OPINIÃO DA RC CONSULTORES
Os economistas Paulo Rabello de Castro e Marcel Caparoz, ambos da RC CONSULTORES (rcconsultores.com.br) produziram um importante conteúdo que traça um CENÁRIO CAMBIAL PARA 2021. Como estamos iniciando o mês de outubro, quando muitas empresas tratam de construir as bases do PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E ORÇAMENTÁRIO para o novo ano que se aproxima, creio que a opinião da RC pode contribuir para a execução desta importante tarefa. Eis:
A MAIOR DESVALORIZAÇÃO JÁ REGISTRADA
As economias emergentes sofrem neste momento um processo de forte desvalorização de suas moedas nacionais, influenciadas em parte pelos impactos econômicos gerados pela pandemia da Covid-19. O Brasil tem se destacado por registrar uma das maiores desvalorizações de moedas frente ao dólar. Em 12 meses, a queda do Real já é de 36%. Em relação ao topo histórico da cotação nominal, que atingiu R$/US$ 5,94 em 13/05/2020, a cotação atual de R$/US$ 5,6 está apenas 5,4% abaixo daquele patamar máximo. Toda esta volatilidade prejudica diretamente o planejamento produtivo das empresas do país.
INÍCIO EM 2020
O forte movimento de desvalorização do Real, que teve início nos primeiros meses de 2020, não era esperado por grande parte dos economistas. Ainda mais com a velocidade e intensidade da desvalorização registrada. Em janeiro/20 a cotação ainda estava na faixa de R$/US$ 4,00, saltando para R$/US$ 6,00 em apenas quatro meses. Em relação à cotação de nov/19, a perda de valor é da ordem de 42%. Uma variação cambial tão significativa sempre cobra um preço em inflação futura. Desta vez não será diferente. Em compensação, as desvalorizações no Brasil trazem impulso produtivo, especialmente na indústria. Esse é o lado positivo, desde que a volatilidade do câmbio não seja tão acentuada.
O PAPEL DAS EXPECTATIVAS
As expectativas econômicas e políticas no Brasil eram otimistas após a formação do novo Ministério da Economia. O mercado passou a contar com o avanço quase certo das REFORMAS ESTRUTURAIS, como a PREVIDENCIÁRIA, ADMINISTRATIVA E A TRIBUTÁRIA. Seria um ponto de virada, com um novo ambiente de negócios no país, com mais eficiência e competitividade, reforçando as iniciativas reformistas da gestão anterior, do presidente Michel Temer. As promessas eram muitas, os discursos sobre grandes privatizações e concessões animavam ainda mais. Era questão de tempo para a retomada dos investimentos e dos empregos.
O RUÍDO POLÍTICO ABASTECEU O APETITE ESPECULATIVO NO REAL
Não foi o que aconteceu. A ficha, no entanto, demorou a cair. A pandemia da Covid19 contribuiu para tal constatação do mercado e acelerou um processo de perda de credibilidade do ministro-chave do governo. A equipe econômica praticamente se desfez, restando com prestígio os presidentes do Banco Central e da Caixa. A RC Consultores já alertava para as dificuldades de o Ministério da Economia operar em 2019 sem fundamentos firmes e um plano claro a seguir. Isso ficou nítido nos embates em torno da reforma da previdência cujo conceito central - de capitalização de contas de contribuição - foi se perdendo no caminho. A partir da verificação de equívocos graves na PEC da reforma previdenciária a RC se posicionou de modo crítico e fez sugestões práticas de aperfeiçoamento. Nenhuma delas teve sucesso. Acabou sendo aprovada uma REFORMA INEFICAZ E INJUSTA, que NÃO RESOLVERÁ os problemas cruciais de FUNDING PREVIDENCIÁRIO, mas que fomenta o abandono das contribuições regulares em prol de outros planos subsidiados de benefícios (tipo MEI, Simples e Funrural) cujas vantagens permaneceram intactas.
Assim, essa reforma enviesada, já sinalizava, em 2019, como seria o padrão de atuação do governo. Dito e feito. Na reforma seguinte, a TRIBUTÁRIA, o governo insistiu numa CPMF (e ainda insiste) em vez de enxergar a urgência de uma REFORMA ABRANGENTE. A pandemia deixou claro o descompromisso com a contenção de gastos no campo fiscal e a falta de sensibilidade para a urgência de ampliar o socorro creditício às empresas. O governo se abraçou ao auxílio emergencial com o qual criou uma ponte de cunho populista para alcançar seu público de apoio. A menção ao descolamento do discurso original do "Posto Ipiranga" do governo explica, EM GRANDE MEDIDA, a intensidade da desvalorização cambial de 2020. A direção era dada, mas a intensidade da queda do Real não. O ruído político abasteceu o apetite especulativo no Real.
O QUE DEVE ACONTECER
Os próximos passos do câmbio estão na mão do Banco Central. O DESEQUILÍBRIO FISCAL AGUDO dificulta sobremaneira a missão do Banco, mas a defesa da moeda é objetivo primário da instituição. A condução da política monetária deve ser voltada para garantir este objetivo. Intervenções mais efetivas no mercado, com uma sinalização adequada sobre eventual elevação do nível de juros é imprescindível. As dificuldades atuais para rolagem da dívida pública por parte do Tesouro Nacional, com o aumento da inclinação da curva futura de juros e da forte alta dos preços no atacado, escancaram o desequilíbrio da política monetária de curto prazo. O Banco Central ficou "vendido" pela falha estrutural da política econômica interna. Neste sentido, considerando todos os fundamentos discutidos até aqui, a RC Consultores acredita que uma elevação da taxa de juros SELIC para o patamar de 4,0% a.a., com início no 1º semestre de 2021, aliada a intervenções efetivas e pontuais do Banco Central no mercado cambial permitirão uma cotação da taxa de câmbio na faixa de R$/US$ 5 a 5,50 (com mediana em R$5,10) até o final de 2021.
Uma observação final: o timing é tudo, na atuação futura do Banco. Estamos nas vésperas de eleições. Passado esse calendário político o BC precisa agir. O custo da ação de ajuste nos juros será tanto maior quanto maior for a demora em agir. E a mediana de R$5,10 para o câmbio em 2021 não comporta tal demora.
ESPAÇO PENSAR +
No Espaço Pensar + de hoje: O PRESIDENTE JAIR BOLSONARO VAI SE ARREPENDER DE KASSIO NUNES NO SUPREMO. CEDO OU TARDE - por J.R.Guzzo - para ler acesse o link: https://www.pontocritico.com/espaco-pensar