Texto do pensador Roberto Rachewsky
Ontem saí de casa atrás do vírus.
Precisava ter uma conversa com ele, cara-a-cara.
Coloquei minha máscara no bolso e me pus a caminhar e correr. Fazer isso com o rosto tapado é muito desconfortável, além de ser desnecessário. Quando me aproximava de alguém, vestia a máscara porque, afinal, os outros não sabem se eu estou ou não infectado. Então, colocava-a para não parecer um agressor desmascarado.
Andei pelo bairro, subi e desci lombas, aumentei e diminui os passos, até que finalmente encontrei o tal Novel Coronavírus (2019-nCoV) sentado num banco da praça.
Sentei-me no banco em frente e fiquei a uma distância razoável porque achei melhor não lhe dar muita intimidade.
Ele me olhou, eu o olhei e a conversa começou.
- Por que os mais velhos? - perguntei.
- Porque Deus quis. - respondeu-me com aparente sinceridade.
- Deus? Deus te mandou aqui para você matar os mais velhos? - perguntei meio incrédulo.
- Não exatamente. Ele me pediu para levar os doentes que já deveriam ter ido, mas que continuam aqui por causa do capitalismo.
- Por causa do capitalismo? O que Deus sabe sobre capitalismo e o que o capitalismo tem a ver com isso? - indaguei.
- Deus vem observando a humanidade esse tempo todo. Ele tem visto que vocês conseguiram transformar o egoísmo natural do ser humano em bem estar para a humanidade. Para enriquecerem, para viverem mais, para viverem melhor, vocês ajudam o próximo. Deus está vendo. Realmente é incrível que uns até ajudam desconhecidos que vivem do outro lado do mundo para o próprio benefício.
- Sim. É isso que tem acontecido, mas o que isso tem a ver com o capitalismo?
- Tudo! Deus é onisciente. Ele sabe. Muitos dos que já deveriam estar na companhia Dele foram impedidos de ir por causa dessa ideologia. Veja só o que fizeram nos últimos dois séculos? Acabaram com a escravidão. Venceram tiranos malévolos. Reduziram 90% da pobreza no mundo. Deram dignidade a bilhões que viviam na miséria na África, na Índia, na China e em outros lugares. Capitalismo.
- Mas porque levar nossos tios, pais e avós só porque estão doentes?
- Porque assim deveria ser a vida. Vocês nascem, crescem, adoecem e morrem. O capitalismo quer acabar com isso. Por qual outro motivo vocês contam com as vacinas, com os equipamentos médico-hospitalares, com os remédios, com as academias de ginástica, com as esteiras ergométricas, com os suplementos alimentares, com a pesquisa nutricional, com a tecnologia para diagnósticos e com os avanços da medicina nas terapias e cirurgias. É o capitalismo impedindo as pessoas de irem para o céu.
- Mas qual o motivo então para você levar alguns jovens?.
- Acidente de trabalho, dano colateral. Mas também para causar um pouco de medo. Vocês mimam demais os pequenos protegendo-os como nunca fizeram.
- E para que serviria o medo?
- Porque eu sou o Novel Coronavírus(2019-nCoV), Deus me deu uma missão. Levar para o céu os velhinhos que já têm uma ou mais doenças que, se não fosse pelo capitalismo, já teriam ido. Então eu resolvi, por conta própria, pedir a ajuda dos governos que também não gostam do capitalismo, como eu. O medo os faria mandar todo mundo ficar em casa. Parar de trabalhar e deixar de produzir o que acabou com a fome e a miséria. Além disso, facilitam o meu trabalho. Sabe como é, todo mundo fechado em casa, o contágio é muito mais rápido. É isso aí. Eu trouxe o medo, os governos vão me ajudar no serviço mandando mais gente para o céu do que eu. Fome, desespero, suicídio, falta de atendimento, e tudo aquilo que o altruísmo dos parasitas acaba produzindo. Você verá. No final disso tudo, os governos terão causado mais danos do que eu.
Me despedi. Coloquei a minha máscara e voltei para casa para escrever esta crônica indigesta.
Por Percival Puggina
Ontem, enquanto pagava a conta no caixa do supermercado, aproximou-se de mim um jovem alto, cumprimentou-me efusivamente e disse: “Muito obrigado!”. Quando perguntei a razão desse agradecimento, voltando a cumprimentar-me disse: “Porque eu sei o preço que se paga por defender nossos princípios e nossos valores”.
Por coincidência, eu acabara de ler matéria na Gazeta do Povo sobre “Como os artistas conservadores sobrevivem numa Hollywood dominada por progressismo”. Na capital mundial do cinema, isso afeta de modo especial os conservadores cristãos. O conteúdo da reportagem, que pode ser lida aqui, trata da ascensão e queda de astros como Jim Cavaziel, cujas oportunidades despencaram após haver interpretado Jesus em “A paixão de Cristo”. Relata, também, os casos de Mel Gibson e Mark Wahlberg, igualmente deletados em virtude de suas posições religiosas e políticas. Ambos tiveram que financiar com recursos próprios o recém-lançado filme sobre a vida do padre Stu. Nenhum estúdio se interessou pelo tema.
Em Hollywood, funciona um macarthismo de esquerda que fecha as portas para conservadores, cristãos ou eleitores declarados do Partido Republicano, em tudo semelhante ao que se vê no setor cultural brasileiro, vestido da cabeça aos pés no brechó das ideologias desastradas.
Tenho observado que filmes baseados em fatos reais são destacados pelo público nas produções que rodam em plataformas tipo Netflix e Amazon Prime. As pessoas se interessam por relatos que sejam produto da realidade humana. Eis por que, tendo lido muito sobre história da Igreja, nunca entendi o desinteresse dos produtores em relação às vidas de grandes cristãos e santos da Igreja. Fazem mal intencionado muxoxo para um reservatório quase inesgotável de existências exemplares, recheadas de drama e paixão, coragem e sacrifício, êxitos e fracassos cujo fio condutor é a fé assumida por seus personagens.
O padre Stu, retratado no filme de Wahlberg, foi um boxeador violento, agnóstico e mulherengo que, após um acidente grave, converteu-se, mudou de vida e virou padre. Há muitíssimo a contar sobre grandes cristãos além de São Francisco de Assis. Quantos filmes seriam proporcionados pela história de pessoas como Santo Agostinho e São Tomas de Aquino, dois dos homens mais sábios e geniais da história humana! Ou São Bernardo de Claraval – meu santo de devoção – que tanto influenciou o Ocidente no século XII. Ou o cientista Santo Alberto, que escreveu com precisão sobre todo o conhecimento de seu tempo. E as mulheres? Há bem mais do que Joana D’Arc! Lembro Santa Helena, a mãe de Constantino; mártires como Santa Luzia; mulheres, como Santa Catarina de Siena e Santa Catarina da Suécia, que ajudaram a superar o exílio de Avignon; e mais Santa Tereza de Jesus, Santa Madre Tereza de Calcutá e tantas outras. Tantas, aliás, que as omissões comprometem esta lista.
O moço que me surpreendeu com seu agradecimento no supermercado, exagerou meus méritos. Mas tinha uma visão bem clara do que se paga, perante setores de grande influência, por andar para frente e para o alto, na contramão do progressismo rasteiro, orgulhoso de seus fracassos econômicos, sociais, políticos, estéticos e morais.