de verdade, chega acompanhado pelo que há de mais velho no Brasil: personalismo, instabilidade, apoio de partidos comerciais.

Não sejamos pessimistas. Existe, sim, uma possibilidade. Única. O fato que, este sim, seria novo para valer, inédito: a sociedade brasileira transformar as dores de todos esses últimos anos em razão para uma participação histórica na eleição.

Isto estará claro ou confuso para a sociedade?