PENSAR!
O editorial de hoje é assinado pelo economista Marco Túlio Ferreyro, membro do PENSAR! Boa leitura!Impressiona o elevado grau de descolamento que o discurso e demandas das Centrais Sindicais em relação ao momento vivido pelo País e pelo Estado e, principalmente, em relação às reais e verdadeiras necessidades e anseios dos seus ditos representados, os trabalhadores. Por exemplo, vejamos a questão do salário mínimo, tanto em nível nacional, quanto em nível regional.
ODE AO PASSADO
Ora, o salário mínimo constitui-se na verdade, em um símbolo do atraso, pois, é uma espécie de ode ao passado, por ser um símbolo do paternalismo estatal, o paizão provedor, representando a falsa idéia de que o bem estar dos indivíduos resulta de um ato da benevolência oficial e não do esforço e do mérito pessoal, de cada indivíduo.O pior é que a concessão de aumentos reais ao salário mínimo é vista pelos nossos míopes governantes e líderes de centrais sindicais, como uma eficiente política de redução de desigualdades, o que é uma grande falácia.
VIOLÊNCIA
Certamente, políticas de qualificação e capacitação dos trabalhadores, aplicadas de forma sustentada ao longo do tempo, tem maior efetividade para o aumento dos rendimentos destes, do que a imposição arbitrária de um salário mínimo, violentando a dinâmica do mercado.
PRODUTIVIDADE
Aumentos de salário real sem a contrapartida em termos de aumento da produtividade do trabalho, não se sustentam e acabarão sendo corroídos mais adiante por efeito inflacionário decorrente da remarcação de preços, além de empurrarem mais trabalhadores para o desemprego ou para o emprego precário, na informalidade.Vejamos outro eixo desse descolamento, verdadeira dissonância cognitiva: A proposta esdrúxula de redução da jornada de trabalho. Que mentes brilhantes!
JANELA DE OPORTUNIDADE
O Brasil tem hoje, semi-aberta, uma imensa janela de oportunidade demográfica. Explico: Nos próximos 20 anos, o Brasil terá proporcionalmente, um enorme contingente populacional de pessoas em idade produtiva - entre 15 e 64 anos.Em suma, o Brasil terá duas décadas, daqui até 2030, para aproveitar tal janela ? o chamado cenário de bônus demográfico-, preparando o país para sustentar o elevado contingente de idosos que surgirá em três décadas. Então, é hora de trabalhar mais para gerar mais riqueza, empregos, renda e (até mesmo) impostos e não de reduzir a jornada.
EDUCAÇÃO
No entanto, a otimização do aproveitamento desta dinâmica demográfica, no sentido de proporcionar prosperidade econômica e desenvolvimento humano, dependerá da possibilidade deste enorme contingente populacional ser adequadamente educado, qualificado e capacitado para um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, não somente em nível nacional, mas, também, em escala global.Portanto, ao invés de empunhar as mesmas, velhas e surradas bandeiras de sempre e o que é pior, na contramão das atuais necessidades do país, porque as Centrais Sindicais e suas líderes não deixam o velho e barato proselitismo sindical-populista de lado e passam a incorporar uma agenda verdadeiramente positiva, erguendo as bandeiras da educação de qualidade e qualificação profissional?
DESINTERESSE SINDICAL
Certamente, não há amparo maior e melhor ao trabalhador do que qualificá-lo e capacitá-lo, tornando-o apto, por exemplo, a preencher os quase dois milhões de vagas, de ofertas de trabalho no ano passado que não foram preenchidas no Brasil, por absoluta falta de qualificação dos pretendentes, somente de acordo com os dados do SINE.Então, como explicar a falta de interesse das centrais sindicais (ao menos aparentemente) em debater de forma midiática, assim como o fazem em relação à questão do salário mínimo e projetos como o que defende a jornada de trabalho? Por que não explicam que na proposta orçamentária do FAT, aprovada para o exercício de 2011, estarem previstos apenas R$1,1 bilhão em recursos para programas de qualificação profissional, enquanto que, ao mesmo tempo, R$21,4 bilhões estão assegurados para pagamentos de seguro-desemprego?Mormente, caríssimas, lideranças das poderosas centrais sindicais, é ou não é um grande contra-senso o fato de quase dois milhões de vagas ofertas no mercado no ano passado não terem sido preenchidas por falta de qualificação profissional e aquele que se chama de Fundo de Amparo ao Trabalhador destinar apenas 2,26% do total de suas receitas para 2011 (48,6 bilhões), ao mesmo tempo em que se asseguram 44% desse montante para pagamentos de seguro desemprego? Onde está a lógica econômica e as boas práticas na gestão da coisa pública, uma vez que, a maior parte dos recursos do FAT sai de impostos como PIS/PASEP (R$33,5 bilhões), que em última análise, são pagos por toda sociedade contribuinte (famílias e empresas) do país? A escassez de trabalhadores qualificados apresenta-se como um sério obstáculo à obtenção de taxas mais robustas de crescimento econômico e que poderiam vir acompanhadas da redução das desigualdades, uma vez que, comprovadamente, a educação anda lado a lado com a renda. Sem um salto educacional, o Brasil continuará apresentando níveis de pobreza e de desigualdade que não são admissíveis em uma sociedade democrática e que quer ser justa.Apenas através de políticas públicas que sejam capazes de produzir a igualdade de oportunidades educacionais de qualidade, preferencialmente com adoção de incentivos através da meritocracia, iremos conseguir reduzir a desigualdade de renda e os níveis de pobreza. No restante, há o conjunto de políticas meramente assistencialistas, empobrecedoras e que condenam à servidão.Por fim, cabe dizer que as percepções e o contexto analítico acima desenvolvido, foram feitos e motivados pelo exercício da lógica. Infelizmente, no entanto, a luz da lógica não consegue penetrar na escuridão da cegueira ideológica daqueles que insistem em empunhar bandeiras do atraso e se manter na contramão da história.