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O BRASIL NÃO SERÁ UM PAÍS DE DIREITA - 16.01.23


  Por Felipe Fiamenghi

   

    É horrível dizer isso, mas é a verdade. Se for, um dia, nós não estaremos aqui para ver. A questão brasileira vai muito além da política. É cultural. E a cultura não muda com uma simples troca de governo.

   

    Estamos acostumados com o Estatismo, com as benesses de um governo paternalista. Queremos mercado livre com previdência pública; Queremos menos impostos com saúde gratuita; Queremos liberdade com agências reguladores zelando pelos nossos "direitos"; Queremos pleno emprego com 13º, férias, FGTS... Queremos TUDO, não conseguimos nada.

   

    Qualquer coisa, nesta vida, tem ônus e bônus. Com a direita não é diferente. Não existe "american dream" com jeitinho tupiniquim.

    O brasileiro aprendeu a não assumir a responsabilidade. Reclamamos, xingamos, brigamos, mas não mudamos nunca.

   

    Queremos, sim, liberdade. Nos deslumbramos quando vemos, nos outros países, os preços dos carros, da gasolina, das roupas de grife, dos aparelhos eletrônicos. Queremos pagar 500 pratas em um iPhone, 30.000 em um BMW. Mas queremos, também, universidades federais, sistema único de saúde, aposentadoria bancada pelo governo. É nosso "direito".

   

    Nós não aprendemos, nem com muita porrada, que NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS. Tudo, absolutamente TUDO, que o governo nos "dá", foi pago. Invariavelmente, custou muito mais do que um serviço muito melhor na iniciativa privada.

    O problema do populismo é que esse "desensina". Não sabemos poupar, investir, cuidar dos nossos próprios interesses. Somos dependentes. Nós, com o Estado, somos como a mulher que abdicou da individualidade "por amor" e depois aguenta abusos, calada, por medo de passar fome sem o seu algoz.

    Odiamos nosso carrasco, mas não o abandonamos.

   

    Toda a discussão acerca da previdência vai muito além desta simples reforma. É uma questão de educação.

    Somos ensinados, desde pequenos, que o mercado financeiro é um monstro, onde só os ricos malvadões sobrevivem, roubando o dinheiro dos pobres que se aventuram por lá.

   

    A consequência é vista nos números. Apenas 2% dos brasileiros tem algum investimento no mercado de capitais, contra mais de 60% dos americanos, por exemplo.

   

    Enquanto os filhos do Tio Sam cuidam dos próprios futuros, nós ficamos nos descabelando, implorando para que os corruptos que nós elegemos, repetidas vezes, entrem em acordo e nos deem algumas migalhas.

   

    Enquanto esperarmos que o Estado tudo nos dê, seremos obrigados a aguentar os abusos do mesmo. Não adianta sermos utópicos. Não adianta sonharmos com o mundo perfeito. Preferimos pagar, reclamando, o custo desta máquina podre, do que assumirmos a responsabilidade por nossos próprios destinos. Liberdade é algo muito valioso E CUSTA CARO. Ainda não estamos dispostos a pagar o seu preço, aliás, acredito que poucos vão ler até aqui, se você o fez, compartilhe ou marque um amigo, vamos espalhar IDEIAS DE LIBERDADE!!!


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VIDA BOA - 12.01.23


Por Alex Pipkin

 

O ponto de vista objetivo e pragmático, o que os brasileiros necessitam para ter uma “vida boa”?
Exercendo, minimamente, meu poder de síntese, penso que precisam de liberdades: individual e econômica.
O verdadeiro problema número um neste país, é a falta de crescimento econômico, que possa assim reverberar para o social.
Atentar que é da arrecadação de impostos, proporcional à atividade econômica, que são gerados os recursos para a provisão de serviços públicos (de qualidade) e para os planos sociais do governo.
No entanto, estamos submetidos a uma escandalosa situação, que se equivale a uma guerra civil, com a nação completamente dividida.
A título de “salvar à democracia”, criou-se um Estado ditatorial no país, ceifando as liberdades individuais dos brasileiros, e retornando com a infame censura.
A cada dia que passa são noticiadas mais e mais surpresas negativas relacionadas com a perda dos direitos individuais dos cidadãos tupiniquins.
Não bastasse isso, os indicadores econômicos referentes a crescimento, taxa de juros, inflação, emprego, investimentos, derretem-se como se fossem cubos de gelo, e mais empresas fecham os portões e fazem as malas, a fim de zarpar de águas verde-amarelas.
Enquanto a “democracia vermelha” se preocupa em prender, cassar, censurar, investigar, monitorar, em nome da defesa da “democracia”, o país inteiro - ou quase todo - assiste perplexo a falta e/ou a escassez de políticas e de ações concretas e efetivas que encaminhem para o alcance de um real crescimento econômico.
Muito antes pelo contrário, o foco declarado tem sido em ações relacionadas aos grupos identitários, supostamente a cultura e as artes - não há como reprimir a explosão de amor que jorra de um grande coração vermelho. Tudo isso em prol das propaladas “democracia” e justiça social.
É surreal o número de vezes que a palavra democracia, nos seus mais infinitos sentidos, tem sido mencionada em todo o tecido social nacional.
Infelizmente, tenho o desprazer de afirmar que o que vêm sendo realizado até o momento, tem de fato destruído a democracia genuína, e minado, quase que irreversivelmente, qualquer possibilidade de atingimento de crescimento econômico no país.
Tal fato não só irá penalizar pesadamente os mais pobres, como também irá inviabilizar quaisquer projetos de planos sociais formatados de maneira inteligente, e que se implementados, sejam sustentáveis.
De forma patente, verifica-se o aniquilamento tanto da democracia, como também das bases sólidas para pavimentar o caminho do crescimento econômico de verdade.
Sem crescimento econômico, o investimento no social desaparece, só com o populismo e o iminente caos.
De maneira objetiva e pragmática, eu já vi esse filme nas artes, na “ficção” cinematográfica, e na realidade de alguns países aqui por perto.
Será que os brasileiros pensam que necessitam daquilo que considero como sendo o “ar que se respira”?
O ar puro das liberdades individuais, e da possibilidade de ser livre para empreender de acordo com seus próprios objetivos, estimulados por incentivos institucionais adequados para tanto.
Nesse tóxico (risos) ambiente de manipulação, já nem sei mais o que é vida, o que dirá “vida boa”.
A confusão da realidade é gigantesca mesma, mas será que os brasileiros desejam e anuem os pressupostos de uma “vida boa” mencionados por mim: liberdades individual e econômica?


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Os ingênuos e os mal-intencionados - 11.01.23


 

Por Percival Puggina
  
         Cada vez que a elite política e intelectual que domina o Brasil usa a palavra democracia, meu aparelho digestivo reage com engulhos. Numa democracia, senhores, existe respeito a lei e limites ao uso que as autoridades fazem de seus poderes. Nesses bem-aventurados países, vive-se uma realidade posterior ao absolutismo e nenhuma cabeça, coroada ou não, age como se não houvesse lei, nem Justiça, nem humanidade. Neles, o bom exemplo vem de cima e as motivações pessoais do lobo não submetem os cordeiros.
 
Os reprováveis e lamentáveis acontecimentos do dia 8 têm seus motivos, mas motivos não são razões da razão. Assim também, não são razões da razão as que levaram nosso país à dura realidade de termos um campo de concentração funcionando na Capital Federal onde seres humanos capturados com rede de arrastão foram conduzidos de modo imprudente e indiscriminado. A quantos dias estamos de tresloucada e arrogante versão brasileira de um gueto para opositores?
 
Quando idosos arrebanhados, rotulados com a pecha de terroristas são submetidos às degradantes condições que vemos eu me pergunto: quem, realmente está promovendo o terror; quem se dedica a criar medo na população? Serão, realmente, aquelas pessoas enroladas na bandeira do Brasil? Em quem suas orações e seu devotado amor à pátria causam pânico?
 
Lembrou-me alguém que “os filhos das trevas são mais espertos que os filhos da luz”. Quem não foi esperto, eu sei. Quem não foi esperto cometeu o que qualifiquei e continuo qualificando como um erro descomunal. Quem foi esperto disse que mané perdeu. Quem foi esperto extrairá do dia 8 todo proveito possível  e boa dose do proveito impossível.
 
O ministro Alexandre de Moraes tem agora o enredo que lhe faltava para a sigilosa novela que, há anos, vinha tentando escrever. Até prova em contrário, continua sendo mero script. Nada me convence de que a ideia da tal invasão de Brasília nos dias 6, 7 e 8, convocada num vídeo que assisti, já não fosse 100% infiltração. Mas, vá saber!
 
Caros leitores, perante os fatos, de nada vale esbofeteá-los ou injuriá-los. Não é assim que eles mudam. Fora da política não há salvação. Quem não crê no trabalho político está admitindo não haver salvação. E está deixando todo o trabalho para quem crê. Como escrevi há muitos anos: “Os ingênuos estão na cadeia alimentar dos mal-intencionados”.


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As invasões em Brasília foram um desastre e não haverá pacificação com Lula - 10.01.23


Por J.R. Guzzo – publicado na Gazeta do Povo

 

A invasão e a depredação do Supremo Tribunal Federal, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto são um desastre com perda total. Os invasores e depredadores protestavam, com esses extremos, contra o estado de exceção em que vive o Brasil, por imposição das ações ilegais do STF, e contra um governo que julgam abusivo, corrupto e ilegítimo. Não têm razão, nem desculpas e nem atenuantes, para nada do que fizeram. Qualquer direito que um protesto político possa ter desaparece quando esse protesto viola a lei; qualquer razão desaparece quando vem acompanhada de violência. Em Brasília, neste domingo dia 8 de janeiro, a oposição militante ao consórcio Lula-STF, colocou a si própria na ilegalidade.

 

É um péssimo sinal do que pode vir aí pela frente. O STF transformou o Brasil, ao longo dos últimos anos, numa ditadura do judiciário. Foi essa ditadura que eliminou as leis do país para levar Lula à presidência da República e para impor um estado policial na sociedade brasileira - com a abolição do processo legal, dos direitos individuais e das liberdades públicas. O novo governo mostra todos os dias a sua obsessão pelo revanchismo contra adversários, por medidas de repressão contra os que discordam por meios legítimos e pela aposta radical num Brasil dividido entre “nós” e “eles” – “nós” é Lula, “eles” é tudo o que não é. Declarou e trata como inimigos, simplesmente, os 58 milhões de brasileiros adultos que votaram no seu adversário nas últimas eleições. Tudo isso só fica muito pior, naturalmente, quando à ilegalidade dos atos do STF e do governo vêm se somar os atos de opositores que usam como instrumento de ação a prática de violência, vandalismo e outros gestos criminosos.

 

O presidente da República, na contramão do que sempre dizem a mídia e outros devotos sobre a sua “habilidade política”, capacidade de “negociar” e inclinação à tolerância, não demonstrou a menor intenção de pacificar os ânimos, ou reduzir as tensões do momento. Ao contrário: em seu discurso de reação às violências de Brasília só jogou mais combustível na fogueira. Decretou a intervenção no Distrito Federal – seguida, aí já por decisão do ministro Alexandre de Moraes, numa exótica deposição por três meses do governador. Prometeu repressão. Fez ameaças. Lançou acusações – até contra “bandidos” do “agro”. Não mostrou o menor interesse em buscar algum tipo de conciliação nesta hora que exige, acima de tudo, compreensão do que está acontecendo. Lula, pelo que disse até agora, não está interessado em punir crimes dentro do indispensável processo legal, como é o seu dever e o seu direito – está interessado em vingança. O STF quer a mesma coisa. É o contrário de uma receita de paz.


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MMT: um delírio para as condições brasileiras - 06.01.23


Por Darcy Francisco Carvalho dos Santos

  

Começo por definir MMT, que é a sigla em inglês de “Modern Monetary Teory” ou em português, Teoria Monetária Moderna, que inverte a maioria dos conceitos econômicos conhecidos até então. Podemos chamá-las também de Finanças Funcionais, denominação atribuída ao economista Abba Lerner, um contraponto às Finanças Públicas Saudáveis ou Ortodoxas.

Estas últimas defendem o equilíbrio orçamentário e o controle do crescimento da dívida, mediante a formação de superávit primário, onde as receitas devem gerar um excedente sobre as despesas, a ser destinado ao pagamento da dívida, visando redução desta ou, no mínimo, seu comportamento estável ou decrescente em relação ao PIB. Esta é a posição do “mainstream” econômico, com a qual concordo.

Já, as Finanças Funcionais desenvolvem uma posição contrária. A teoria afirma que os gastos públicos não precisam ser financiados, pois são uma emissão de moeda, que deve ser feita antecipadamente. Os impostos vêm depois, porque as pessoas precisam dos recursos para pagá-los. Isso seria uma enorme incoerência, porque na economia as operações são um continuum, não sendo possível estabelecer o que vem primeiro e o que vem depois. É a velha questão nunca resolvida: Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?

Mas essa ideia é explicável na concepção de gastos e tributação da teoria em questão. Porque? Porque os impostos não são um recurso para financiar as despesas, mas um meio para enxugar a moeda existente na economia. Os pagamentos são feitos mediante emissão de moeda.  O déficit público é um fator gerador de moeda e de renda para as pessoas.

A teoria afirma também que um governo que emite sua própria moeda, a moeda soberananunca pode ir à falência ou ser incapaz de pagar suas contas, desde que elas sejam feitas na moeda que ele emite. Isso inclui o pagamento de juros aos detentores da dívida pública e os compromissos de pagamento das aposentadorias.

Sempre haverá recursos, bastando para isso uma autorização do Congresso Nacional, para que Tesouro e Banco Central façam as operações necessárias. Diz ainda: “Não é necessário que se ampliem tributos ou que se realizem empréstimos junto ao setor privado para que esses gastos sejam realizados. Trata-se sempre de mera decisão política”. (Cartilha citada nas Referências Bibliográficas, que não contém páginas numeradas).

Somente com essa concepção financeira pode ser chamado o teto de gastos de estupidez. Ele pode ter sido concebido com alguns equívocos, mas é uma tentativa de segurar a despesa, num país que ela cresce há mais de três décadas, 0,4 ponto percentual do PIB ao ano.

No entanto, a teoria exclui dessa condição a dívida externa, porque a ela é expressa em moeda estrangeira. Para pagá-la, ela necessita de moeda dessa origem, especialmente dólares.

Diante disso, podem ser feitas as seguintes considerações:

  1. Pelo orçamento para ano de 2023 está previsto um déficit primário que, com os ajustes da PEC de Transição, será de R$ 231,5 bilhões. Além dele, a soma assombrosa de juros da dívida de R$ 658 bilhões, totalizando um déficit nominal de R$ 890 bilhões!
  2. Pela MMT, se o Congresso autorizar, esse déficit pode ser pago ou rolado por emissão de moeda. Com isso, todo esse aumento da base monetária não geraria inflação?
  3. Mesmo desacreditando na Teoria Quantitativa da Moeda (TQM), conforme defende o economista André Lara Resende, que diz que ela nunca foi comprovada na prática, em pouco tempo nossa economia ficaria inundada de moeda.
  4. Se os déficits criam moeda, como afirma a MMT, e essa moeda for para a economia, sem que haja produção suficiente, não precisa se valer da TQM, para provar que haverá inflação. É a lei da oferta e da procura que nos ensina o que ocorre aumento de preços nessas condições.
  5. ajuda emergencial ocorrida após a covid é usada como argumento para os defensores na teoria de que sempre há dinheiro. O mesmo fato serve para contra-argumentar com salto inflacionário ocorrido em 2021, o que não quer dizer que foi não uma medida saudável e indispensável.

Acho que podemos estar diante de um novo encilhamento, tal qual ocorreu no início da República (1989/91), quando houve impressão de moeda em profusão, causando grande crise e inflação.  A Conta Movimento do Banco do Brasil nas décadas de 1970 e 1980 foi uma das causas da alta inflação da época. Mas não precisa irmãos tão longe. Fiquemos com a Nova Matriz Econômica, do Governo Dilma, que além de inflação, gerou uma queda de mais 7% do PIB.

Finalizando, podemos dizer que mesmo que o governo atual venha aplicar alguns postulados na MMT, será apenas parcialmente. Isso, porque, colocar em execução todos seus mandamentos seria, como diz o título deste texto: “um delírio para a condições brasileiras.


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LULA VAI GASTAR MAIS E VOCÊ VAI PAGAR A CONTA - 05.01.23


Por Paulo Uebel, publicado na Gazeta do Povo

 

O governo Lula III já deu sinais de que irá gastar mais: prova disso foi o empenho em aprovar a PEC para gastar bilhões fora do teto de gastos, que no final ficou oficialmente no valor de R$ 145 bilhões e garantia de outros R$ 23 bilhões em investimentos, antes mesmo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vestir a faixa presidencial. E agora? Quando um governante quer (por necessidade ou capricho) incluir novos gastos no orçamento do país, ele se encontra diante de um dilema: cortar outros gastos que já existiam ou aumentar a arrecadação, tirando ainda mais do bolso dos pagadores de impostos e encarecendo o custo de vida da população. O presidente Lula sinaliza, desde o ano passado, antes de tomar posse, que escolheu a segunda opção. Ou seja, você vai pagar essa conta!

 

E o furo do teto de gastos não vai parar nos R$ 145 bilhões. Na verdade, a PEC fura-teto permite outros gastos, e, por isso, o furo no teto pode chegar ao valor de R$ 215,2 bilhões, o equivalente a 2,4% do PIB (Produto Interno Bruto); de acordo com um novo estudo do Instituto Millenium. O estudo também lembra que, já que os “programas sociais” usados como desculpa para furar o teto não vão acabar em 2023, é provável que os gastos excessivos continuem nos anos subsequentes. A própria PEC tem um dispositivo para que isso aconteça. Por isso, muita gente chama de PEC da Gastança.

 

Fora o Auxílio Brasil ou Bolsa Família de no mínimo R$ 600, a PEC fura-teto também deixa fora do teto de gastos despesas como a execução de obras e serviços de engenharia custeadas por recursos transferidos dos estados para a União; despesas com projetos custeados com recursos decorrentes de acordos judiciais ou extrajudiciais de desastres ambientais e despesas das Instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação (ICTs), custeadas por receitas próprias, de doações ou de convênios, contratos ou outras fontes, entre entes da Federação ou entidades privadas. A PEC criou vários ralos que vão permitir gastos fora do teto.

 

No meio de suas aberrações, a PEC não apenas fura o teto de gastos, como também abre margem para que ele seja extinto de vez, “ao definir que o próximo governo encaminhe ao Congresso Nacional, até 31 de agosto de 2023, um projeto de lei complementar (PLC) para substituí-lo. Esta previsão permitirá que o novo governo transforme todos os gastos ‘temporários’ relativos a 2023 em definitivos, além de criar espaço legal para mais gastos, com uma proposta mais fácil de ser aprovada no Congresso (um PLC) do que uma PEC”, explicam Marcelo Faria, presidente do Instituto Liberal de São Paulo (Ilisp) e Wagner Vargas, cientista de dados especializado em políticas públicas, no estudo publicado pelo Instituto Millenium.

 

Como mencionado anteriormente, a consequência de tudo isso é óbvia: mais dinheiro tirado do bolso dos pagadores de impostos e mais custos para onerar a vida de todos brasileiros. A princípio, a materialização desses aumentos começam por meio dos tributos sobre combustíveis, que haviam sido reduzidos, mas que agora devem aumentar. Atendendo um pedido do próprio Lula, no final de dezembro, o novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ao então ministro da Economia, Paulo Guedes, que não gostaria que o governo de Jair Bolsonaro prorrogasse a suspensão da cobrança do Pis/Cofins sobre os combustíveis (suspensos até 31 de dezembro de 2022). Por pressões da sociedade, em seu primeiro dia de mandato, Lula prorrogou a desoneração sobre os combustíveis, mas por apenas 60 dias. Antes da prorrogação da desoneração, a estimativa era de que a volta da cobrança do imposto federal sobre combustíveis iria garantir aproximadamente R$ 50 bilhões a mais de arrecadação para o Governo em 2023 e nos próximos anos. Daqui a dois meses, quando a cobrança de tributos sobre os combustíveis retornar, toda a sociedade será penalizada.

 

Lula, sem dúvidas, poderia utilizar outras alternativas para ter recursos para investir em programas sociais, inclusive no longo prazo. A reforma administrativa, por exemplo, que daria fim a privilégios do alto escalão do setor público como licença-prêmio e férias de 60 dias, pode economizar cerca de R$ 330 bilhões (considerando União, estados e municípios) em 10 anos, conforme uma projeção do economista-chefe da RPS Capital, Gabriel Leal de Barros. Já um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) calculou uma economia de R$ 1,751 trilhão em duas décadas considerando apenas a redução de gastos com servidores da União. Entretanto, até agora, Lula não sinalizou interesse algum em negociar a reforma administrativa com o Congresso — e, provavelmente, não o fará, já que sua base de apoio está repleta de sindicalistas inimigos da modernização do setor público e do fim dos privilégios.

 

Daqui a dois meses, quando a cobrança de tributos sobre os combustíveis retornar, toda a sociedade será penalizada

 

E, em vez de seguir com as privatizações, que tirariam responsabilidade do Governo com diversos gastos e investimentos com estatais, ainda na época da equipe de transição, Lula deixou claro que iria paralisar todas privatizações que pudesse. Assim que assumiu a Presidência, Lula já revogou o processo de privatização de 8 estatais, incluindo da Petrobras, dos Correios e da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Por outro lado, vai aumentar os gastos com publicidade e propaganda das estatais: a mudança na Lei das Estatais aprovada na Câmara dos Deputados em dezembro concedeu a Lula o aval para aumentar os gastos com propagandas estatais em até R$ 20 bilhões. Falta o Senado votar. E, além disso, as torneiras do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) devem voltar a jorrar como na época em que Lula emplacou a política dos campeões nacionais (mais detalhes sobre isso em minha última coluna e também nesta outra anterior), um grande fracasso internacional.

 

O governo deveria trabalhar para melhorar a qualidade do gasto público, avaliando políticas públicas, cortando desperdícios, combatendo a corrupção, seguindo o programa de transformação digital do governo federal, dando continuidade a simplificação das estruturas organizacionais federais, bem como mantendo a reposição da força de trabalho de forma técnica, e não para contentar demandas sindicais. Infelizmente, essa não é a agenda do PT. Você não vai escutar nada sobre isso nos discursos do Lula. O PT vai seguir a velha cartilha de aumentar gastos, impostos e a inflação.

 

O aumento dos impostos e da inflação ampliam as desigualdades sociais e geram impacto em todos, principalmente nos mais pobres. É uma contradição que Lula tenha escolhido acabar com o teto de gastos supostamente para investir mais em programas sociais e assim ajudar os mais pobres quando o resultado disso é justamente tirar ainda mais dinheiro do bolso desses cidadãos mais vulneráveis.

 

Se Lula realmente quisesse reduzir a pobreza no Brasil de forma perene, deveria primeiro enxugar a máquina pública para poder fazer investimentos verdadeiramente inteligentes naqueles que mais precisam: e não apenas no que se refere a programas sociais como o Auxílio Brasil ou o Bolsa Família, mas também abrindo o mercado para que mais empregos e oportunidades sejam ofertados a essas pessoas. Ainda dá tempo de mudar a direção do governo Lula III: será que o presidente irá repensar suas escolhas ou vai querer continuar a velha prática de passar o custo da ineficiência estatal para os cidadãos?


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