por Felipe Camozzato
Em uma das eleições mais polarizadas da história recente do Brasil, a dualidade Lula x Bolsonaro levou mais de 35 milhões de brasileiros a se ausentarem das urnas ou anularem seus votos. Mas afinal, por que estes brasileiros não quiseram votar? Em um universo onde a diferença entre Lula e Bolsonaro ficou na casa dos 6 milhões de pessoas, quanto essas abstenções poderiam implicar novos rumos para o país?
Muitos eleitores estão cansados das brigas entre os candidatos e seus militantes. Outros, descrentes que há diferença entre um e outro - rejeitando ambos. E há ainda quem não veja na política a esperança de mudanças reais para o Brasil. Porém, cabe resgatar algumas particularidades importantes para qualificar o juízo do eleitor brasileiro e a sua participação no pleito, e é essa a minha missão com este artigo.
Vou resgatar aqui um trecho da trajetória de Hugo Chávez na Venezuela, nos idos de 2002, e os desdobramentos da política chavista dos anos seguintes. Reeleito presidente no ano 2000, Hugo Chávez sofreu uma tentativa de golpe em 2002 - rechaçada pela comunidade internacional, e também pelo então presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso. Retornou ao poder dias depois, e propôs um referendo para consultar sobre sua permanência no poder e sobre o legislativo do país.
A oposição resolveu boicotar o referendo, na tentativa de deslegitimar o pleito, e acabou entregando ao chavismo praticamente todo o poder legislativo - além do executivo. O PSUV, partido de Chavez, aproveitou a oportunidade e avançou na consolidação da esquerda e de seus partidos em torno de si, e construiu uma hegemonia política que descambou para profundas alterações nas leis e na constituição. Com poderes totais, as instituições venezuelanas foram sendo tomadas e modificadas para atender aos desejos do governante, e até mesmo a bandeira do país fora modificada - invertendo a figura do cavalo no brasão que apontava para a direita, e que hoje aponta para a esquerda.
Anos mais tarde, o chavismo garantiu para si o controle total da máquina pública, perseguiu opositores, prendeu e torturou manifestantes, calou a imprensa e instaurou - via seu sucessor Maduro - uma ditadura socialista no país.
A miséria tomou conta dos venezuelanos, ano após ano. A comunidade internacional assistiu com aflição e com notas de repúdio aos crimes contra a humanidade sendo cometidos, e a democracia venezuelana afundou. Hoje, o país é o mais pobre da América Latina (onde já estivera dentre os mais ricos), está profundamente entregue ao chavismo e suas milícias, e parte significativa da população fugiu para o exterior. Roraima, divisa com o Brasil, é porta de entrada de imigrantes venezuelanos, e informou nas urnas brasileiras no último domingo o quão nefasta é a situação do país por quem vive essa realidade próxima: 69% dos eleitores votaram em Bolsonaro, e apenas 23% em Lula.
Voltemos ao Brasil. Há inúmeras críticas a Bolsonaro e a sua atuação, declarações e medidas populistas. Há, também, críticas e denúncias de corrupção contra seu governo e filhos. Porém, não há tentativas concretas de alteração da constituição, nem perversão das instituições para tomada de poder absoluto e hegemônico. Os poderes seguem independentes, a justiça segue tendo suas decisões cumpridas, e o desejo das urnas e da população segue sendo respeitado.
Lula, por outro lado, já atuou para comprar o parlamento via Mensalão, já tentou regular os meios de comunicação para censurar adversários, e concretizou o maior escândalo de corrupção da história do país com fins a obter hegemonia política em torno de seu nome e de seu partido. Permeou os colegiados do Supremo com indicados políticos que vem violando nossa constituição, sob omissão covarde do Senado, aglutinou os partidos de esquerda em torno de seu projeto de poder, e construiu uma narrativa falsa de inocência por uma clara manobra jurídica que lhe garantiu a saída da prisão e a retomada dos direitos políticos. Além disso, sob o governo Dilma, o PT entregou aos brasileiros a pior recessão desde a redemocratização, classificou um processo legal e democrático de impeachment como golpe, e conquistou a simpatia de personalidades e imprensa através de acenos a verbas e benefícios futuros a serem concedidos.
Portanto, estamos diante de uma encruzilhada importante no país. Abaixo de muito ruído, fake news e abusos jurídicos de quem deveria preservar nossa Carta Magna, o eleitor se encontra confuso e desesperançoso com o futuro - e com a infeliz escolha do "menos pior". Esse, porém, é o cenário que interessa a Lula e ao PT. Quando tudo parece estar tão ruim, alguém como ele passa a se tornar uma opção razoável para o eleitor. Com promessas falsas, e um plano de governo que sequer é apresentado para que o eleitor tome a decisão guiado pelo sentimento de rejeição, restam apenas as manchetes que reduzem o pleito a um universo de fofocas da Revista Tititi.
Por isso, é hora da participação do cidadão para defender sua constituição e suas instituições. É hora de assumirmos a responsabilidade de não entregarmos o país a quem tenta pervertê-lo, e de sermos ativos após a eleição para fiscalizar quem for eleito. É hora do eleitor ir para as urnas e confirmar o voto no 22 para defender a democracia e a liberdade dos brasileiros - e rejeitar quem tem em Hugo Chávez e Nicolás Maduro as suas referências.
Por Percival Puggina
Ministros do STF gostam de se apresentar como membros do poder mais zeloso pelo bem do país e pela democracia. No entanto, abriram a torneira dos recursos públicos para o financiamento das campanhas eleitorais e partidos floresceram no deserto das ideias. No entanto, também, impediram a aplicação da cláusula de barreira quando ia começar a valer na eleição de 2006.
Pela confluência desses dois vetores, o Congresso Nacional tem, hoje, 22 bancadas! Pode parecer inusitada a relação de causa e efeito, mas é também por eles que a sociedade custeia, hoje, quatro dezenas de ministérios! Atraídos por cargos, verbas públicas e espaços de poder, partidos sem rosto e com nomes impróprios se transformaram em estabelecimentos dedicados ao business da corretagem do apoio político-parlamentar ao governo.
Foi grotesco, foi indecoroso, mas todos pudemos assistir à forma como em poucas semanas, uma “consistente maioria” conservadora, ou liberal, ou de direita, ou de centro direita, eleita e proclamada como tal em 2022, bandeou-se de mala e cuia, como dizemos aqui no Rio Grande do Sul, para o calor e o sabor do assado governista, onde toda a picanha é consumida ali mesmo, na beira do fogo, se me faço entender.
Recentemente e em boa hora, foi criado um site que cidadãos de bem e os eleitores com cotidiana repulsa ao noticiário nacional deveriam manter registrado entre os favoritos no seu computador ou em lugar de fácil acesso de seu celular. Anote aí:
https://placarcongresso.com/pages/partidos.html
Essa verdadeira preciosidade presta serviço valioso à memória e à informação dos eleitores. Contém, por parlamentar, por partido e por estado da Federação, dados de assiduidade ao plenário e de votos concedidos ao governo e à oposição nas deliberações da Câmara dos Deputados.
O site é de muito fácil manuseio e consulta. Com dados de 83 deliberações em que o governo indicou à sua base orientação favorável ou desfavorável, esse site permite identificar a posição governista ou oposicionista de cada deputado. A partir desses registros, observa-se que dos 22 partidos, apenas dois: PL e Novo, foram decididamente oposicionistas! Todos os outros 20 deram mais votos ao governo do que à oposição. Entre os 513 deputados, não chegou a uma centena o número dos que votaram contra o governo em mais da metade dos projetos nos quais este indicava sua posição. Por fim, descobre-se que apenas as representações de três estados – Santa Catarina, Mato Grosso e Roraima – foram oposicionistas.
Maus políticos e maus partidos têm grande estima por eleitores desinformados e omissos. Prestigiam a ignorância e precisam da mediocridade.