Por Percival Puggina
Durante a campanha eleitoral do ano passado, os donos da eleição consideravam conduta abominável mencionar o passado do candidato de esquerda. Agora isso acabou. Então, lembremos como estava o Brasil na transição de 2019.
Nosso país precisou ser alavancado da pior recessão de sua história. Fora longa e falante, em Curitiba, a fila para o confessionário que atendia pecados de corrupção ativa e passiva. A cadeia produtiva da Educação, porta de entrada para o desenvolvimento social, estava controlada pela mão de ferro da vanguarda do fracasso.
Os longos anos de petismo haviam corroído o país. Importantes organizações da sociedade, infiltradas, perderam o rumo e o prumo. Pense nas consequências, até hoje, do alinhamento político da OAB, da ABI e do jornalismo, da CNBB, das ONGs. Pense no desastre qualitativo do ambiente cultural do país e na atual perseguição à liberdade de expressão de seus antagonistas. Pense no controle a linguagem e na ideologia de gênero. Pense na orquestração do jornalismo brasileiro e nas questões sobre as quais silencia. Onde não era desastrosa e nítida a atuação do petismo militante?
Abundante e longa experiência! Ela mostra que onde o petismo se instala, faz estragos difíceis de sanar.
A volta do petismo ao poder explicita a essência do reacionarismo de esquerda. Em todos os setores nos quais se percebe alguma atividade do governo, o que se vê é um retorno às condições de 2018 e, mais nítido ainda, àquela campanha eleitoral. Lula engrenou sua marcha à ré e está disputando aquele pleito, acompanhado por toda sua parceria. Bolsonaro é seu fetiche.
Qual a estratégia por trás dessa atitude? Ela consiste em descaracterizar a indispensável oposição, inerente aos regimes democráticos, aplicando a ela surradas etiquetas e substituindo a palavra oposição por bolsonarismo.
Veja como isso funciona na prática. Hoje, 04 de setembro de 2023, leio no Estadão uma coluna sobre o suposto “risco de confusão” previsto para o dia 7, afirmando estar ele “relacionado à forma como os bolsonaristas pretendem lidar com a data, oito meses depois do fracasso da intentona do dia 8 de janeiro”.
Observe como tal informação prestada a serviço do alinhamento político do autor, liga a ideia de oposição à pessoa de Jair Bolsonaro, não por acaso personagem fora do páreo eleitoral de 2026. Para a militância de esquerda, não há oposição popular às sandices petistas, mas golpistas bolsonaristas promotores de uma “intentona” – a intentona do algodão doce – numa tarde de verão tropical, enquanto as guardas, polícias e tropas ressonavam nas suas casernas.
Essa incapacidade de fazer uma reflexão sobre as fantasias que repetiram à exaustão, sobre as tolices que afirmaram, sobre o mal que, com elas, causaram às vidas de tantos ganha marca registrada nos anais da história do jornalismo brasileiro.
Jamais calar; jamais consentir.
Por Percival Puggina
Mas é infâmia de mais!... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares.
Castro Alves, Navio Negreiro
As perguntas que farei perturbam meu sono e são comuns ao cotidiano de milhões de cidadãos brasileiros. Como não ser assim, se a nação se dilacera e degenera, o sectarismo se empodera, a burrice impera, o crime prospera, a política se adultera, a Têmis se torna megera e os omissos somem ou dormem? Só eu acordo nas madrugadas pensando nesses motivos pelos quais 41% dos brasileiros (1), entre os quais 55% dos nossos jovens (2), só não desistem do Brasil por não terem condições financeiras de arrancar as folhas de um passado sem esperança e redigir seu futuro noutro lugar?
Os responsáveis por isso conseguem dormir? A nação se inquieta pela apatia de representantes omissos que tanto lhe custam. Como é insignificante, aliás, a relação custo/benefício, somados o mal que fazem e o bem que deixam de fazer! Como conciliam o sono e a culpa? A que destroços, a cupidez e a conveniência pessoal em condomínio com a injustiça reduziram tais almas? Elas simplesmente somem dos plenários quando, da tribuna, algum de seus pares lhes cobra pela apatia e a destruição das instituições!
No entanto, a realidade que vemos é sinistra. O Estado se agiganta perante a sociedade a que deveria servir. A juventude recebe uma educação de qualidade vexatória, últimos lugares nos rankings internacionais do PISA e da OCDE; a cultura nacional está degradada e o próprio QI dos brasileiros, por falta de estímulos, pode estar em regressão. Há décadas, os discípulos de Paulo Freire controlam e tornam cada vez mais sectária a educação nacional, transformando-a numa fábrica de ignorantes miseráveis, com as bênçãos do Estado. Quem escapa dessa máquina de moer cérebros prospera e vira réu no tribunal da desigualdade!
Resultado: chegamos a setenta e cinco milhões de seres humanos dependendo da assistência social do Estado. Do Estado? Sim, sim, o ente causador de todo esse mal aceita sem qualquer constrangimento posar de benfeitor. A pergunta que poucos fazem é: “Se o culpado não for o Estado, quem haveria de ser?”. Certamente a culpa não pode ser imputada a quem decide investir, correr riscos, gerar empregos, pagar salários e ser extorquido com impostos, taxas, contribuições. Essa pergunta derruba século e meio de mentiras sobre os sucessos do socialismo.
Eu quero o meu país de volta! Eu o vi antes, imperfeito, mas humano. Não era uma Suíça, mas era um país amável. O Brasil tinha boa reputação. Hoje é um país de má fama. Eu o quero moderno, mas com aqueles bens do espírito e naquele ânimo nacional que se comoveu e se moveu solidário quando as águas cobriram o abismo no Rio Grande do Sul. Eu quero de volta a energia inusitada que, durante oito anos, saudoso do “meu Brasil brasileiro, mulato inzoneiro”, me levou para cima dos carros de som a verberar corruptos, defender a liberdade e resistir à perdição de uma nação.
Impossível não evocar os versos finais de Navio Negreiro, esbravejados por Castro Alves, se vejo avançar o poder da Casa Grande, a se refestelar em folguedos e extravagâncias, enquanto garroteia direitos de cidadãos outrora livres.
(1)
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/polarizacao-politica-41-dos-brasileiros-mudariam-de-pais-se-pudessem-diz-quaest/
(2)
https://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2022/08/17/55percent-dos-jovens-brasileiros-deixariam-o-pais-se-pudessem-diz-pesquisa.ghtml