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Bolsonaro vira "judas de sábado de aleluia" para a militância ambientalista - 25.09.2020


por J.R.Guzzo - publicado na Gazeta do Povo

 

Presidente Jair Bolsonaro é alvo de ambientalistas radicais por causa da política ambiental de seu governo. O Brasil não tem nenhum problema de verdade com a Amazônia, o Pantanal e o restante das regiões de vegetação nativa que cobrem uma extensão tão grande do território nacional. É o exato contrário. Os agricultores brasileiros podem dar lições ao resto do mundo em matéria de preservação do ambiente em que trabalham e produzem.

 

O Exército Brasileiro é um exemplo de competência, eficácia e empenho na defesa da floresta amazônica – sem ele, a região já teria virado há muito tempo um amontoado de enclaves tão sem lei como as favelas do Rio de Janeiro – entregues ao tráfico de drogas, à mineração clandestina, ao corte ilegal de madeira e outras desgraças. Todo cidadão que já saiu um dia do seu asfalto natal sabe que as leis brasileiras estão entre as mais rigorosas do mundo no controle das alterações que afetam a natureza.

 

O que o Brasil tem – mas, aí, tem que não acaba mais – é um problema na sua imagem internacional em matéria de ecologia. O nome deste problema é Jair Bolsonaro.

 

O problema não é que o presidente viva tocando fogo na Amazônia ou no Pantanal, caçando onça ou garimpando diamante – nunca fez nada disso, nem deixa fazer, mas é Bolsonaro, e sendo quem é, sempre servirá de judas de sábado de aleluia para a militância ambientalista do mundo inteiro. Pode passar o resto da vida plantando uma árvore por dia; não vai adiantar nada.

 

As ONGs, os partidos verdes, as universidades de país rico, a mídia internacional, etc, etc, querem usar Bolsonaro como uma bandeira para as suas causas, ou para defesa dos seus interesses. Não vão mudar de ideia só por estarem dizendo uma mentira. Na verdade, acharam no presidente do Brasil uma figura ideal, que junta a sua fome com a sua vontade de comer.

 

Querem guerrear contra Bolsonaro porque ele é de direita – e aí clamam pelo santo nome das florestas para turbinar a sua ação política. Querem manter viva a pregação ecológica, com boas ou más intenções – e aí se servem da imagem direitista do presidente para construir uma espécie de Coringa pró-destruição do planeta. Sempre é uma mão-na-roda ter um satanás para promover o evangelho.

 

Não há milagre capaz de resolver este tipo de situação. Mas sempre existe o recurso de combater a mentira com a divulgação sistemática da verdade. Basta, para isso, agir com inteligência, profissionalismo e perseverança – além de trabalho duro, é claro. Não vai convencer quem não quer ser convencido. Mas com certeza ajudará a mostrar a realidade para milhões de pessoas, em todo o mundo, que estão dispostas a ouvir a razão.

 

O problema é que não passa pela cabeça do governo brasileiro fazer nada remotamente parecido com esse esforço. A atitude oficial é sair para a briga de rua, xingar a mãe e gritar pátria amada Brasil. Resumo da ópera: vai continuar como está, com viés de piora.


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Crise reforça a exigência de ética e compliance - 24.09.2020


por Telmo Schoeler, publicado ontem no Jornal do Comércio.

 

Recentemente, um alto executivo de uma empresa de auditoria global revelou o tamanho do desafio que o Brasil enfrenta no campo da ética trazido pela pandemia da Covid19. Citando um estudo global, ele observou que o País tem o terceiro pior posicionamento, com metade dos entrevistados tolerando comportamento antiético na busca de resultados para superar as dificuldades.

O fato, obviamente, é péssimo a longo prazo. A cada dia que passa, valores como ética, compliance, integridade e legalidade, crescem como imposições fora das quais simplesmente não haverá sobrevida e sustentabilidade das organizações. Independente de crises, opiniões ou vontades. Ora, é preciso incorporar os bons exemplos de empresas que não focam apenas no retorno aos acionistas, passando a uma lógica de capitalismo consciente e inclusivo, com retorno a todos os “stakeholders”, incluindo as considerações ambientais. Por isso, o nome ESG, que significa respeito aos indivíduos, à sociedade.

A B3 anunciou a revisão da metodologia do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). A intenção é atrair investidores interessados em companhias que adotem boas práticas ambientais, sociais e de governança. Então vai ampliar a ênfase no G, na governança, como em outros países. Essa resolução consolida o compliance, ainda mais no seu papel estratégico nos negócios.

A crise atual e as mudanças por ela acarretadas, certamente serão superadas a curto prazo. A questão é o ESG e os seus princípios de Governança e gestão, que significam sustentabilidade e criação de valor no longo prazo. Nisso, os bons valores passaram a ser impositivos para captar dinheiro, contratar, produzir produtos e serviços, vendê-los, etc. E esse é o princípio das empresas que compõem o ISE da B3 cujo valor de mercado ultrapassa R$ 1.6 trilhões.

A despeito da pesquisa desalentadora, a realidade é que estamos no caminho da correção de rumo, hábitos e tradições secularmente erradas. A Lava jato, com as prisões de figuras notórias e os protestos diante da corrupção, ilustram bem isso.

E o empresário, que focar apenas em soluções paliativas, terá insucessos, pois todas as ações são infrutíferas quando passam ao largo dos corretos objetivos de longo prazo.

Ser ético, respeitoso e legalista é atemporal, impessoal, absoluto e, por fim, Shakespeariano... to be or not to be.


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ECONOMIA EM XEQUE - 22.09.2020


Texto do pensador Marcio Coimbra, publicado no jornal O Tempo de ontem, 21/9.

 

Na medida que cresce a popularidade de Bolsonaro, crescem também os GASTOS PÚBLICOS da rede de proteção social iniciada pela pandemia. O chamado “auxílio emergencial” foi essencial para que os números presidenciais galgassem pontos importantes nas pesquisas de opinião. A reversão desta popularidade, entretanto, será uma realidade na medida que os efeitos da pandemia se impuserem na economia.

O plano era rebatizar o Bolsa Família de Renda Brasil e turbiná-lo com recursos, carimbando o principal programa assistencial brasileiro com uma marca que remete ao governo atual. O mesmo plano que já foi iniciado com o “Minha Casa, Minha Vida”, que passou a se chamar “Casa Verde Amarela” e o PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, repaginado como “Pró-Brasil”.

 

No caso do Renda Brasil, o problema é mais profundo. Falta ao governo, até o momento, encontrar mecanismos para financiá-lo. O auxílio emergencial durante a pandemia, que distribui R$ 600 mensais, se tornou um programa de R$ 51 bilhões/mês para algo como 60 milhões de pessoas. Para efeito de comparação, o Bolsa-Família custa R$ 3 bilhões/mês para pagamentos a 14 milhões de famílias.

 

Se o auxílio emergencial se transformasse no Renda Brasil,  custaria R$ 612 bilhões por ano. Se cortado pela metade, ou seja, se fosse de R$ 300 mensais, ainda assim custaria R$ 306 bilhões/ano, praticamente 10 vezes o Bolsa Família/ano e o mesmo valor do total de gastos de custeio e investimentos do Orçamento federal. Um projeto inviável.

 

O governo tentou meios de custear este auxílio com outras fontes, o que causou a ira do presidente Bolsonaro com a equipe econômica, sepultando inclusive o nome do programa. O Renda Brasil, desta forma, morreu sem jamais ter nascido, mas o problema de uma popularidade turbinada por um auxílio que tem data para acabar preocupa o Planalto.

 

O impacto da diminuição do valor do auxílio pode erodir a popularidade do Presidente em pouco tempo, especialmente porque não existe um plano claro de transformação do mecanismo em programa de transferência de renda, tampouco recursos para operar este movimento. A situação é grave.

 

Hoje o número de beneficiários do auxílio emergencial é maior que o de trabalhadores com carteira assinada em 25 Estados brasileiros. Para cada trabalhador com carteira assinada, há quase dois recebendo o benefício. As pessoas recebendo o auxílio já correspondem a 68% dos 96,1 milhões da força de trabalho. No Maranhão, por exemplo, há cinco pessoas recebendo o benefício para cada empregado com carteira. Isto explica que o tombo na economia pode não ser tão grande este ano, mas escancara o fato de que (sem auxílio) o pior está por vir.

 

É preciso entender que a recuperação brasileira será muito mais lenta e dolorosa que se imagina. Nossa economia, que nunca foi robusta, sofreu um enorme abalo com a pandemia e diante do corte do auxílio emergencial, irá encarar a realidade somente no ano que vem. Sem recursos ou reformas, com economia desarrumada e refém de um déficit recorde, o Brasil tem muito que se preocupar, assim como Bolsonaro. Diante desse cenário, não há narrativa que sustente sua popularidade e garanta sua reeleição.


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