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O SILÊNCIO DE UMA NAÇÃO - 10.08.23


Por Percival Puggina
 
         Prestem atenção, ouçam o silêncio. O Brasil emudeceu. Durante quatro anos, o povo foi sendo alertado sobre a própria irrelevância. Erguendo bandeiras que expressavam seu amor à pátria, ele ia às ruas e às praças de onde clamava inutilmente contra excessos de uns e omissões de outros. Aos tribunais superiores, os excessos; ao Congresso Nacional, as omissões. Quem como eu subiu em tantos carros de som ao longo de dez anos sabe do que fala ao afirmar que quanto mais se avantajava o “contramajoritário” poder das altas Cortes e se expandia o baixio dos interesses parlamentares, mais as instituições mostravam seu desdém à nação.

Por fim, o silêncio, a quietude de uma democracia deserta, sem povo. Muitas vezes penso que os senhores do poder se veem como representação política num deserto onde, aqui e ali, esqueletos cívicos testemunham a ação destruidora que os vitimou.

Só que não. A nova tirania, tirania é. Quem tem olhos de ver sabe o que vê. Tornozeleiras não inibem opiniões nem a percepção de injustiças e abusos. Consciências bem formadas doem e se condoem na dor alheia. Um sismógrafo que captasse emoções perceberia o ruído nesse subterrâneo dos sentimentos. A democracia relativa, contramajoritária, bem ao gosto das cortes e dos plenários, talvez não consiga captá-lo como tampouco o percebe um jornalista que me escreveu outro dia,

Ele é militante da tirania real combatendo os fantasmas das narrativas petistas.  Ele crê no que lhe dizem em detrimento do que os olhos capturam da realidade e por isso, após ler meu artigo “8 de janeiro, a narrativa e os fatos” (aqui), escreveu-me perguntando se não me envergonhava de afirmar o que afirmei. A seu modo, perante fantasmas ensinado a combater com lança-chamas retóricos, comentou cada parágrafo questionando os limites dessa minha falta de vergonha.

Constrangimento em forma explícita, que preferi não responder porque preferi tratar do assunto aos olhos e discernimento dos meus leitores.  Caríssimos, vergonha eu teria se calasse, se me sujeitasse, se conferisse meu silencioso consentimento àquilo que vejo. Aí sim, eu teria vergonha de mim! Jogo a democracia pela regra do jogo, não pelas regras dos tiranos e seus aprendizes. Nada há na Constituição de 1988 que iniba meu direito de opinar sobre os acontecimentos nacionais, os protagonistas de nossa política e as impropriedades de nosso modelo institucional.

 

Quando toda divergência for silenciada só se ouvirá o coro da tirania no velório da liberdade.


Como me disse certa feita em Havana um médico com quem conversei e me falou das dificuldades que a ditadura lhe impunha: “Solo el Señor es mi  señor”.


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NÃO É SEPARATISMO - ZEMA FAZ O QUE TODO GOVERNADOR DEVIA FAZER - 09.08.23


Por J.R.Guzzo (publicado ontem na Gazeta do Povo)

 

O ministro da Justiça, logo ele, faz um esforço cada vez maior para fabricar ódios entre os brasileiros, espalhar notícias falsas e comportar-se de maneira irresponsável em sua militância ideológica. Não é, e nunca foi, um ministro da Justiça – alguém que é pago para facilitar o acesso dos cidadãos ao sistema judicial, tratar as questões da cidadania e garantir a segurança interna. É um militante político, que usa seu cargo público para promover interesses da facção minoritária e extremista que comanda dentro do governo. O ministro está positivamente hiperativo neste momento. Acaba de acusar o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, de “traidor da pátria” – nada menos que isso, “traidor da pátria”. Na bula de excomunhão que emitiu pelo Twitter, o ministro colocou Zema na “extrema direita” e afirmou que ele está “fomentando divisões regionais”. Como um ministro de Estado, com obrigações junto a todos os cidadãos deste país, pode descer a níveis tão rasteiros de leviandade mal-intencionada?

 

É absolutamente falso que o governador Zema tenha incentivado qualquer tipo de “divisão regional”, como quer o ministro da Justiça. Não há a menor dificuldade para comprovar essa mentira: é só verificar, letra por letra, a entrevista que ele deu ao jornal O Estado de S. Paulo, e que despertou a ira histérica da extrema esquerda nacional. Podem ficar lendo a entrevista até o fim da vida, e não vão encontrar nenhuma proclamação ao separatismo, ou qualquer delírio do mesmo tipo. Tudo o que Zema diz, e não há possibilidade de entender mal o que ele disse, é que Minas Gerais e os Estados do Sul devem se unir para defender melhor os interesses de suas populações – que são sistematicamente prejudicados pela divisão do poder e dos recursos públicos do Brasil. O que pode haver de errado numa coisa dessas? Como um governador de Estado, eleito pela segunda vez consecutiva para o cargo, pode ser acusado de “traição à pátria”, quando apenas defendeu em público os brasileiros que são responsáveis por 70% de tudo o que o Brasil produz, somam mais de 110 milhões de habitantes e são tratados como cidadãos de segunda categoria? Muitos desses milhões, por sinal, são brasileiros do Nordeste – que se veem privados de uma participação justa na distribuição da riqueza nacional pelo simples fato de terem se mudado para o sul. É a obrigação do governador, na verdade, fazer exatamente o que fez.

 

A extrema esquerda e a militância jornalística, naturalmente, correram para apoiar o agressor. O que se pode esperar de diferente? Zema foi chamado de “abjeto”, “bolsonarista”, “fascista” e o resto do xingatório que a esquerda dirige automaticamente a todos os que têm uma opinião diferente da sua; seus devotos, aliás, ficam especialmente excitados quando esta opinião é racional. O fato é que o ministro da Justiça, que tem por obrigação garantir a ordem para os brasileiros, é hoje, junto com os extremistas que o apoiam, um dos mais ativos provocadores da desordem no Brasil.


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BURLESCO E DESTRUIDOR - 08.08.23


   Por Alex Pipkin

 

    Nessa Republiqueta vermelha, verdade-amarela, como quase todos nós sabemos, não existe correlação alguma entre as narrativas e os discursos bravateiros, e os fatos e dados.

    Inexiste qualquer tipo de compromisso e coerência com a genuína verdade objetiva.

   

    Por aqui, determinam-se objetivos, metas e indicadores - quando pressionados para tal intento -, exclusivamente por meio de populísticos sentimentos grosseiros e puramente instintivos.

    Não há uma análise racional e verdadeira com a intenção de se analisar a relação custo-benefício e o real objetivo de se cumprir com os objetos e metas “fixadas”.

   

    Nos governos do “amor”, além de se desrespeitarem metas, verbaliza-se que se irá “dobrar a meta”. É Kafkiano.

    Apesar do nobre sentimentalismo social-democrata grosseiro, de fato, a situação sempre está tal qual um pneu de carro de um reles mortal, ou seja, estourada.

    No (des)governo da completa irresponsabilidade fiscal, tudo é prometido, mesmo que tudo isso sempre se encontre estourado.

   

    A meta fiscal em Macunaíma já está deficitária agora, em 2023.

    Portanto, evidente que a enganação do arcabouço fiscal, ou melhor, calabouço, e suas respectivas metas, que ainda nem passaram pelo Congresso, são para inglês - e brasileiros ludibriados - ver.

    Estouro é aquilo que mais se escuta e se vê - e não se vê - por bandas tupiniquins.

    Metas, democracia, preocupação social, responsabilidade, união… tudo faz parte da nova velha novilíngua rubra.

     

     A narrativa bom-mocista e responsável, é pura onda e o lado negro do sentimentalismo.

    Agora, não será nenhum caso de originalidade petista: vai lá e “dobra a meta”!

    Além do “amor”, o (des)governo vermelho é, inquestionavelmente, da desunião e da desconstrução.

   

   Burlesco e destruidor, como aos costumes.


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HABITAT - 07.08.23


Por Roberto Rachewsky

 

Porto Alegre já foi conhecida como “a capital da vanguarda do atraso”. Subordinados a uma mentalidade anticapitalista, avessa à livre iniciativa e à propriedade privada, os políticos,que governaram a cidade por décadas, optaram pela decadência, em detrimento do desenvolvimento econômico e social. Em 1988, místicos ligados à nova seita pós-moderna do ambientalismo, promoveram uma manifestação na qual milhares de ativistas se postaram ao longo do Rio Guaíba para protestarem contra a urbanização da orla. O “abraço”simbólico, uma espécie de reza que os membros dessas seitas ideológicas costumam fazer, não funcionou e a orla foi urbanizada. Acredito que muitos desses “xiitas do meio-ambiente” se sentam nos gramados ou nas arquibancadas na orla para desfrutar do novo cartão-postal da cidade, tomandoseu chimarrão, aplaudindo o pôr-do-sol e tirando selfies,como faz todo “socialista-de-iphone”.

 

Lembro que a palavra “ecologia” deriva da junção dos termos gregos "oikos", que significa “casa”, e "logos", que quer dizer "estudo". Ecologia é um ramo da biologia, especializado em estudar a fauna e a flora que compõem o bioma de determinada região geográfica. Bioma também é conhecido por habitat. Porto Alegre situa-se entre dois biomas característicos: o Pampa, caracterizado por extensasplanícies com coxilhas cobertas por campos que cobrem a região sul da América do Sul; e, a Mata Atlântica, formada por floresta tropical que segue a costa em direção ao norte do Brasil.

 

Poderíamos dizer que entre esses dois biomas naturais, há um terceiro, uma espécie de bioma urbano, idealizado, construído e desenvolvido com o propósito de servir dehabitat aos seres humanos. Neste bioma, se destacam as áreas nas quais os porto-alegrenses “abraçaram” o rio Guaíba de verdade ao expandirem a cidade através dos aterros sobre os quais foram construídos entre outras benfeitorias, o Mercado Público, o Cais Mauá, o Gigante da Beira Rio, o Centro Administrativo, o Shopping Praia de Belas e o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, cuja remodelação provocou a ira dos seguidores da seita do ambientalismo e a paralização das obras com a cumplicidade de juízas do judiciário estadual, até que um desembargador liberou o andamento das obras, afastando o misticismo ideológico, fazendo justiça e trazendo racionalidade onde ela tem feito tanta falta.


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MÁSCARA GREGA DA TRAGÉDIA NACIONAL - 04.08.23


Por Dagoberto Lima Godoy

 

 

“Pela primeira vez, a gente está colocando o povo para dizer o que quer que a gente faça no governo e onde a gente aplica o dinheiro. E, quando tem o dedo do povo, é preciso respeitar.” (Luiz Inácio Lula da Silva - 11 de maio de 2023, Salvador-BA)

 

O Governo Lula está divulgando os resultados da consulta intitulada Brasil Participativo, realizada com grande alarde, movimentando a máquina estatal e conclamando a ajuda das organizações da sociedade civil. Com declarações como a acima epigrafada, da autoria do chefe, o governo pretende passar a ideia de que se trata de um legítimo instrumento de uma pretensa democracia participativa.

 

Nós, gaúchos, lembramos bem de ação semelhante insistentemente praticada aqui por governos do PT e utilizada (com maestria, reconheçamos) pelo ex-prefeito e ex-governador Genro para vendê-la, mundo afora, como algo sério. Mas sabemos que tudo não passava de encenações manipulativas de assembleias pequenas, dominadas por ativistas partidários, deliberando sobre verbas insignificantes e resultados não auditados.

 

Agora o governo centro-petista alardeia que “ao todo, mais de um milhão e 400 mil pessoas participaram ativamente da etapa digital” e que “por meio do Brasil Participativo, o Governo Federal está garantindo [...] que o direito à participação social, previsto na Constituição de 1988, seja de fato uma prática e conquista das pessoas.” (Trechos do Relatório da Plataforma)

 

Uma simples análise numérica põe a nu a quimera governamental: 1, 4 milhão departicipantes corresponde a um percentual de          0,7% da população, parcela absolutamente insignificante para ser apresentada como “a cara do povo brasileiro”, como faz a propaganda oficial. Com todo o respeito aos concidadãos que de bom grado tenham participado do engodo, isso mais parece a máscara de um teatro grego retratando a tragédia nacional, um país de duas caras de 60 milhões de votos. 

 

Tirante o efeito demagógico, resta esperarmos sentados pelo documento que haverá de comprovar quantas das propostas aprovadas pelo BP constarão do Plano Plurianual (PPA) 2024-2027, após tão esmagadora manifestação da vontade popular.

 


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8 de JANEIRO, A NARRATIVA E OS FATOS


Por Percival Puggina      

 

Se por um instante você deixar de ver os acontecimentos do dia 8 de janeiro como são narrados, para analisá-los como registrados pelos próprios olhos, notará enorme diferença.

 

Segundo as instituições, durante um par de horas, a nação periclitou frente ao abismo de uma ditadura fascista. No horizonte imediato, haveria fogo e ranger de dentes porque ali, a olhos vistos, transcorria o “pan demônio”, ou seja, a reunião de todos os demônios, do terrorismo ao golpismo. Felizmente, lhe dizem, a emergência foi debelada com os golpistas presos em ação fulminante e integrada dos bastiões da democracia, do estado de direito e das liberdades públicas.

 

Mil e quinhentas pessoas se envolveram na tal “intentona fascista”. Era uma ensolarada tarde de domingo. Sem banda, carro de som ou megafone, saíram do acampamento junto ao QG e marcharam em direção à Praça dos Três Poderes. Os homens, pela idade média, se militares, estariam quase todos na reserva; as mulheres eram intrépidas e ameaçadoras vovós e tias do Zap. Levavam cadeiras de praia, bandeiras, faixas. Enquanto a República vivia momentos tão decisivos, cantaram hinos, tiraram selfies, perambularam pela vastidão do despovoado local. Era uma praça sem garrafinhas de água e sem pipocas. Apenas um inesperado vendedor de algodão doce veio do nada com sua colorida mercadoria para adoçar o "golpe".

 

Em que pese tudo que se diz sobre os riscos de uma população armada, nenhuma pistolinha sequer foi vista e, menos ainda, ouvida. Cerca de 10% dos golpistas partiram para uma arremetida final contra a desguarnecida e vazia Bastilha brasiliense. Enquanto os demais, desde fora, gritavam “Não quebra! Não quebra!”, eles atacaram as vidraças republicanas e foram adiante, golpeando móveis e bens do patrimônio nacional. Dois dos três prédios invadidos já tinham sido objeto de tais crimes em outras ocasiões.

 

Enfim, pouco depois, um punhado de policiais militares do Distrito Federal surgiu e colocou todos a marchar de volta para a frente do QG onde, na manhã seguinte, embarcariam na segunda ratoeira de sua malsucedida "intentona".

 

A imensa maioria dos que foram à Praça dos Três Poderes era movida por temor. Temiam o braço pesado de um Estado que se agigantava assustadoramente sobre a nação. Acabaram comprovando nas suas vidas as razões do temor que sentiam.


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