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JUSTICEIROS SOCIAIS - 20.03.23


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Por Alex Pipkin

   

    Não há novidade quanto ao fato - observe que fato é algo cuja existência é inquestionável - de que no exercício da performance política sempre se mentiu, por meio do talento e da persuasão de grandes oradores.

    Persuadir significa fazer com que alguém se convença de algo, utilizando-se de argumentos válidos e/ou manipulando através de falácias e de mentiras comprovadas.

    Porém, na presente era da pós-verdade, a mentira definitivamente não tem pernas curtas.

    Se no passado existia a encenação da mentira trajada com o véu da verdade, hoje isso parece ser desnecessário, bastando-se, trivialmente, criar realidades paralelas.

    Na atualidade, a falsidade penetra na massa do sangue humano com extrema destreza, auxiliada especialmente pelo fenômeno da disseminação explosiva nas redes sociais, pela hiperpolarização política e o correspondente vírus da dissonância cognitiva.

    Tolos isentos de massa crítica praticam intensamente o esporte favorito da propagação da irresponsabilidade e do moderno cancelamento. Ironicamente, quando confrontados com os fatos e as evidências corretas, esses ainda dobram a aposta na falsidade.

    A idiotice, a bem da verdade, possui comprovação científica na psicologia humana.

    As pessoas passam a acreditar em mentiras e escolhem dados para reforçar e apoiar suas visões destorcidas. A partir daí, elas não se importam se suas “verdades” têm relação com a realidade dos fatos.

    O Prêmio Nobel Daniel Kahneman, denomina esse acontecimento como “facilidade cognitiva”, operada por atalhos mentais que servem de influências automáticas, fazendo com que os indivíduos economizem tempo e energia, forçando menos o trabalho cerebral.

    Além de não ter pernas curtas, a mentira não tem visão política exclusiva, ocorrendo tanto à esquerda quanto à direita.

    Evidente que o sentimentalismo barato em oposição a prudência e a responsabilidade pela apuração da veracidade dos fatos me incomoda, embora, pela lógica da realidade, eu saiba que a mentira continuará reinando de forma protagonista.

    Lembro do caso de um homem negro, que foi espancado e morto por dois homens brancos no Carrefour em Porto Alegre. A coloração é importante ser ressaltada. Naquela circunstância, um tsunami de postagens nas redes, incluindo a de um líder religioso, repudiava o racismo, até mesmo o “estrutural”. Na ocasião, comentei que achava fundamental e necessário se aguardar à apuração dos fatos.

    Bingo! Após profundas investigações, a polícia conclui, baseado em fatos e evidências, que o racismo só existia nos grupos de indivíduos que fortaleciam as crenças - enganosas - uns dos outros.

    Agora o “fantástico” caso do trabalho análogo à escravidão (o que é isso?) na Serra Gaúcha.

    Multidões de sinalizadores de virtude ergueram a voz - e outras coisas - para propagandear o precipitado “não tome vinho da Serra Gaúcha”.

    Alto lá! A Polícia Federal acaba de informar que não foram encontrados indícios de ligação de vinícolas da Serra ao trabalho análogo à escravidão.

    Verdadeiramente, sinto-me com vergonha dos gaúchos que imprudentemente queimaram a foto de vinícolas centenárias, geradoras de emprego, de renda e de riqueza.

    Tudo se transformou em política, ou melhor, em oportunismos e politicagens.

    O que menos se enxerga são a prudência, a análise do contraditório ao pensamento mágico e o respeito e a coerência isentas de paixões políticas.

    Nas redes sociais, câmaras de eco as narrativas nobres e cheias de “boas intenções”, mesmo que os fatos e as evidências comprovem que os sentimentos são distintos da verdade, o coração embriagado de ideologia domina.

    Sou realista, essa trágica situação persistirá.

    O ambiente macro só fomenta os vícios, e muitas pessoas deixaram o cérebro e o pensamento crítico no armário.

    O momento é o de “andar para trás”!

    Os “justiceiros sociais” tomaram conta e eles são muitos.

    Desse modo, claro, os sentimentos e o lado negro do sentimentalismo sempre superam os fatos, que governam livres, leves e soltos, ou com pouca, mas muito porca resistência.

    Triste. Mesmo quando as mentiras são desmascaradas, a verdade verdadeira aparece desbotada.