Espaço Pensar +

CHINA - 27.01.21


por Roberto Rachewsky

 

Sabe-se que a pessoa é ignorante ou é dogmática quando ela desconsidera o que a China fez em apenas 40 anos, e ainda a chama de comunista. De comunista, na China, só restou o nome do partido único que a governa. Partido este que tem 90 milhões de membros, várias vertentes ideológicas e que agora está sendo liderado por um sujeito autoritário.

 

Esses mesmos dizem que a liberdade econômica não produz liberdade política. Mas o que é a liberdade econômica se não liberdade política? Liberdade de expressar o que se pensa e agir como se pensa também enseja manifestações econômicas que resultam na criação de valores. Comunismo foi o sistema social, político e econômico vivido pelos chineses entre 1949 e 1978, ano em que o povo chinês foi liberado para produzir e prosperar.

 

A China possui um governo autoritário que limita os direitos individuais? Sim. No entanto, apesar disso, se é muito mais livre para florescer e prosperar lá do que aqui no Brasil, um país governado por uma elite parasitária e patrimonialista que quer controlar todos os aspectos da vida dos cidadãos brasileiros impedindo-os de criarem e manterem os valores que os permitiriam buscar e realizar a felicidade que almejam.

 

Aqui temos mais de 30 partidos e não um, mas o que se vê é que no poder alternam-se partidos que desenham um governo ainda mais autoritário do que o chinês. Ou vocês acham que ser governado por social-democratas e petistas é o auge do exercício da liberdade? Então, para os ignorantes e dogmáticos ressalto que ninguém está exaltando o regime autoritário que se criou a partir de 2008.

 

O que eu estou oferecendo aos recalcitrantes é a chance de perceberem duas coisas: que a China não é comunista, ainda que viva sob um regime autoritário; e, que liberdade econômica é produto e parte da liberdade política. Dizer que a China está melhor depois que abandonou o comunismo não significa dizer que eles já alcançaram a plena liberdade, mas que a liberdade mais importante que é poder ser produtivo para realizar seus sonhos e não morrer de fome, foi devolvida desde 1978.


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A bicicleta, o computador e o governo - 26.01.21


  por Roberto Rachewsky

   

    Quando em 1980, a Apple abriu seu capital ao mercado, cada ação foi oferecida por US$ 22,00 e durante o pregão acabou valorizada em 32%, alcançando quase US$30,00 naquele mesmo dia.

   

Hoje, se não tivessem sido divididas, o valor de cada uma daquelas ações seria de mais de US$530.000,00. Ao ganho expressivo de mercado, deveríamos acrescentar o que a empresa pagou de dividendos aos seus acionistas ao longo desses 42 anos, o que não foi pouco. Naquele mesmo ano, Steve Jobs, um dos maiores gênios que a humanidade já conheceu, explicou em uma palestra que está disponível na Internet, o que seria o computador para o ser humano e que desafios ele, Steve Jobs, teria pela frente para transformar aquele bem num instrumento de eficiência máxima.

 

Steve Jobs fez uma analogia, relacionando o que seria um computador para a mente humana com o que foi a bicicleta para o nosso corpo. O fundador da Apple citou um estudo que comparava a relação entre distância percorrida em quilômetros e o consumo de energia em calorias de diversas espécies de animais, inclusive o homem. Segundo esse estudo, o condor era o mais eficiente animal entre todos os analisados porque era o que gastava menos energia para se locomover em uma distância quilométrica. O homem ficava no terço inferior da lista porque a relação entre distância percorrida e gasto calórico era muito pobre. Steve Jobs mencionou também que alguém havia resolvido fazer esse mesmo estudo, porém com um homem usando uma bicicleta, mais um instrumento fruto da engenhosidade da qual apenas nós, seres humanos, dispomos.

 

O resultado obtido fez com que o homem superasse o condor deixando-o em segundo lugar naquela lista, com um resultado bem inferior ao do ciclista. Além desta evidência científica de como instrumentos podem fazer o ser humano superar suas limitações físicas naturais, Steve Jobs narrou suas próprias observações experimentais quando apresentava sua invenção magnífica, o computador da Apple, para diferentes públicos com diferentes habilidades e variadas demandas para aquele produto. Steve Jobs observou que especialistas aproveitavam a sua invenção de maneiras que nem ele havia imaginado. Fosse no campo da engenharia, da agricultura, da educação, das finanças, o computador se mostrou um bem universal que ampliava N vezes a eficiência na solução de problemas de acordo com a complexidade de cada especialidade para a qual ele servia.

   

Não foi apenas isso que o visionário empreendedor percebera. Ele notou que a dificuldade em lidar com o equipamento era inversamente proporcional à idade do público. Steve Jobs notou que crianças entre 10 e 12 anos tinham muito mais facilidade para se familiarizarem com o equipamento do que os adultos que viam no instrumento em si um problema adicional a ser superado para que ele pudesse se tornar um aliado na solução dos problemas originais, objetivo para o qual o computador havia sido criado. Steve Jobs fez referência ao estudo da bicicleta e a suas observações para dizer, lá nos idos de 1980, que seu maior desafio seria eliminar o fator problema inerente ao uso do computador como instrumento, fazendo com que ele se transformasse numa experiência sem demanda intelectual mas também que fosse agradável para o usuário.

 

Os números econômicos e financeiros da Apple e o impacto que ela teve para eliminar ou reduzir a pobreza no mundo, provam que Steve Jobs fez um diagnóstico preciso, como também conseguiu solucionar o problema de ineficiência na relação entre o beneficiário e o bem em questão, o próprio computador criado para solucionar problemas de uma maneira que, sem ele, a mente humana jamais conseguiria realizar. Saber neutralizar os problemas tecnológicos intrínsecos que existem em tudo aquilo que é criado pelo homem, saber superar os paradoxos de toda invenção humana para que os problemas causados por essa criação, não apenas não superem seus benefícios, como, idealmente, eles sejam eliminados de maneira que os usuários não tenham que enfrentá-los, tem sido uma dificuldade que para a humanidade quando se trata em resolver a questão da violência existente em qualquer sociedade.

 

Assim como é possível ao ser humano criar bicicletas ou computadores para beneficiar bilhões de pessoas, é possível produzir instituições para eliminar ou pelo menos diminuir a violência, a iniciação do uso da coerção, força ou fraude, do seio das sociedades. O governo limitado à defesa dos direitos individuais, projeto ensaiado e colocado em prática pelos pais fundadores dos Estados Unidos da América, tinha como objetivo resolver o problema da violência através de um intrincado sistema de leis, regulamentos e financiamento que visava proteger os Steve Jobs da vida de serem explorados de forma vil pelos imorais que pilham para saciar suas necessidades usufruindo do butim. No entanto, falhas no projeto, bugs e vírus na forma de políticos, burocratas e parasitas sociais transformassem esse instrumento de promoção das relações sociais pacificas, baseadas na confiança, numa tecnologia que acabou por despender tanta energia, gerando tanto sofrimento, que tornou-a em muitos casos um problema maior do que aquele para o qual foi criado para solucioná-lo.

   

Steve Jobs conseguiu eliminar o problema que envolvia a operação do instrumento que criara para ajudar os indivíduos a solucionar os seus próprios problemas sem terem que enfrentar um novo. Depois de 2500 anos de filosofia, de democracia, de república, de constitucionalismo, de parasitagem, de trevas, de iluminismo, de criação de valor, já temos conhecimento suficiente para criar um sistema político que se encarregue de eliminar o mal da coerção da sociedade, basta os bons conseguirem vencer os maus, nem que seja pelo próprio uso da coerção que se quer eliminar, coisa que também já experimentamos e não foi a muito tempo atrás. Um bem universal como um computador da Apple ou um iPhone, promove cooperação e trocas voluntárias que resultam em benefícios mútuos para os que se engajam livremente no processo de criação, manutenção e consumo de valor.

 

Para o governo ser implementado como um bem necessário, ele precisa ter essas mesmas características, acreditar que numa sociedade pacífica, baseada na confiança, apenas cooperação espontânea e trocas voluntárias são moralmente válidas; e que, para isso, é preciso que o governo se restrinja apenas à proteção dos direitos individuais inalienáveis, como o direito à vida, à liberdade, à propriedade e à busca da felicidade, sendo o governo uma tecnologia amigável, eficaz na eliminação do problema da violência, sem que ele próprio se torne o problema para o qual foi criado como instrumento de solução.

 

Sociedades onde o governo despende menos energia da sociedade, onde a regulação e a taxação são menores, sendo, portanto, o governo mais amigável e mais eficaz, o ser humano vive melhor porque pode aproveitar sempre mais o seu potencial físico e mental para criar, manter e consumir valor de forma moralmente válida para os ser racional que somos. Foi esse princípio que fez da Apple, da Amazon, da Microsoft e tantas outras, as líderes nos seus mercados. O Brasil como sociedade está no terço inferior da eficiência porque ainda não inventamos a bicicleta aplicada à governança estatal para a eliminação da violência do nosso país. Pelo contrário, o equipamento que criamos, nos impede de ter a mobilidade social que vemos em outros lugares e muitas vezes vemos que o equipamento que escolhemos nos move para trás e para baixo.


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O CONJUNTO DA OBRA - 25.01.21


por Percival Puggina
 
A mensagem que abri vinha do site O Antagonista, assíduo frequentador de minha caixa de e-mails, e reproduzia o título de capa da revista Crusoé desta semana. A revista, como se sabe, é ainda mais prolixamente antagonista do que o site e anda tão extraviada quanto o próprio Robinson Crusoé, personagem simbolicamente escolhido para lhe dar o nome.

         A manchete dizia: “O impeachment entra na agenda”. Você entendeu, leitor? É preciso que o impeachment entre na agenda. Então, passam a escrever sobre o que não estava na agenda, como forma de fazer com que se torne assunto e se passe a falar de algo que sequer estava em cogitação, exceto em círculos de intriga, tramoia e conjura que conspiram nesse sentido. Um processo circular, muito bem pensado.

Nestes dias, jornais e TVs dedicadas ao jornalismo militante estão fazendo exatamente isso. Mas se você for olhar atentamente, verá que é tudo merengue, sem consistência. Se parar de bater, dessora e acabou. A mídia esconde tudo que é feito e bem feito, passa todo tempo falando mal do presidente e julga armazenar substância para derrubá-lo do poder. Não tem povo, não tem voto, não tem motivo. E querer não é poder.

O jurispetista versejador sergipano Ayres Britto, ex-ministro do STF, foi escolhido a dedo para ser entrevistado pela Folha de São Paulo na semana passada. Incumbido de trazer o impeachment “para a agenda”, ciscou ninharias, listou banalidades, abandonou verbos e substantivos, apelou para adjetivos, reproduziu fake análises e, na ausência de fatos, sugeriu um impeachment pelo “conjunto da obra” como ele a conseguia ver desde sua reduzida estatura.  

Conjunto da obra? Mas é exatamente pelo conjunto da obra que esse impeachment não conta com apoio popular e vejo o presidente com boas possibilidades de ser reeleito. Aliás, é o que mostram as pesquisas. É pelo conjunto da obra que a sociedade não confia no STF. É pelo conjunto da obra que ela não confia no Congresso Nacional. É pelo conjunto da obra que ela rejeitou nas urnas de 2018 os partidos que até então haviam arrastado o Brasil para o caos econômico, social e moral. É pelo conjunto da obra de desinformação que ela não confia na mídia militante. Não será por maus modos e frases mal construídas que haverão de destituir um presidente eleito com 57 milhões de votos.

Na introdução que escreveu para a coletânea de textos intitulada “Uma campanha alegre”, em que ele e Ramalho Ortigão corroeram, com a acidez do mais fino humor, as estruturas da política portuguesa, Eça de Queiroz afirmou: “O riso também é uma opinião”.

Onde a seriedade some, o ridículo assoma e o riso é um bom companheiro.

* Publicado originalmente em Conservadores e Liberais, o site de puggina.org


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HÁ APENAS DUAS CADEIRAS NO JOGO DE XADREZ - 21.01.21


por Percival Puggina
 
Engana-se quem pensa que os grandes noticiários ininterruptos dos principais veículos de comunicação mantêm o público a par do que está acontecendo e ajudam a formar um juízo sobre os fatos narrados. Infelizmente não é bem assim. A desinformação começa na escolha dos temas. Noticiar algo significa, frequentemente, não noticiar algo. Há notícias escolhidas para difusão e notícias escolhidas para omissão.
 

A pluralidade dos meios não significa pluralismo nos meios. notadamente quando estes se tornam militantes de uma causa política, como está acontecendo no Brasil.


Salvo exceções, os noticiários de TV e rádio provêm de uma redação. Apenas noticiários rápidos e variados, acríticos, como os de rádio, lidos por locutores, poderiam sintetizar, ao longo do dia, o conjunto dos acontecimentos. Não haveria recursos humanos para abastecer um jornalismo completo com textos, imagens e opiniões sobre todos os fatos importantes de cada jornada. São pautados, então, certamente, os mais interessantes, os que servem aos objetivos da empresa e assim as opiniões são emitidas, ou omitidas. Aqui no Brasil, há dois anos, as notícias que servem nunca são boas ao governo. Estas vêm por e-mail ou em pequenos vídeos nas redes sociais. Na imagem diariamente transmitida em editoriais, colunistas selecionados, noticiários de TV e comentaristas cevados na casa ou convidados, o governo é formado por um grupo de malfeitores.

Que Bolsonaro não é o príncipe perfeito estamos cansados de antever e saber, mas é o disponível, como demonstram as peças no tabuleiro do xadrez da política nacional. Quando estamos jogando xadrez, de nada vale nosso desejo de que as peças estejam em posições diferentes. Elas são as que vemos, nas posições em que estão. A mesa tem uma cadeira de cada lado. O resto, em volta, é torcedor, é peru, é secador. As cadeiras, não obstante, são apenas duas.

Em menos de um par de anos teremos eleições e a posição das peças no jogo mostra que se ninguém chutar a mesa ou derrubar o tabuleiro da disputa presidencial, de um lado estará o príncipe imperfeito, com suas deficiências e qualidades; do lado oposto haverá alguém representando os derrotados na eleição de 2018: PT, PCdoB, Psol, PDT, Rede e outros afins. Nesse jogo, a vida me ensinou o que não quero.

Ora, se todo o empenho da mídia que considero militante, a que me referi no início deste artigo, vai a desfavor do lado onde joga o atual presidente, ela serve, então, doses diárias de suporte ao lado oposto. E o faz sem sequer precisar referir que esse lado existe. A CNBB fez a mesma coisa durante anos, atacando os governos não petistas e ajudando o partido a ponto de merecer, posteriormente, o público reconhecimento de Lula ao apoio recebido.

Note-se que a própria oposição sequer se movimenta politicamente junto à sociedade. Ela se beneficia mais com o cotidiano serviço que lhe é prestado por alguém supostamente “neutro”, interessado apenas no bem do país, como seriam os grandes meios de comunicação. Esse é o quadro. Quem não entendeu até agora, não entenderá jamais.

 

http://www.puggina.org

 


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PERGUNTEM AO JOSÉ DIRCEU - 18.01.21


por Percival Puggina

A preocupação maior de José Dirceu
Falando em Belo Horizonte, no dia 13 de novembro de 2018, durante reunião com militantes de seu partido, José Dirceu apontou o foco em que se deveria concentrar a ação dos companheiros. Sob aplausos, mencionou a importância da Cultura e da Educação. No dizer do principal estrategista do petismo, seus adversários não têm o controle dessas áreas. E encerrou com uma lisa e franca confissão: “A pior ameaça que nós vamos viver é a Escola Sem Partido porque a Cultura e a Educação é onde estão as mentes e os corações”.

Ganha sentido, então a pergunta a nós mesmos: é bom o resultado obtido pela nação com essa apropriação política da Educação e da Cultura em um país pluralista para ali ser exercido o domínio de corações e mentes?

STF e ministro Roberto Barroso
         Há cinco meses, mais uma vez o STF fez José Dirceu sorrir. Por 9 a 1 declarou inconstitucional o projeto de escola sem partido aprovado em Alagoas. Extinguiu a preocupação do guru petista! Em seu voto, combateu a neutralidade política e ideológica pretendida pela lei estadual. Alegou nada haver na Constituição sobre essa neutralidade e, lá pelas tantas afirmou: “Quanto maior é o contato do aluno com visões de mundo diferentes, mais amplo tende a ser o universo de ideias a partir do qual pode desenvolver uma visão crítica, e mais confortável tende a ser o trânsito em ambientes diferentes dos seus”.

         Fez de conta não ver a realidade para manter tudo como está. Aliás, não é exatamente essa única visão de mundo que a folgada maioria do STF impõe à nação?  E não é o que acontece na maior parte das federais, para ficar apenas com estas porque nós as custeamos?

Listas Tríplices
         Listas tríplices, como se sabe, não havendo burlas nem golpes, apresentam os nomes por ordem de votação. Em vista disso, entendem alguns que não escolher o primeiro é desconhecer o resultado de uma eleição democrática travada no corpo funcional que promove as três indicações.

         Um amigo magistrado alertou-me esta semana para o problema de fundo com uma frase singela. Disse ele: “Escolher o primeiro nada tem a ver com democracia”. E não tem mesmo. Dê-se razão ao sábio jurista. Pode até ter efeito contrário.

Corporativismo
         Impor a escolha do primeiro tem muito mais a ver com espírito de corpo, com corporativismo, com defesa de interesses particulares ou de grupo do que com democracia. Como escrevi em artigo anterior, a escolha de qualquer um dos três pelo governante permite a alternância no poder porque o governante que procede a escolha é parte de um sistema político e eleitoral que permite a alternância.  E essa é uma condição essencial ao pluralismo e às democracias. Todo o coro dos inconformados tem a ver com o resultado da eleição presidencial de 2018 e com a alternância que determinou.

         Há pessoas para as quais pluralismo, liberdade, democracia e estado de direito são rótulos de gaveta no maquiavélico laboratório educacional e cultural em que manipulam corações e mentes. Não lhes interessam Cultura e Educação, mas o poder que delas emana. Perguntem ao José Dirceu...

* Publicado originalmente em Conservadores e Liberais - puggina.org


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SINGULAR PLURALISMO NA UFPEL - 15.01.21


 

por Percival Puggina
 
         Dentre os fatos em curso na reitoria da UFPel, o que mais chama a atenção é o esforço dos envolvidos em conferir seriedade a ações adequadas ao palco de um grupo político.

         Dá tristeza admitir que em órgão vital de uma Universidade se costure estratégia tão ridícula. Estratégia, aliás, reveladora dos desvios de finalidade de que essas instituições são acusadas, numa generalização imprópria. Sim, generalizações são impróprias, mas o problema, onde existe, é este: elas se ideologizam, politizam e militam a ponto de fazerem coisas assim. A universidade é deles.

         Em tais instituições, quando tomadas, opera a contradição em termos de um pluralismo singular, monocular e monofônico. Um só pensar, um só ver e um só falar. Estabeleceu-se em seu corpo social uma ditadura do pensamento único, onde a divergência desperta mecanismos de rejeição, a exemplo do organismo humano em presença de corpos estranhos. Isso é gravíssimo.

         Chega-se, então, a prova provada pela UFPel: a reitora nomeada se presta à função de “laranja” do companheiro mais votado para integrar a lista tríplice. Os presentes à coletiva, em suas manifestações, tampouco deixam dúvida sobre as cores desse companheirismo, pois se referiram ao que faziam como forma de “contra atacar os golpistas de Brasília e de Pelotas”...

Para o fantasioso picadeiro acadêmico, o voto dos companheiros se sobrepõe à lei federal, aos poderes atribuídos pela Constituição ao presidente da República e à interpretação da lei já explicitada na liminar do ministro Edson Fachin. Na lógica da douta militância, impor seu querer através de um estratagema não é golpismo. Golpista é o governo, imperdoável por havê-los afastado do poder com o peso de 57 milhões de votos. O ministro Fachin, diga-se de passagem, também foi extraído por Dilma de idêntico ninho ideológico, mas não deixou de ler, na lei, o que ela diz: da lista tríplice, escolha o presidente quem quiser. Essa liberdade de escolha não convive com artimanhas, jogos de guerra ou laranjas para contornar as não escolhas do presidente. Se isso persistir, a universidade terá uma reitora de direito e um reitor de fato...

Sempre que a Constituição ou a legislação infraconstitucional atribui poderes de escolha ao governante, ela atende ao interesse de promover, graças ao rodízio dos grupos políticos no poder, simétrico rodízio entre diferentes visões de mundo, de sociedade, de vida. Evita-se, assim, o que acabou acontecendo no STF e na maior parte das universidades federais, com a destruição do pluralismo, da universalidade, do espírito acadêmico e do criativo convívio entre contrários. 

É compreensível a ira de quem aparelhou a universidade a ponto de se permitir a “rebelião” da UFPel. Compreender quanto dói uma saudade não é deixar de extrair a lição dissimulada no som cavo dos discursos vazios.

 

 

* Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.


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