Por Darcy Francisco Carvalho dos Santos
Um assunto em que há uma total desinformação é o acordo da dívida com a União em 1998. No que tange à sua renegociação pelo Regime de Recuperação (RRF), a crítica quanto a suas exigências e imposições é plenamente compreensível, assim como o comprometimento da receita com as prestações, especialmente, entre 2031 e 2040. Mas daí a dizer que a dívida já foi paga vai uma enorme diferença. Num financiamento qualquer, as prestações devem ser pagas integralmente, caso contrário a parte não paga vai para o saldo devedor, incidindo novamente juros e correção. Com isso, a dívida nunca se acaba. É o que acontecia com os financiamentos do antigo BNH. Quando do acordo com a União em 1998, para que as prestações ficassem menores, foi estabelecido um limite de pagamento de 13% da receita líquida real (RLR), um proxy da RCL.
No entanto, ficaram dentro desse limite cinco operações anteriores a que se somou o refinanciamento da dívida fundada do IPE, em 2001. A própria RLR foi reduzida em torno de 20% em 1999, que retroagiu a 1998, por pressão dos governadores da época. Além disso, duas maxidesvalorizações cambiais elevaram a variação do IGP/DI para 35% acima da variação do IPCA, entre 1998 e 2018. Nunca houve preocupação com o saldo devedor, só com as prestações. Todos esses fatos durante 16 anos, entre 1998 e 2013, formaram resíduos, ou parcelas de prestações não pagas, numa média de 30%, aproximando-se de 50%, ultrapassando essa marca em dois anos, em 1999 e 2000. As causas de seu crescimento decorreram de dois principais fatores: déficits primários entre 1970 e 1998, numa média de 15% ao ano, por culpa do Estado; e, por culpa da União, os altos juros praticados por ela, principalmente na década de 1990, visando conter a inflação, após a implantação do Plano Real.
A dívida antes do acordo de 1998, que crescia 12,5% ao ano, passou a crescer 0,6% após. Devia ter decrescido, mas não ocorreu devido aos resíduos citados. As reformas feitas, ao longo do tempo reduzirão muito do crescimento vegetativo da folha, que sempre anulou os incrementos da receita, mas têm razão aqueles que temem as implicações futuras da adesão ao citado regime. Eu também temo.
Deixo uma pergunta aos adversários do RRF: qual a solução que oferecem, se liminar que mantém os pagamentos suspensos, certamente cairá se não houver adesão a ele?
Por Percival Puggina
Ontem, enquanto pagava a conta no caixa do supermercado, aproximou-se de mim um jovem alto, cumprimentou-me efusivamente e disse: “Muito obrigado!”. Quando perguntei a razão desse agradecimento, voltando a cumprimentar-me disse: “Porque eu sei o preço que se paga por defender nossos princípios e nossos valores”.
Por coincidência, eu acabara de ler matéria na Gazeta do Povo sobre “Como os artistas conservadores sobrevivem numa Hollywood dominada por progressismo”. Na capital mundial do cinema, isso afeta de modo especial os conservadores cristãos. O conteúdo da reportagem, que pode ser lida aqui, trata da ascensão e queda de astros como Jim Cavaziel, cujas oportunidades despencaram após haver interpretado Jesus em “A paixão de Cristo”. Relata, também, os casos de Mel Gibson e Mark Wahlberg, igualmente deletados em virtude de suas posições religiosas e políticas. Ambos tiveram que financiar com recursos próprios o recém-lançado filme sobre a vida do padre Stu. Nenhum estúdio se interessou pelo tema.
Em Hollywood, funciona um macarthismo de esquerda que fecha as portas para conservadores, cristãos ou eleitores declarados do Partido Republicano, em tudo semelhante ao que se vê no setor cultural brasileiro, vestido da cabeça aos pés no brechó das ideologias desastradas.
Tenho observado que filmes baseados em fatos reais são destacados pelo público nas produções que rodam em plataformas tipo Netflix e Amazon Prime. As pessoas se interessam por relatos que sejam produto da realidade humana. Eis por que, tendo lido muito sobre história da Igreja, nunca entendi o desinteresse dos produtores em relação às vidas de grandes cristãos e santos da Igreja. Fazem mal intencionado muxoxo para um reservatório quase inesgotável de existências exemplares, recheadas de drama e paixão, coragem e sacrifício, êxitos e fracassos cujo fio condutor é a fé assumida por seus personagens.
O padre Stu, retratado no filme de Wahlberg, foi um boxeador violento, agnóstico e mulherengo que, após um acidente grave, converteu-se, mudou de vida e virou padre. Há muitíssimo a contar sobre grandes cristãos além de São Francisco de Assis. Quantos filmes seriam proporcionados pela história de pessoas como Santo Agostinho e São Tomas de Aquino, dois dos homens mais sábios e geniais da história humana! Ou São Bernardo de Claraval – meu santo de devoção – que tanto influenciou o Ocidente no século XII. Ou o cientista Santo Alberto, que escreveu com precisão sobre todo o conhecimento de seu tempo. E as mulheres? Há bem mais do que Joana D’Arc! Lembro Santa Helena, a mãe de Constantino; mártires como Santa Luzia; mulheres, como Santa Catarina de Siena e Santa Catarina da Suécia, que ajudaram a superar o exílio de Avignon; e mais Santa Tereza de Jesus, Santa Madre Tereza de Calcutá e tantas outras. Tantas, aliás, que as omissões comprometem esta lista.
O moço que me surpreendeu com seu agradecimento no supermercado, exagerou meus méritos. Mas tinha uma visão bem clara do que se paga, perante setores de grande influência, por andar para frente e para o alto, na contramão do progressismo rasteiro, orgulhoso de seus fracassos econômicos, sociais, políticos, estéticos e morais.