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O TRIUNFO DA ESPERANÇA - 21.11.23


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Com uma inflação de 140%, a Argentina votou, com sólida maioria, no anarcocapitalista, como ele mesmo se autodefine, Javier Milei (52), economista, solteiro, deputado nacional de primeiro mandato, líder do partido LLA (La Libertad Avanza). As propostas de Milei são baseadas na Escola de Chicago. Vários doutores egressos dessa Escola fazem parte do núcleo formulador do plano inicial de governo, como Carlos Rodríguez e Roque Fernández, todos com experiência prévia de governo, da época de Carlos Menem, outro presidente que tentou dolarizar o meio circulante. 

Milei também diz pretender dolarizar a economia e, para isso, vem estudando o esquema adotado pelo Equador. Visa a eliminar o Banco Central (ou minimizar seu papel). Quer desregulamentar radicalmente a economia, unificar os inúmeros tipos de câmbio (até desnecessário, caso dolarize) e abrir a economia (seguindo os  exemplos dos vizinhos Paraguai e Uruguai, isolando o Brasil no Mercosul). Fala ainda em privatizar o sistema de ensino (com uso de cheques de auxílio) e adotar uma previdência de capitalização. Quer privatizar e liberalizar mercados. A agenda é conhecida e nada tem de original, salvo pelo fato de que o povo terá votado em Milei apenas como castigo duro aos peronistas, mas, nem por isso, se deduz que a população aceitaria de bom grado o “choque liberal” contido nas propostas de Milei e na cabeça de seus assessores.

 

O novo presidente vai conseguir? É a pergunta de mais difícil aposta. Um programa liberal tem como pressupostos, quase nunca mencionados, (1) conforto em reservas (2) ampla maioria parlamentar (3) população disposta a sacrifícios no curto prazo e tempo de espera por melhores resultados. Não cremos que a situação atual da Argentina preencha qualquer dessas condições. Altamente endividada, deve satisfações ao velho FMI e aos bancos, que vão se meter na formulação interna. A maioria parlamentar de Milei é instável e depende de articular com vários outros partidos. E o tecido social argentino é entranhado de peronistas e saudosistas de todos os tamanhos. Muito dependerá também do comportamento da inflação até a virada do ano. Uma curta hiperinflação é possível nos próximos três meses. A sorte de Milei é que sua posse é para já, em 10 de dezembro. Pode controlar o desastre final.

 

No discurso da vitória ele prometeu “eliminar o Estado onipresente e empobrecedor e colocar um fim ao poder das castas políticas e, com isso, dar à Argentina a posição de uma potência mundial”. O Brasil, nesse ponto, deveria comemorar porque não precisará mais perder tempo e recursos com a articulação do bloco Mercosul, esquisito e disfuncional. A onipotência platina se deslocou do futebol para a política. “A prova do pudim”, como afirmava Milton Friedman, mentor espiritual de Milei, “está  em comê-lo”. Só na prática se saberá se Milei terá a paciência de Messi em tentar várias vezes, muito antes de o conseguir , finalmente, a sua copa mundial. O mais difícil será dolarizar a economia argentina sem dólares. Uma coisa é certa: a nação argentina não terá vida fácil nos próximos meses. O nível de ebulição social aumentará. O alarmante nível de pobreza não irá recuar por milagre nem discurso. Falando de probabilidades, para aqui não ficarmos também só na palavra,  consideramos - tudo somado – que as chances de Milei sobreviver ao mandato e chegar ao fim como um candidato competitivo à reeleição, hoje não  passam de uma em cinco (20%). Como diria Roberto Campos (o velho)  Javier Milei “é o triunfo da esperança sobre a experiência”. Os corajosos hermanos , desta vez, pagaram para ver.