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23 fev 2022

BINÓCULOS IDEOLÓGICOS


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ADIVINHADORES DO FUTURO

Quem acompanha, como é o meu caso, os mais diversos BOLETINS ECONÔMICOS, já deve ter percebido que as previsões sobre o comportamento da economia brasileira estão entregues -menos para bons e capazes economistas- e -muito mais para VIDENTES-. Pior: as profecias feitas por esses -ADIVINHADORES DO FUTURO- são colhidas pelas lentes de potentes -BINÓCULOS IDEOLÓGICOS-, devidamente fornecidos pelos interessados e comprometidos contratantes. 

 

 


ADVINHAÇÕES SEMANAIS

Aliás, como bem lembrou o ministro da Economia Paulo Guedes, nos anos anteriores, notadamente durante os governos Lula/Dilma Petistas (está tudo lá para comprovar), o Boletim Focus, que espelha semanalmente as ADVINHAÇÕES feitas por dezenas de economistas, a cada início de ano, com pretensões claras de elevar o nível de confiança dos investidores, tinham como hábito jogar as EXPECTATIVAS DE CRESCIMENTO DO PIB para um patamar bem alto. A seguir, como a economia não reagia (vejam que no governo Dilma, por exemplo, o PIB -caiu- 7%), a cada semana os economistas eram obrigados a rever suas profecias, ajustando para baixo. No atual governo, como se vê, os PROFETAS passaram a fazer tudo ao contrário: iniciam o período projetando números pífios e na medida que eles reagem positivamente, se veem inevitavelmente obrigados a melhorar as previsões (vide PIB de 2021, quando as apostas eram desastrosas e tiveram que engolir uma alta de 4,7%).

 


CAUSAS DO DESEMPENHO

A propósito, enquanto escrevia este editorial, o consultor empresarial, Alex Pipkin, me enviou o seguinte texto onde aborda, em parte, as CAUSAS que refletem o comportamento da economia. Eis: - De maneira impensável, tem uma turma do quanto pior melhor, comemorando o crescimento “normal e pífio” que a economia brasileira deve ter em 2022. Estima-se que o PIB cresça em torno de 1%. Claro, é ano eleitoral, e sabe-se que muita gente vota pelo estômago. Muitos da turma mencionada foram e ainda são adeptos do “fiquem em casa, a economia a gente vê depois”… estão vendo? O resultado pragmático do fechamento econômico para a sociedade, comprovado cientificamente, - não para os funcionários públicos - foi o desaparecimento de muitos negócios, debilitação de outros e desemprego em massa, sem falar nos graves efeitos colaterais. A evitação de mortes por Covid-19 por meio de tal política foi insignificante. Essa é a mesma turma que é contra o crescimento econômico como regra; são os justiceiros sociais que combatem o capitalismo, que segundo eles, contribui para o aumento das desigualdades e aniquila o meio ambiente.


VOTAR BEM

Essa é a turma que deseja que a atividade econômica seja baseada no artesanato e na pequena agricultura, mas que do mesmo modo é contra o agronegócio brasileiro industrializado, tecnológico e pujante. Também gosto da economia compartilhada, mas objetivamente, essa nunca terá escala e será importante em tamanho para geração de empregos, renda e riqueza para todos. O Brasil tem milhões de pessoas desempregadas, e a única forma que um país pobre dispõe para melhorar seu ambiente social, dá-se por meio do crescimento econômico. Evidente que é essencial se votar “bem” - dentro do contexto - a fim de combater o “rent-seeking” na sociedade brasileira, já que também não adianta o país crescer e os benefícios deste crescimento continuarem sendo capturados por uma elite nacional de péssima qualidade - algo similarmente comprovado cientificamente.


SOBRAM DISCURSOS IDEOLÓGICOS

A indústria brasileira, que emprega muitos indivíduos, e que normalmente é o lócus dos processos de inovação, tem encolhido ano após ano. As projeções para a indústria em 2022, são de 0% de crescimento ou de redução na participação do PIB. Notadamente, verifica-se um aumento expressivo no setor de serviços. Somos um país introvertido, fechado, e dessa maneira não participamos ativamente dos investimentos e dos fluxos tecnológicos globais, o que inibe a produtividade e a expansão industrial.  Penso que, inclusive, é o avanço tecnológico que possibilitaria aumentar o leque de recursos disponíveis para produzir dentro de uma perspectiva “mais ambiental”. Novamente, um país pobre necessita de crescimento econômico, e apesar dessa turma querer interromper tal crescimento, eles não se dão conta que recessões desaceleram e, provavelmente, reduzem os recursos e, em alguns casos, os esforços para adoção de modos de produção mais limpos. Eles deveriam ler e compreender o conceito de destruição criativa de Schumpeter.

 

Não adianta a história econômica comprovar que foi o capitalismo e seu espírito e suas inovações, o responsável por tirar milhões e milhões de pessoas da linha da miséria e da pobreza no mundo. São os fatos. Sem a verdadeira economia de mercado, da qual estamos longe, não irá haver crescimento econômico significativo e, portanto, não há como reverberar para o campo social. Lamentavelmente, presumo que persistiremos com governos que, além de inibirem o crescimento econômico com suas políticas estatistas e intervencionistas, continuarão se apropriando da geração de riqueza por parte dos indivíduos e das empresas, e lançando mão - pesada - da cobrança de impostos cada vez maiores. Então, por que não se faz o que tem que ser feito? Faltam vontade política, foco na produção e em produtividade, sobram posições e discursos ideológicos, desconhecimento e maldades.